domingo, 18 de maio de 2008

BACALHAU DO VALE

Eram aqueles uns lugares e uns tempos de muito atraso. Não admira,pois,que alguém de longe tivesse de ser esclarecido. E foi o que aconteceu uma ou outra vez.
Oiça lá,o que é que está para aí a comer? Tratava-se de um conduto que lembrava o chouriço,quanto à forma,mas de cor branca. Nunca viu? Sabe,é que o merceeiro é muito desconfiado,e lá pensou que eu lhe podia pregar o calote. Os tempos vão maus. Isto,a bem dizer,não passa de toucinho,e de fraca qualidade. Defende-se,e eu sempre vou comendo alguma coisa.
Então,o que foi hoje a dieta? Olhe,hoje calhou ser sopas de pão com bacalhau do vale. O senhor Joaquim está a mangar comigo? Eu? Nunca me atreveria. Pois foi isso mesmo que ouviu,nem mais,nem menos. O pão,sabe muito bem o que é,visto também o comer. Só não conhece é este bacalhau,pois não é destas bandas. Sabe,o verdadeiro está muito caro para a nossa bolsa. Assim,inventámos este,que é uma ervinha que há aqui nas redondezas em abundância. E lá nos vamos iludindo.
Onde é que se pode matar a sede,que está um calor dos diabos? Está ali a ver aquele poço? Lá dentro há muita água. E ela é boa para uma pessoa a beber e não ficar doente? Já se vai ver. Pode bebê-la quanta quiser,que é o que eu vou fazer. É que lá dentro há rãs. Como elas estão ali bem vivas,não as ouve a falar?,a nós não nos há-de fazer mal.

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