sexta-feira, 30 de abril de 2010

PREÇO DO MILHO,PRODUÇÃO DE ETANOL, IMPORTAÇÕES,...

http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=20602013&sid=a.CHntCuEOAU

A PROPÓSITO DA AGRICULTURA ORGÂNICA

Como alimentar o Mundo com a Agricultura Orgânica, ou que lugar tem a Agricultura Orgânica no Mundo,quando a população se está aproximando dos 7 mil milhões,quando uma boa parte dela tem o arroz como base do seu sustento,quando é elevada a presença de solos degradados,pobres em matéria orgânica e nutrientes essenciais,quando as necessidades em alimentos são satisfeitas,em parte considerável,com recurso a adubos químicos,quando é imperioso produzir barato,face à triste realidade da pobreza,da miséria mesmo?

CARBONO INCOMPLETAMENTE COMBUSTADO

http://thingsbreak.files.wordpress.com/2009/07/a-black-carbon-mitigation-wedge.pdf

VERSOS E FLORES

O moço tinha aspirações e um pai avisado. Mal acabou o curso,fez aquilo que ele lhe apontara. Aqui toda a gente nos conhece e não será por estes sítios que terás o que ambos queremos. Vai para longe,adocica a voz e vê se arranjas coisa de jeito. E trata também de conseguir um bom padrinho. Sem perder muito tempo,só aquele para se enfarpelar capazmente,instalou-se, com armas e bagagens,em local de nome,ou seja, um procurado por gente rica,sobretudo gente achacada. Alguns traziam filhas em idade de casar,que era o que importava. Podia acontecer que naqueles ambientes românticos,de parques frondosos e de laguinhos,surgisse,como por encanto,o príncipe encantado.E foi o que sucedeu a uma delas. Ele era bem parecido,tinha ar de gostar de versos e de flores,e,além disso,conhecimentos para tratar dos muitos teres,que bem necessitados estavam,alás,de alguém à altura. O rapaz agradou,igualmente,à mãe,o que era fundamental. E assim começou uma bela carreira,enfeitada de muitas benesses e honrarias. Para isso contribiuiu muito,o que era de prever,o apoio,nunca regateado,de um bom padrinho. Vale,de facto,muito a pena ter um pai avisado.

ESGOTADOS

As energias que se consumiam em coisas de somenos. Depois,quando chegavam as coisas sérias,estavam esgotados.

ESQUECIDOS

Era grande a preocupação que ia por lá. É que eram vários os necessitados,pelo que alguns arriscavam-se a ficar esquecidos.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

HIDROGÉNIO A PARTIR DA ÁGUA

http://www.nature.com/nature/journal/v464/n7293/edsumm/e100429-07.html

ANTÓNIO RAMALHO,1858-1916 - CAMÕES LENDO OS LUSÍADAS A D.SEBASTIÃO

http://purl.pt/6773/1/

TUDO INVEJAS

Ele estava naquele dia com melhor cara. Tinham-lhe telefonado logo de manhã a dar uma notícia que muito o aliviara. Era,de facto,caso para isso. O filho terminara,finalmente,o longo curso. Já era doutor. Sacrificara-se muito. Mas tivera grande amparo no patrão que o contratava mais vezes. Emprestara-lhe terra,gado e alfaias para ele fazer umas searas de melão e de melancia. Assim,conseguira arranjar dinheiro para educar o filho. A menina,a filha do patrão,também tinha colaborado. É muito amiga do meu rapaz. São quase da mesma idade e foram colegas no liceu. Desconfio que ela gosta muito dele,a modos de o querer como marido. Ele,não sei. Conheço-o bem. Não quer que o achem interesseiro. Ainda que gostasse dela para casar,não o diria. Nunca namorou,pois viveu sempre para o estudo. Sabe que o pai tem passado muito e não o quis desiludir. É um bom rapaz. Se ela quisesse,daria um excelente marido. Ele havia de arranjar um emprego capaz,de maneira a não precisar da ajuda do sogro. Eu bem sei que o dinheiro é todo dela,pois não tem irmãos. Casaria com separação de bens, seria ele mesmo a exigi-lo,e eu estaria de acordo. E,depois,calava aí umas bocas. Já as tenho ouvido,mas não lhes ligo. Falem,falem,que aquilo são tudo invejas. O certo é que não há muitos como o meu filho. Inteligente e honesto. Sabe-se pôr no seu lugar.

A LOIÇA

Então,o que tens feito? Olha,lá me tenho ido entretendo,procurando quebrar o menos possível a loiça.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

13 ALIMENTOS DE UMA ESCOLHA

http://www.everydayhealth.com/photogallery/superfoods.aspx

JORGE BARRADAS,1894-1971 - LAVADEIRAS

http://purl.pt/11754/2/

COMPLEXIDADE

A terra,ou melhor,as muitas terras,com as suas características,químicas,físicas,biológicas,não facilitam nada o labor de quem as quer conhecer. É que essas muitas características interpenetram-se,pelo que cada caso são,na realidade,variadíssimos casos. As terras são corpos vivos,e a verdade num momento pode não ser a do seguinte,e isso porque a temperatura mudou,porque há água a mais,ou a menos,porque há mais ou menos matéria orgânica,que se vai decompondo,gerando sabe-se lá o quê, por efeito da variadíssima vida microbiana,há o poder mobilizador dos diferentes produtos dessa decomposição,há as reacções de oxidação-redução,há a difusão, dependente de tantos factores. A complexidade é tanta, que é preciso ter muita má vontade para não perdoar um ou outro erro que se vá cometendo.

EGOÍSMOS

Ah, estes julgamentos apressados,levianos. Quantas vezes, muito diferente a realidade é. Um nunca acabar de enganos. Ele não era muito velho,mas mostrava um ar acabado. Viam-no sair de casa,às vezes,um tanto cedo. Sempre sozinho,do olhos no chão. Iria dar a sua volta higiénica,distrair-se. Em tempos,acontecera ter com ele uma conversa curta,que sugeria ter-lhe sucedido coisa desagradável lá no seu escritório. Sempre triste,andaria curtindo mágoas. E um dia,calhou, mais uma vez,um encontro. Então,vai dar o seu passeio? Antes fosse. Alguma coisa de grave? Comigo,não. É que eu visito, todas as manhãs, uma velhinha que não pode sair de casa. Não é bem uma visita. Presto-lhe assistência. Coitada dela,para ali sozinha,sem ter quem a ajude. Olhe,é o meu entretém. Vou até lá e sempre lhe torno a vida um pouco mais leve. E esta? Quem diria? E a julgar-se que ele ia ver as vistas,estar com um ou outro amigo, num café,ler o jornal,muito provavelmente,desportivo. E afinal,o senhor ia prestar assistência a uma velhinha que não lhe era nada,apenas um antigo conhecimento. Quem é que iria supor,neste tempo de egoísmos?

