quarta-feira, 28 de maio de 2008

UM PRETEXTO

O contraste era evidente. Ele,alto,para o forte,com mais de quarenta. Ela,baixinha,um tanto gorda,à roda dos vinte. Podiam ser pai e filha. Ela entrou e ficou encostada à janela,de pé. Ele aproximou-se,do lado de fora,e teve de se inclinar para se beijarem. Tinha serviço na segunda-feira,não sabia se no Algarve ou no Norte. Depois,digo-te. É que podíamos ir os dois. Arranjavas um pretexto,mas temos tempo.
O contraste ganhava novas dimensões. O comportamento dele não condizia com o dela. Ele,bem disposto,descontraído,falando alto. Ela,acanhada,falando baixo.
O comboio afastou-os. Quando saiu,ia de cabeça a olhar o chão,ao peso não se sabe de quê. Quase a correr,foi comprar tabaco. Talvez o fumar a levasse a cozinhar uma desculpa para a longa ausência. Que inventaria nas ocasiões seguintes? A cabeça,pequena para corpo tão avantajado,manteve-se sempre inclinada,enquanto esteve ali à vista.

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