domingo, 11 de maio de 2008

POR UM FIO

Já dera notícia de si,ainda ela vinha ao longe. É que o ar de abandono que a envolvia contagiava tudo e todos. Caminhava muito devagar,arrimada a um bordão. O cabelo branco despenteara-se.
Procurava uma casa onde acudiam a velhos como ela. Tinham-lhe dito que era para ali. Mas o ali era muito grande e ninguém sabia. Apenas um vago talvez lá mais adiante,naquele largo,está a ver? A atenção que acabara de receber parecia tê-la animado e dar-lhe forças para continuar.
E lá prosseguiu no seu arrastar penoso,com a esperança de dar com a casa onde acudiam a velhos como ela. Talvez a encontrasse,no tal largo.
Teria gostado que a tivessem acompanhado,que a tivessem levado,porventura num transporte,que estaria muito cansada,mas ninguém se lembrou. Tinham a sua vida. Ficaram com muita pena dela,mas só isso,o que era muito pouco, ou nada.
E ainda há quem diga que o Estado-Providência está por um fio,tem os dias contados,e isto vindo de cantos que não lembrariam ao diabo. Ainda há quem queira que o Estado -Providência se vá. Para quê? Para se voltar a ver aquelas intermináveis bichas à porta de casa ricas ou o à porta dos quartéis? Tenham paciência,que a vida tem destas coisas,fatalidades. E a vida são dois dias,dois dias que depressa passam. Lá no céu terão a recompensa de todo esse penar.

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