ESCUSADAS

O velho não pode sair à rua,que é logo assaltado. Calhou,naquela altura,ser uma moça,aí de uns vinte anos,com cara de fome e de voz de um outro mundo,de um mundo vazio. Precisava de um euro e meio,para tomar o comboio. Veja lá se tem aí. Já teria tentado,que a avenida era comprida,mas ,naquela escaldante noite, o movimento era do lá vai um. Vamos lá ver se tenho aqui o que quer. É um euro e meio? Sim,é um euro e meio. Veja lá. O velho já não via lá muito bem e levou tempo a procurar. Ela esperava,submissa,com todo o tempo do mundo. O velho lá deu com as moedas,depois de muito rebuscar. Ela aceitou-as,sem uma palavra. Também eram escusadas.

DESGRAÇA COMUM

Andava cada um para seu lado. Um dia,uma desgraça comum os juntou.

terça-feira, 27 de abril de 2010

STEPHEN HAWKING E OS EXTRATERRESTRES

http://br.noticias.yahoo.com/s/afp/100426/saude/gb_ci__ncia_astrof__sica

MAIS UMA FONTE DE ÓXIDO NITROSO

http://www.sciencedaily.com/releases/2010/04/100425151148.htm

JORGE BARRADAS,1894-1971 - CASARIO POPULAR COM LEITEIRA

http://purl.pt/11757/1/

AFONSO DE ALBUQUERQUE,1462-1515 - COMMENTARIOS DO GRANDE AFONSO DALBOQUERQUE

http://purl.pt/12116/4/

O SEU MENINO

O trânsito estava parado devido a um atropelamento. Viria uma ambulância e o sinistrado seria levado ao hospital. Escaparia? Algures,uma mãe iria ao telefone. É para lhe comunicar que o seu filho está internado por causa de um acidente. Teve muita sorte,pois podia estar agora morto. Posso ir vê-lo? Com certeza,minha senhora. Enquanto se vestia à pressa,a pobre mãe ia rezando para que nada de muito grave tivesse sucedido ao seu menino. Se ele lhe morria? Era capaz de estar muito mal,só que não lhe tinham querido dizer,não fosse dar-lhe alguma coisa. Este autocarro pára tantas vezes. E eu que estou aqui tão preocupada. Desabafara com o passageiro que ia ao seu lado. Não esteja tão aflita. Vai ver que o encontra bem. O que é que ele havia de dizer? Deus o oiça. E lá ficou mais animada. Saiu do autocarro quase a correr. Queria ver o seu filho, sem demora. Lá estava,numa cama,meio adormecido com os sedativos,mas vivo graça a Deus. A Mãe do Céu a ouvira. Iria ficar bem depressa,confortara-a a enfermeira. Era jovem. Tranquilizou,mas ficou ali sentada, a olhar para ele,como tantas vezes fizera. Era o seu menino e sê-lo-ia sempre,mesmo quando casasse e tivesse filhos.

VERDE

Começara por habitar um andar de renda. O que ela deve ter sofrido,o que ela deve ter passado. Com o tempo ,as coisas melhoraram,com muito alívio dela,e pôde trepar. Agora,tinha um tecto muito seu. Mas não era ainda isso que ela queria. Seria uma mediania aviltante. Faltava ali um elemento imprescindível,um elemento essencial,faltava o verde. E o conjunto sonhado surgiu,estava ali mesmo na sua frente,ao alcance das suas duas mãos,que uma só não chegava. Era mesmo aquilo que lhe convinha. Ficaria ali como uma rainha,que ela se achava no direito de ser. Havia,porém,um óbice,um obstáculo de respeito. A fasquia estava alta. Havia de a baixar,que ela era mulher para isso e muito mais. Mas o tempo arrastava-se,apsar dos seus esforços,e a fasquia continuava lá bem alto. Nesse transe,nesse angustiante transe,que nenhuma rainha tinha ainda atravessado,gastava os dias,inteirinhos,numa pesada tristeza,remoendo,dando tratos à sua muito fértil imaginação. O olhar era ausente. Metia dó.

SERVIÇO EXTERNO

Ele tinha duas caras,uma, para serviço externo,a outra,para uso próprio.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

ZÉ POVINHO,RAFAEL BORDALO PINHEIRO - ALBUM DA GLORIAS,BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL

http://purl.pt/14828/1/P134.html

O ÁLBUM DAS GLÓRIAS - RAFAEL BORDALO PINHEIRO

http://www.citi.pt/cultura/artes_plasticas/caricatura/bordalo_pinheiro/glorias.html

UM TRIGO QUE TOLERA O SAL

http://www.sciencedaily.com/releases/2010/04/100423094622.htm

UM NOVO E MELHOR BIOCOMBUSTÍVEL?

"Unlike fossil fuels, algae-based biofuels are carbon-neutral. The algae feed on carbon dioxide in the air, and this gets released when the biofuel is burned. Fossil fuel combustion puffs additional carbon into the air without ever taking any back."

In http://www.sciencedaily.com/releases/2010/04/100422153943.htm

O PIOR É O RESTO

Saíam de casa a pé,às vezes de longe e de madrugada,para irem trabalhar. Quão diferente hoje é. Vão-nas buscar a casa e trazem-nas de volta. É como ter um transporte porta a porta. Pois elas,depois de terem calcorreado uma boa distância,tinham começado a monda do trigo,que bem precisado estava. O tempo não era dos melhores,mas esperavam que se aguentasse sem chuva. Mas não aconteceu assim. Se fosse uma daquelas miudinhas,de molha-tolos,vá que não vá. Continuariam lá,a cumprir as horas do ajustado. Para isso, tinham trazido aquela espessura de xales. Mas deu para cair em abundância. Chovia que Deus a mandava. Chegar-lhes-ia até aos ossos,mesmo que trouxessem uma montanha deles. Tinham já larga experiência disso,escusavam de tentar mais uma vez. Não tiveram outro remédio se não recolherem-se numa cabana. Uns jovens ,que por ali andavam,umas vezes de jipe e outras a pé,não viram também outra saída,refugiando-se onde elas já se encontravam. Está-se bem aqui,disse um deles. Está,está,o pior é o resto. Explique-se lá minha senhora. É que,com o dia assim,logo a esta hora,temos de voltar para casa com os bolsos vazios. E a vocês, vai acontecer o mesmo? Quem tinha de responder não atinou logo na resposta. Foram uns segundos de hesitação,de angústia mesmo. Mas não devia dizer a verdade. Tinha de mentir. Quem ousaria o contrário?

PAU DE VIRAR TRIPAS

Era uma toada inconfundível,comovente. Até as andorinhas acordariam nos beirais dos telhados. Devia estar próximo o grupo que a produzia. Os caminhos mal se viam. Só uma ou outra réstia de candieiro a petróleo servia de amparo,que o tempo era de muito atraso. Mas eles já os conheciam de cor,desde meninos. Nem tinham conhecido outros. E eis que os da frente assomaram ao fundo da rua estreita. Vinham em grupo compacto,de passo lento e cadenciado. Destacava-se bem o Francisco,pela altura. Era um pau de virar tripas. Crescera estiolado,talvez por ter sido fraca a ração. Ainda naquela manhã se lastimara. Só dava para o pão e mesmo assim não se podia um homem alargar. O que lhe valera ultimamente fora aquele trabalho inesperado,como que caído do céu. Era pena que o não tivesse para sempre,que bom jeito lhe faria. Tinha de ter paciência,como fizera até ali. Lá foram rua abaixo,para entrar em qualquer locanda,onde pudessem afogar as mágoas. O taberneiro não se esqueceria de apontar.

