quinta-feira, 15 de maio de 2008

CHÃO SAGRADO

São apenas uns palmos de terra. Vêm todos eles de um tetravô. Que a sua alma descanse em paz,pois têm-me dado um grande jeito. Nem todos os pedaços que amanho têm esta origem. Aquele além ia-me custando os olhos da cara. Não descansei enquanto não pus nele a minha marca. As horas que eu e a minha mulher gastámos a fazer contas e a refazê-las,sonhando ao mesmo tempo. Mais um ano e será nosso. E assim conteceu. Mas não foi só aquele. Lembrei-me de o citar porque é o melhor. Não é por ter sido eu a comprá-lo,mas está ali um belo tracto. É pena serem todos pequenos,mas juntos ,dava para ter uma boa quinta.
Têm-me dito que devia trocar alguns,de maneira a formarem-se parcelas de tamanho mais azado para os granjeios. Sempre que me falam nisso,fico fora de mim. Eu,abandonar o chão sagrado dos meus antepassados,e mais o que acrescentei com,pode dizer-se,sangue,suor e lágrimas? Nunca,enquanto viver. E os meus filhos,estou seguro disso,lêem pela mesma cartilha. Além do mais,onde é que se iriam encontrar terras como aquelas que nós temos? Não há melhor aqui nas redondezas. Só as carradas de estrume que eu lá tenho espalhado,para não falar dos químicos,que me têm custado bom dinheiro.Desentranham-se em milho e batata que é um gosto. E a qualidade do vinho? Se produzisse mais,faziam bicha aí à porta.

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