DESAFOGO E DESCONFORTO

Ele não sabia o que sentiam os que, como ele, viviam num razoável desafogo,face à miséria de tantos. Só sabia o que ele sentia,e que era,nem mais,nem menos,um dorido desconforto,quando neles pensava.

domingo, 25 de abril de 2010

AMIEIRA EM FLOR

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVY5VSouOf1IxqzrrRveYdXPFMbKrWVDbgb3BdPqCp6_G6xAq0Qnh8vi6dTutp1Cu6xSc4dag4GNBgt592noCNWpWpmX4HBRgGfvKe4FuVFxAQFdRKS8lHFtoapphtwGU4fAvVry587lE/s1600/P4256652.JPG

Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

Título do autor

A ÁRVORE É UMA LIÇÃO

Não há duas folha iguais. Não há dois ramos iguais. Não há duas raizes iguais. Mas folhas desiguais,ramos desiguais,raizes desiguais,conseguem conviver na mesma árvore,dando bons frutos. A árvore é uma lição.

FOTOSSÍNTESE E RESPIRAÇÃO COMPLETAM-SE

Pela fotossíntese,utiliza-se anidrido carbónico da atmosfera. Pela respiração,devolve-se anidrido carbónico à atmosfera.

EXEMPLOS DE COLABORAÇÃO

Os líquenes e as micorrizas. Os líquenes,associações de fungos e de algas,verdes ou azuis. Os fungos,que não dispõem de clorofila,contribuem com água e nutrientes ditos minerais,as algas,com a parte orgânica. As micorrizas,associações de raízes e de fungos. Pelas raízes,os fungos recebem sintetizados,como hidratos de carbono. Pelas hifas dos fungos,chegam às raizes o que se encontra dissolvido na água,reforçando-as.

sábado, 24 de abril de 2010

TRATADO DE TORDESILHAS

http://www.unesco-ci.org/photos/showphoto.php/photo/4266/title/the-treaty-of-tordesillasenclosure/cat/691

http://www.unesco-ci.org/photos/showphoto.php/photo/2333/title/the-treaty-of-tordesillaslead-seal-hanging-from-silk-threads/cat/691

http://www.unesco-ci.org/photos/showphoto.php/photo/4263/title/building-of-the-direc-e7-e3o-geral-de-arquivos-2c-lisboa-2c-portugal/cat/691

TEORES DE SÓDIO EM SOLOS REGADOS

Com a rega,há tendência para uma acumulação de sais no solo. Isto,não só pelos sais dissolvidos na água de rega,como pela possibilidade,nalguns casos,da subida de toalhas freáticas salinas. Esta acumulação,como se sabe,pode ser nociva às culturas e aos solos, por induzirem toxicidade , dificultarem a absorção de nutrientes, por via do aumento da tensão osmótica,por deteriorarem as propriedades físicas dos solos.

Assim,é de toda a conveniência ir acompanhando com análises apropriadas os solos que estão a ser regados. Neste sentido,aproveitou-se a instalação de dois luzernais,sujeitos a vários cortes anuais,com a duração de quatro anos,instalados em solos de aluvião.

Os teores(mg/100 gramas de terra) que se apresentam, dizem respeito apenas ao sódio(solúvel e de troca),o elemento,aliás, mais pertinente na matéria em causa.

Ensaio 1
Camada 0-20cm:fim do 1ºano-22,5;fim do 4ºano-17,9
Canada 20-40c: fim do 1ºano-22,1;fim do 4ºano-20,9

Ensaio 2
Camada 0-20cm:início do 2ºano-10,8;início do 4ºano-14,8
Canada 20-40cm:início do 2ºano-14,1;início do 4ºano-18,7

Como se vê,os teores de sódio são muito semelhantes no Ensaio 1. Quanto ao Ensaio 2,nota-se uma ligeira subida,mas com valores abaixo dos analisados no Ensaio 1,talvez por serem teores iniciais. No Ensaio 1, foi possível ver que os teores cresceram com as regas,descendo,depois,por lavagem da água das chuvas. De qualquer modo,a luzerna mostrou-se pujante,com muito agrado,julga-se, das vacas que a comeram.

FIO DE ÁGUA

As cigarras emudeceram e os pássaros esconderam-se nos ramos das azinheiras. É que se aproximava o medonho estrondo de um comboio de viaturas. Nunca se vira por ali uma coisa assim. O que estaria para acontecer? Bem depressa veio o esclarecimento quando os carros pararam. Deles saiu um mar de gente que se apressou a bisbilhotar o vasto milharal que se estendia ao longo do rio. Pobre rio,que naquela altura era uma pobre sombra do que fora. Um fio de água,se podia dizer,que mal dava para a meia dúzia de famílias de rãs que por ali faziam pela vida,quanto mais para matar a sede daquela ilha verde. Pois fora esta pobreza que trouxera ali toda aquela gente. Estavam muito preocupados,e com razão. É que aquele milharal estava a ser um comedor de dinheiro. Não bastara a renda da terra,as sementes,as alfaias,os químicos,os amanhos,as jornas,para há uns tempos ter havido necessidade de recrutar pessoal para escavar o leito do rio,na esperança de algum milagre. E o milagre dera-se,como se estava a ver. É que as maçarocas já despertavam os apetites de bandos de pássaros. Alguma coisa de jeito eles sabiam que nelas encontrariam. Aquele pessoal tinha sido o milagreiro. Escavando dia e noite o velho leito do rio,desencantou veios de caudal capaz de dar vida àquele milharal. Mereciam eles um prémio que se visse. Os pássaros também tinham obrigação de contribuir.

MOÇO DE FRETES

Chegara enfim à estação de Évora,tal como vem em Aparição,de Vergílio Ferreira. E tal como como lá se diz, foi a pé até à Praça. Só que dispensou moço de fretes,por a mala ser pequena,nem ter caixote de livros.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

ESTAÇÃO DE CULTURAS REGADAS DE ALVALADE DO SADO,ALVALADE - SANTIAGO DO CACÉM

Criada em 1937 pelo Engenheiro Agrónomo D.Manuel de Castello Branco.

A REGA E A NUTRIÇÃO DAS PLANTAS

A água é o veículo dos mutrientes para as plantas. Uma vez que os nutrientes estejam disponíveis no solo,a sua absorção pelas plantas far-se-á,em regadio,sem as dificuldades que frequentemente se registam no sequeiro. Com efeito,um solo pode estar suficientemente provido de elementos mutritivos,mas se a água escasseia,a sua absorção é constrangida. A rega facilita,pois,a nutrição mineral das plantas. Porque assim é,não se mostra necessário, em regadio, constituir nos solos reservas nutitivas particularmente altas,ao contrário do que se tem verificado em sequeiro,ainda,como se sabe,as necessidades das plantas sejam, em regadio,mais elevadas.

A REGA E A INTENSIFICAÇÃO CULTURAL

A rega permite:

a) Uma maior taxa de ocupação do solo.

b) Mais elevadas produções.

c) Mais vasta opção de culturas.

ASPECTOS POSITIVOS DAS BARRAGENS

The original purposes of dams were to improve human quality of life by providing drinking water and to support economic growth by diverting water for power, navigation, flood control, and irrigation. In many ways, dams have succeeded. For example, the fields of Western farmers feed the United States and many other parts of the world, and India's irrigation systems have enabled that country to be self-sufficient in food production since 1974. In addition, in many parts of the world dams have helped to remedy life-threatening problems such as poverty from lack of economic development, famine as a result of drought, devastation from floods, and continued disease from lack of potable water supplies.

As barragens foram construídas para melhorar a qualidade da vida humana,fornecendo água potável e energia,melhorando a navegação e permitindo a rega. Foram e são um sucesso em muitos lugares. Por exemplo,os agricultores do Ocidente dos Estados Unidos alimentam não só o país,como outras partes do mundo,e os sistemas de irrigação da Índia permitiram a sua auto-suficiência alimentar. Além disso,em muitas partes do mundo, ajudaram a remediar graves problemas, como a pobreza resultante da falta de desenvolvimento económico,a fome por via da seca,inundações e doenças por carência de água capaz.

De http://www.ehso.com/ehshome/energydams.htm

CHEIO DE SORTE

Parecia que aqueles domínios eram do moço. E assim,logo que ficava livre,cumpridas algumas formalidades,lá ia ele,feito capataz,revistar todos os cantos. Era isso um claro sinal da estreiteza do seu viver,de horizontes acanhados. Diante daquela largueza,daquela riqueza,quase se julgava seu dono,ou fazendo parte da sociedade que a explorava. Não havia buraco,pode dizer-se,que ele não esquadrinhasse meticulosamente. Mas, sem dúvida,era a horta,aquela grande e verdadeira horta,que mais o prendia,talvez por haver nela com que confeccionar muitas refeições. Conhecia de cor todos os seus componentes,as noras,os tanques,as caleiras,os talhões,as árvores. Após um reconhecimento,como que a ver se estava tudo no seu sítio,escolhia uma sombra para uma observação envolvente,de senhorio total. Preferia um dos extremos,onde famílias de melros se recolhiam. Julgava-se no paraíso. Por tudo isso,e ainda mais uns acrescentos,que não se podiam deitar fora,ficava consolado por uns tempos. Sabia,de antemão,que ao fim deles era lhe permitido repetir a dose. Sempre era uma compensação de vulto,coisa que muitos não teriam. Era,afinal,um moço cheio de sorte.

OS OUTROS

Há os bons e os maus. Os maus são sempre os outros. Quer dizer,os bons são incapazes de fazer as maldades que descobrem nos outros,revelando-as.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A BONDADE DO AZEITE

http://www.sciencesetavenir.fr/actualite/sante/20100421.OBS2804/l-huile-d-olive-toujours-dans-le-coup.html

FAROL

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBxEV0GHfClOUjTbGTyObrFQSKPOKa4zM-zXEkpx-JQxenC6M2yYtH2PgFShfBApZZxjhr8-ZWbSkhkSUuXU4MYF9Igr6TC_oQtvSGDs4QXliFR7T8OjPZyD8xBZcawy_KT0MJU3x4sbA/s1600/P3285691.JPG

Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

Título do autor

UM CASO DE CORRECÇÃO DA ACIDEZ DO SOLO COM CALDA BORDALESA

Num estudo sobre solos derivados de granitos de várias regiões,houve ocasião para colher amostras de um solo em que a cultura era uma vinha tratada com calda bordalesa contra o míldio. Consideraram-se duas profundidades,0-20 e 20-40 cm. Os dados analíticos do pH,do Ca de troca(mg/100g) e do Mg de troca(mg/100g) são os seguintes:
camada 0-20cm - pH(6,3);Ca(73,1);Mg(5,2)
camada 20-40cm- pH(5,5);Ca(57,6);Mg(5,3)
O valor 5,5,ou próximo,era o normal da região. Como explicar assim o valor 6,3 da camada o-20? Da história dos amanhos culturais não constava qualquer calagem do tipo clássico. O causador parecia ser,só podia ser,a calda bordalesa, por via do seu óxido de cálcio.Tendo em conta o número de aplicações,ter-se-ia feito,por ano,uma calagem equivalente a 300 Kg/ha de CaCo3,que,com a ajuda da fraca tamponização do solo,fizera subir o pH e o Ca de troca apreciavelmente,não bulindo no Mg de troca.

CRÍTICAS

Ele nunca tivera jeito para jardins,mas em certo troço do seu percurso não teve outro remédio senão tomar conta de um. O patrão não era muito exigente e na altura não lhe apareceu outra saída melhor. Lá se desembaraçou como pôde,apelando a habilidades um tanto escondidas. Valeu-lhe,também,a ajuda de alguns colaboradores,um dos quais parecia ter nascido para tal função. Dava gosto ver o jardim,a ponto de o patrão lá levar,um dia,muita gente,que se desfez em elogios,à excepção de um má língua,que achou tudo aquilo já fora de moda,já ultrapassado. Enfim,ossos de qualquer ofício. O que é preciso é uma pessoa não se deixar abalar com as críticas e,se for caso disso,aproveitar delas alguma coisa. Passado pouco tempo,ele viu a vida do jardim andar para trás. É que,quase sem aviso prévio,o patrão levou-lhe o auxiliar principal. E levou-lhe,pela simples razão de os jardins lhe terem subido à cabeça. Havia de arranjar um outro,em local mais apropriado,segundo o seu entender. E como daquela arte quase nada percebia,lá pensou que o melhor era ter a seu lado alguém para aquilo nascido. Serviu essa perda para ele fazer uma grande reforma no seu jardim. A coisa foi a tal ponto que acabou com a jardinagem. Para isso,deve ter cotribuído a tal crítica,de que nunca se esquecera,vindo de quem viera.

ENCANTO

O cantar do galo era um encanto. Talvez por isso o cão se calasse.

ESTRANHO

Havia aspectos positivos e negativos a considerar. Assim,parecia estranho que se acentuassem os negativos,quando os positivos estavam ligados a necessidades imediatas.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O MARÇO GLOBAL MAIS QUENTE

http://www.sciencedaily.com/releases/2010/04/100420225712.htm

SEQUOIAS GIGANTES CONTAM HISTÓRIAS

http://www.sciencedaily.com/releases/2010/03/100318093300.htm

OSSOS

Como é sabido,os ossos foram o primeiro fertilizante fosfórico usado,antecendo o emprego,em meados do século dezanove,do superfosfato,obtido a partir de fosfatos minerais. È que um dos componentes dos ossos,como se sabe também,é a hidroxiapatite,da família,como o nome sugere,da apatite,precisamente,o composto principal desses fosfatos. A hidroxiapatite é insolúvel,mas em contacto com a água do solo vai-se lentamente dissolvendo por acções várias. Entre elas,avulta a acção do anidrido carbónico do ar,e,sobretudo,da respiração,quer das raízes,quer dos muitos microorganismos,sendo de considerar,também,o efeito de produtos de decomposição da matéria orgânica.
Na perspectiva da exaustão anunciada de fosfatos minerais,é de prever que o recurso a ossos virá a fazer parte das medidas que, imperiosamente,têm de ser tomadas,pois sem fósforo nada feito.

PELE TIRADA

Era um homem alto,magro,de olhar confiado. Fora um dos primeiros a arrancar para a França e,já regressado,estava agora ali naquele emprego de jardineiro. Com o dinheiro que amealhara,pusera casa que se visse e ainda comprara uns pedaços de terra,onde gastava as horas livres. Murara-os com videiras e enchia-os de milho. Engordava,ainda,dois ou três vitelos barrosãos. Naquela altura,andava muito desanimado,pois concluíra que se esforçava em vão. Uma pessoa trabalha,entrega bom dinheiro pela semente,pelo aluguer do tractor,pelos animais,pela ração,pelo adubo,e,depois,é o que se vê,um quase nada. Os intermediários queriam levar tudo. Esperava,a ver se chegavam a um melhor preço,mas estavam todos combinados. O milho do ano anterior ainda estava por vender. Quanto ao gado,dizia-lhes que era carne de primeira,o que era verdade. Pois sabiam o que é que lhes ouvia? Depois da pele tirada são todas iguas. Assim,estava decidido a ficar só com o vinhito. Trabalhassem eles.

FORTE INSPIRAÇÃO

Daquele cimo,daquela casa,avistava-se um amplo e variado panorama,de searas,de montados,de vinhas. Ñão fora por isso que por lá se passara algumas vezes,mas sim por uns afloramentos calcários de estrutura rara. Sem querer,por inteiro desconhecimento,talvez se tivessem perturbado momentos de forte inspiração de quem lá morava.

terça-feira, 20 de abril de 2010

UM MUNDO DE MICRÓBIOS

http://www.nature.com/news/2010/100418/full/news.2010.190.html

http://www.sciencesetavenir.fr/actualite/nature-environnement/20100419.OBS2693/l-incroyable-et-invisible-diversite-des-oceans.html

CESÁRIO VERDE - O SENTIMENTO DUM OCIDENTAL

http://www.prof2000.pt/users/secjeste/cesverde/Sentim01.htm

MUNICÍPIO DA VIDIGUEIRA,PAISAGENS - PORTUGAL

http://www.cm-vidigueira.pt/galeria/fotos/g/paisagens

O SEU JARDIM

O quadro é este. Está para ali a gigante roseira,de rosas vermelhas,entre duas agaves gigantes,tudo entalado em estreito corredor. Em pano de fundo,perfilam-se umas ruínas de há dezenas de anos. Um dos limites do corredor é um muro alto,a esboroar-se,onde a roseira e as agaves se encostam e do qual recebem protecção. Desentranha-se esta roseira. É um gosto em frente dela ficar. Não se cansa a roseira e não cansa para ela olhar. Quase se não vêem as folhas,de tantas serem as rosas,grandes,médias,pequeninas. Para quem se adornará a roseira,que não se acredita que seja para um ou outro que por ela se interesse? Talvez para a numerosa colónia de gatos que por ali andam,fazendo pela vida. Porque não? Também têm direito,pois então,tanto mais que são seus fiéis vizinhos. E depois,alguma outra alegria eles hão-de ter,para além da que colhem,quando alguém lhes enche a dispensa. É o seu jardim,assim se pode dizer.Parece tudo isto um quadro daqueles que os entendidos consideram como naturalistas, ou realistas ,à Millet. Mas este gigantismo dá para pensar. E julga-se que só pode ter uma explicação. É que as ruínas são de uma antiga fábrica de fermentos . Por ali devem ter ficado uns restos,que se perpetuam,a atestar a sua qualidade. E o resultado é este. Aquilo é só crescer,crescer. Até os gatos não escapam. Começou por uma família e agora é uma tribo. E aquilo é capaz de não se ficar por ali,pois não se vê jeitos de as ruínas sairem de lá.

RABO DE FORA

Era,pelo menos,divertido,dar conta dos esforços que ele fazia para se mostrar isento,distanciado. Mas,coitado dele,era como gato escondido com rabo de fora.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

PAINEL DE NEPTUNO,CONSTÂNCIA - PORTUGAL

http://www.flickr.com/photos/vitor107/2386150942/sizes/o/

UMA SENHORA

Entrou logo a matar,quando a porta se abriu. Antes de mais,quero ver cumpridos os meus sagrados direitos. E indicou-os,sem faltar um sequer,para que se soubesse,caso os ignorassem. Quanto aos deveres,ficaria para depois,que não era oportuno o momento. Valeu-lhe apanhá-los em fraqueza,se não veria a porta fechar-se. Ao longo da caminhada,manteve-se sempre fiel à amostra. A cada passo,dava indicações seguras de que nela habitava um incontido gosto de ter e um outro de imitar. Hei-de possuir também um,deixava ela escapar ,diante de um tareco que não figurava lá no seu mostruário,ou então, avisava que também tinha um,só que muito melhor. Podia dizer-se que estava com saudades de um futuro em que ela fosse patroa,como quase o fora em tempo a isso propício. Aquilo tinha sido mesmo um venha a nós. Naquela altura ,é que era aproveitar,que uma coisa assim,nem de encomenda. Tanto colheram,que arruinaram o negócio. A pensar nisso constantemente,deixava,ás vezes,escapar um suspiro. Estivera por pouco,mas ainda não perdera a esperança. Eram os sagrados direitos a acenarem-lhe. Eles ainda,um dia,lhe haviam de trazer as sonhadas indemnizações,sem esquecer,claro,os juros. Tudo somado,daria para pôr alguém ao seu serviço. Então se revelaria em toda a sua natureza. Esse alguém não teria o direito de ter direitos,pois para ela só havia duas espécies de gente,senhores e escravos. E ela não queria morrer sem ter sido uma senhora.

POBRE CROSTA

Era um esburacar sem destino,era um trabalho de toupeira teimosa,à cata dos materiais mais diversos,cobre,ferro,prata,ouro,carvão,petróleo,gás,potássio,sal,fósforo,mármore,granito,...
Era um concentrar sem destino,de gente,de casas,... Pobre crosta,que não sabia de que Terra era.

domingo, 18 de abril de 2010

ESCASSEZ DE FÓSFORO E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS

http://www.liu.se/news-and-events/?l=en&newsitem=183796

http://www.ewp.eu/seminar-on-phosphorus-shortage-march-4th

http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=1671

PRAÇA LUÍS DE CAMÕES,LISBOA - PORTUGAL

http://www.flickr.com/photos/biblarte/3811382298/sizes/l/

http://www.flickr.com/photos/biblarte/3022489698/sizes/l/

http://www.flickr.com/photos/biblarte/3811334350/sizes/l/

De Galeria de Biblioteca de Arte - Fundação Calouste Gulbenkian

CASA MUSEU DE CAMILO

http://www.geira.pt/CMCamilo/

RICO ALMOÇO

O gato pôs uma cara apreensiva, quando se aproximou gente. Teria pensado que lhe iriam tirar a comida do prato. Penas voavam. Não estejam assim tão admirados. Julgavam que os pássaros só se podiam apanhar com fisga ou com arma de fogo?,mas estavam muito enganados. Aprendi com o meu pai,que Deus já lá tem,a imitar as cobras. Ficam a modos que hipnotizados,sendo o resto uma brincadeira. Pois, como viram,é muito simples. Ele tinha pousado,na mira de algum bichinho ou grãozito,coisas sem importância para mim,mas que felizmente os engorda. Os meus olhos não mais o largaram. E,quando se cruzaram com os dele,foi como se tivesse levado com uma pedra ou um chumbo. Para maior sucesso,o ideal é estar junto a um carro,como,aliás,aconteceu agora. Ele bem se quis livrar,mas o voo saiu-lhe baixo. Com uma patada,atirei-o ao chão. Fez mais uma tentativa,mas tão desastradamente que veio esbarrar no carro,ficando debaixo dele. É quase sempre assim. Vou ter hoje um rico almoço. Não pensem impedi-lo. O pardalito jazia meio morto. Desconfiado,o bichano mirava de esguelha. Ainda arreganhou os dentes e distendeu as unhas,como que a ameaçar. A pobre avezinha já não tinha conserto,sendo inútil intervir. É a vida. Enquanto se a tem,vai-se fazendo por ela.

PATRÃO OU PATROA

Na perspectiva de ter vindo para servir e não para ser servido,parece estar muito desajustado quem todo o ar de patrão,ou de patroa,tem.

sábado, 17 de abril de 2010

SILVA PORTO,1850-1893

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http://www1.ci.uc.pt/artes/6spp/imagens/porto_colheita_ceifeiras-1.jpg

http://www1.ci.uc.pt/artes/6spp/imagens/porto_charneca-1.jpg

De http://www1.ci.uc.pt/artes/6spp/a3.html

A CULPA

Teria ido ao Museu de Marinha,ali a dois passos. E ali se encontrava ele,um homem curtido por muitos invernos agrestes,mirando e remirando a fotografia,a cores,de uma airosa chata e um desenho com ela relacionado. Isto levou alguém a querer saber da razão de tão grande interesse. É disto que eu sei e é disto que eu gosto. Veja lá que andei no mar,em todos os mares se pode dizer,quase toda a minha vida. Só na pesca do bacalhau foram à volta de vinte anos. O que eu passei. E,afinal,para quê? Para agora me ver na necessidade de aumentar a magra pensão que me coube. Vou-me entretendo a fazer miniaturas de barcos e a vendê-los. Não me interesso por mais nada. Nem cartas,nem futebóis. É triste,pois,o meu fim de vida. Não me serviram de quase nada os trabalhos em que estive metido. Mas eu sei de quem é a culpa. E sem mais preparação,quase à queima-roupa,lá descarregou a sua certeza. A culpa é dessas liberdades que há agora para aí.

FRACOS E DESAMPARADOS

Coitados,fracos e desamparados,eles sabiam que não iriam longe. Mas não perdoaraiam a si mesmos se não tivessem tentado.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

VENTOS DE MUDANÇA

http://photos1.blogger.com/blogger/609/1252/1600/Img_0221.jpg

Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

Título do autor

CENDRES VOLCANIQUES:POURQUOI LES AVIONS RESTENT AU SOL

http://www.sciencesetavenir.fr/actualite/high-tech/20100416.OBS2547/cendres-volcaniques-pourquoi-les-avions-restent-au-sol.html

UMA DESCOBERTA SOBRE A FIXAÇÃO DE CO2 PELOS OCEANOS

http://www.sciencedaily.com/releases/2010/04/100415085344.htm

ALFREDO KEIL,1850-1907

http://www1.ci.uc.pt/artes/6spp/imagens/keil-rebanho-1a.jpg

http://www1.ci.uc.pt/artes/6spp/imagens/keil_o_aterro-1.jpg

De http://www1.ci.uc.pt/artes/6spp/ia.html

UM MENINO FELIZ

Você quer conhecer o segredo de ser um menino feliz o resto de sua vida? Quero-respodi. O segredo se resumia em três palavras,que ele pronunciou com intensidade,mãos nos seus ombros e olhos nos seus olhos: Pense nos outros. O homem se curvou para me beijar na testa,se despedindo. Quem é você?-perguntei ainda. Ele se limitou a sorrir,depois disse adeus com um aceno e foi-se embora para sempre.

De O MENINO NO ESPELHO,de Fernando Sabino.

A SUA VEZ

Ai dos vencidos. Ai dos vencedores,que terão,também,a sua vez. É só dar tempo ao tempo,que ele nunca se esquece.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

SEBASTIÃO DA GAMA

http://www.astormentas.com/gama.htm

AR PENDURADO

Naqueles últimos tempos,a vida não lhe correra nada bem,pelo que o seu ar não seria dos melhores. Mas era o ar possível naquela altura,a mais não devia ser obrigado. Aconteceu que teve de ir a uma entrevista,porta de acesso a um emprego,que,seguramente,lhe daria um outro ar. Mas nunca pensou,nem ninguém lhe disse,que o ar seria um factor determinante. Pois foi precisamente o ar que o desclassificou,vindo disto a saber indirectamente. Um outro concorrente teve a franqueza,ou a rudeza,de o revelar,um segredo que não devia ter transpirado. Mostrara um ar pendurado. E, para aquele lugar,este ar não servia,pelo que se ouvira. Mas porquê?Durante algum tempo,isto não lhe saiu da cabeça. Mas era evidente que o ar teria pouco ou nada a ver com a natureza do trabalho. A razão deveria ser outra. O tal ar pendurado não ficaria bem nos intervalos ou nos seus remates. Seria um ar que perturbaria as conversas de corredor ou as festas de fim de semana. Seria ele,afinal,um desmancha-prazeres. E assim,não,mil vezes não. O trabalho seria,pois,uma coisa secundária. O que se tornava essencial era mostrar um ar sempre bem disposto,sempre com um sorriso nos lábios,e dispor de um manancial de anedotas para entreter os ócios.

DUAS CASAS

Santos da casa não fazem milagres. Um homem pode tanto em sua casa que até depois de morto são precisos quatro para o levar. Muito diferentes devem ser estas duas casas.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

TOMÁS D'ANUNCIAÇÃO,1818-1879

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http://www1.ci.uc.pt/artes/6spp/imagens/anunciacao-vista_da_amora-1a.jpg

De http://www1.ci.uc.pt/artes/6spp/columbano.html

JOGOS DE CARTAS

Não passava o entretém de um simples jogo de cartas,para matar tempo. Mas já não era a primeira vez em que ele era dera sinais evidentes de má disposição ,quando perdia. Pelos vistos,acima do entretém,tinha nele mais uma ocasião para mostrar que era o melhor,tal como noutros desempenhos. Até ali queria ser o primeiro. Objectivamente,nada lucrava,que era a feijões,mas seria mais uma confirmação da sua superioridade em toda a linha. Não podiam restar dúvidas. Fazia isto lembrar o que se passava noutros palcos. A alternância de desenlaces,quaisquer que eles fossem,não parecia do agrado de muita gente. O hoje eu,amanhã tu,estava longe de ser a disposição de muitos. Só se sentiam bem,permanecendo lá no topo. Custavas-lhes,como de coisa essencial se tratasse,serem segundos,e muito menos terceiros ou quartos. Mesmo que os da frente não os molestassem ou,até, acariciassem. Era simplesmente a posição, o que interessava a alguns,sem cuidar daí tirar algum proveito. O mal era quando se associava a cobiça. Podiam tornar-se perigosos,quando não mais queriam deixar os lugares. Criavam-se,então,tensões,com efeitos desagradáveis para todos. A alternância parecia, assim,com cobiça ou sem ela,um excelente remédio para as aliviar. Aos jogos de cartas,ou outros,podia aplicar-se também esta panaceia. Mas o ideal, seria existirem jogadores imbatíveis,sem mácula,dispostos a perder de vez em quando. Quando entendessem,continuando sempre sem mácula,estariam senhores do jogo.

A PASSEAR

Aquilo era como preso por ter cão e preso por não o ter. Se aparecia coisa escrita,não valia nada. Se não aparecia,é porque andara por lá a passear.

terça-feira, 13 de abril de 2010

DADOS DE TEMPERATURAS E NÍVEIS DO MAR EM ESPANHA

http://www.sciencesetavenir.fr/depeche/20100413.AFP4702/l-espagne-se-rechauffe-plus-vite-que-le-reste-de-l-hemisphere-nord.html

CONVENTO DE MAFRA,MAFRA - PORTUGAL

http://www.flickr.com/photos/biblarte/3097173107/sizes/l/

Bliblioteca de Arte - Fundação Calouste Gulbenkian

VALE DE LOBOS - BULHÃO PATO

http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/bulhao04.htm

REGULAMENTO

Ele gostava de todas as sombras,menos de uma. São as excepções,uma fatalidade. E essa sombra,para ele,maldita,era a que alguém lhe fazia,quando acontecia actuarem no mesmo palco. Ficava gelado,o que muito o incomodava,o que não era de estranhar. Ninguém gosta de sombras assim. Pensou,então,não em livrar-se do causador de tal sombra,que isso seria demais,mas,simplesmente,da sombra má. Longe dele,consentia,mas ao pé,nem vê-lo. Como era homem de muitos recursos,sobretudo,de caco,não lhe foi muito difícil dar com uma airosa solução. Bastava alterar o regulamento,de maneira que o gerador da sombra que ele não suportava só pudesse figurar na assistência. E se de lá ainda tivesse artes para o sombrear,enfiava-se outra alteração no pobre regulamento,de modo a impedir-lhe a entrada. Já era embirrar demais com a sombra que o diabo do outro lhe fazia,pelo menos,era assim que se julgava. Mas tudo tem um fim. É que ele,como se referiu já,era homem de muitos recursos. E um homem assim tem de ser aproveitado para altos voos,o que aconteceu. Como o outro,coitado,era de voos cá por baixo,ficou o problema da sombra resolvido. Quem também veio a beneficiar foi o regulamento,que pôde,finalmente,dormir descansado.

NÃO

Era para já ter desaparecido,tanto ele tem sido usado,em tudo e mais alguma coisa. Trata-se do famigerado Não,quantas vezes expresso com muito má cara.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

JOSÉ MALHOA,1855-1933

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http://www1.ci.uc.pt/artes/6spp/imagens/malhoa_outono-1.jpg

De http://www1.ci.uc.pt/artes/6spp/columbano.html

SERIA BONITO

Parecia um pobre de pedir. Não era,mas andaria lá por perto. A fonte que o sustentara durante alguns anos secara de vez. Não se sabia do que vivia naquela altura,mas viveria mal. A roupa que usava era disto eloquente prova. Deixara, também, de pagar a renda da barraca. E uma manhã,fora apanhado a solicitar,humildemente,a compreensão da dona do palácio,que estava muito decidida a despejá-lo. Não teria coração esta mulher. Na sua frente,estava quase um inválido. De facto,ele mal se podia deslocar,pois as suas duas pernas tinham saído desiguais. Veja se consegue arranjar depressa o dinheiro,pois há gente na lista de espera. Ao lado,repousava a sua carrinha,novinha em follha,pejada de hortaliça e de fruta. Era a sua banca. Próximo,encontrava-se o mercado,mas ela preferia actuar sem concorrência. Escolhera aquele canto,escondido da autoridade,e ali multiplicava o capital das rendas. Os anos passaram,permitindo que o mundo desse muitas voltas. E voltas deram também as vidas destes dois. Viram-no ontem. Não parecia o mesmo. O fato que trazia era azul,sem uma mancha. Ela lá tem continuado no seu canto. A carrinha é a mesma,mas com muitas marcas de ferrugem. É isto fruto da demolição das barracas. Teria pensado em trocar a madeira por cimento,mas não se sentiria capaz. Ainda se irá ver o carenciado de muito tempo a salvar da falência a encrencada vendedeira de hoje? Seria bonito.

APARATO BELICOSO

É uso dizer quem vai à luta dá e leva. Acontece que há uns que só estão dispostos a dar,exibindo sempre um aparato belicoso.

domingo, 11 de abril de 2010

FERREIRA DE CASTRO E A SELVA

http://www.ceferreiradecastro.org/silas/index.htm

AMPLO VALE

Continuava com azar o senhor Joaquim. Lá se fora outra vez o rancho melhorado. A lebre estivera mesmo ali,de olhos bem abertos,como que feita estátua,à mão de a apanharem. Parecia hipnotizada. Ele viera,muito de mansinho,com a enxada em riste,pronta a cumprir a sua obrigação,e lá saltara a lebre,para ele nunca mais a ver. Ainda no dia atrás tivera a mesma sorte. Mas desta vez não fora só ele. Aqui,estivera muito bem acompanhado. Uma corda de caçadores vinha passando a pente fino o amplo vale. Lentamente avançava,homens e cães,uns e outros muito experimentados. Passaram e deram os bons dias. Boa caçada. Desapareceram,lá longe. Saiu dali,pouco depois,o senhor Joaquim. E mal ele dera dois passos,saltou-lhe à frente,uma senhora lebre,que num ápice se sumiu.Tantos homens,tantos cães. Faro embotado.

UM NOVO DIA

Andavam por ali muitas gaivotas,longe do mar,com tempo primaveril. Gostariam de águas com menos sal e daquela avenida ampla,um rio de dois países. Dando largas às suas energias,retemperadas pelo descanso da noite,era vê-las nas suas deambulações frenéticas,de lá para cá e de cá para lá,como numa brincadeira de crianças. Por vezes,fazia uma neblina,mas isso parecia não as perturbar. Davam mostras de serem imparciais,voando sensivelmente a meio da corrente. Não se sabe em que banda dormiriam,mas,pelo menos,naquelas evoluções matutinas mantinham uma certa equidistância. Havia outros navegantes naqueles ares,mas eram as gaivotas que dominavam. Parecia,às vezes,desistirem do vaivém lúdico,mas lá recomeçavam com redobrada determinação. Talvez fossem outras,entretendo-se a invadir espaço alheios. De qualquer maneira,aquilo seria também o seu contributo para festejar o começo de um novo dia.

BICHAS

Eram os castelos os últimos redutos,os últimos refúgios. E é de imaginar as bichas que se fariam para neles entrar e o que isso significaria de atropelos,de lástimas.

sábado, 10 de abril de 2010

SUMIÇO

Há anos que o prédio ali está,quase a desmoronar-se. É um dos mais velhinhos de uma via nobre,talvez a mais nobre. Um grande respeito lhe devem ter,para não o incomodar na sua agonia. Há uns tempos atrás,alguém,a autoridade,talvez,temendo que ele viesse a desabar,ceifando alguma vida,porventura, mais do que uma,que a artéria é muito concorrida,mandou isolá-lo com uma fita encarnada e branca. Esteve lá a fita meia dúzia de dias.Tal sumiço serviu de tema para acaloradas conversas. É que o moribundo,moribundo permanece,continuando o perigo a espreitar. Ainda ali vai acontecer alguma desgraça. Que teria sucedido para tal sumiço? Mistério insondável.

OS MAUS DA FITA

Olha o diabo dos corvos. Para o que lhes havia de dar. Viram-no ali sozinho e vá de nele se vingarem,atirando-se,vertiginosamente,em voo picado. É certo que não morria de amores por eles,sabe-se lá porquê,mas tinham errado o alvo. Não fora ele que dependurara os seus muitos irmãos,sem cabeça,ali expostos nos ramos das azinheiras. As cabeças serviam como prova,para um prémio. Diziam que davam conta das crias,de coelhos,de perdizes e demais familia. Esta disposição não seria só ali. Era capaz de estar muito generalizada. Uns bons anos passados,tivera ocasião de o testemunhar,em terra longínqua. Mostravam lá,com grande pormenor,os estragos que eles causavam. Eram os maus da fita.

INEVITÁVEIS MARCAS

Em arrastados tempos idos,estiveram na ordem do dia cruentas invasões,com as suas inevitáveis marcas cruentas. Uma vez terminadas,era de esperar que os que logravam ficar não teriam vida fácil.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

PASTAGENS E EMISSÕES DE ÓXIDO NITROSO

http://www.nature.com/nature/journal/v464/n7290/edsumm/e100408-08.html

CARTILHA MATERNAL OU ARTE DE LEITURA - JOÃO DE DEUS

Obra digitalizada - Biblioteca Nacional de Portugal.

O CULTO DA ARTE EM PORTUGAL - RAMALHO ORTIGÃO

Obra digitalizada - Biblioteca Nacional de Portugal.

ADOZINDA - ALMEIDA GARRETT

Obra digitalizada - Biblioteca Nacional de Portugal.

FOME DE DIAS

Nunca se vira por ali um nuvem assim,muito veloz,densa,para o escuro,barulhenta. Como que se fizera de noite. De repente,talvez a uma ordem,vem por aí abaixo,em medonho alarido,rumo ao azinhal,sobre o qual se desfez em milhares de pombos,semelhando um acto de magia. O ruído dos bicos,a atirarem-se às bolotas,merecia ter sido registado. Parecia um concerto de uma orquestra de castanholas. Deviam ter vindo de muito longe e trariam fome de dias. Não havia meio de o repasto terminar,pelo que aquilo deve ter sido uma razia de respeito. Os porcos dali teriam ficado a meia ração por larga temporada.

NA PRIMEIRA LINHA

Estava um pai de família, aflito,por não saber dar conta do recado. Tinha a casa cheia de batata,de milho ,de fruta,de vinho,do que quer que fosse para a boca,mas não havia meio de lhe aparecer alguém disposto a levar-lhe uma boa parte,de modo que valesse a pena. Esperava um ror de tempo,mas,por fim,não aguentava mais. Havia sempre alguém que estava à coca, na primeira linha. Pegava no telefone e avisava o homem das patacas. Olhe que há aqui vinha para vindimar. A cantilena era sempre a mesma. Apareça-lhe lá com um maço de notas, bem à vista, e ofereça-lhe dez. Aquilo valia vinte ou mais. Já sabe que depois não me esqueço de si. O que era que um pai de família,aflito,havia de fazer? Vender logo,claro. Andara meses a esforçar-se,sempre com o credo na boca,por causa das intempéries e das doenças,atolara-se em dívidas e depois era obrigado a entregar o produto do seu suor por uma mão quase cheia de nada. E ainda acabava por ficar em favor com o vizinho,por lhe ter arranjado comprador como não havia em mais parte alguma.

MÁRMORES

Muito podem as forças da Natureza. Que o digam as conchinhas dos mares,que,um dia,se viram convertidas em cristalinos mármores.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O SEGREDO

Era uma velhinha toda vestida de negro,cor que não largara desde a morte do marido. Servira devotamente naquela igreja anos a fio. Os anos não perdoam e tiveram de arranjar quem a substituísse. As voltas que naquela tarde ela deu em torno do túmulo do padroeiro. Tinha feito isso vezes sem conta. Mas parecia ser aquela a primeira vez. Aquilo devia ser a continuação de uma conversa que interrompera no dia anterior. Fora ela que cuidara da higiene do santo durante anos,mas de uma maneira de que só ela tinha o segredo. Talvez ouvisse queixas. A sua sucessora não trataria bem dele. Mas ela estava ainda ali para durar. Podia o santo estar descansado,que ela colmataria as faltas. Não fora em vão que cuidara dele aquele tempo todo. Em troca,o santo dera-lhe sempre excelente saúde,de tal modo que nunca precisara de médico. A filha bem insistia com ela,mas recebia sempre a mesma resposta. Estou todos os dias com o meu médico,não preciso de outro.Naquela tarde,dera a visita por terminada. Fez as despedidas como devia ser e lá abalou,sobraçando um enorme chapéu de sol,próprio para aqueles dias de verão tórrido.

UMA BARRACA

A casa onde ele morava não era sua,era verdade,mas contava lá passar o resto dos seus dias. E assim,de vez em quando,dava com ele a pensar na sorte que tivera. É que essa casa podia ter sido uma barraca.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

AS COMPRAS

O cãozinho rondava a porta do supermercado,talvez na esperança de que uma alma caridosa se lembrasse dele. Tinha todo o ar de ter sido abandonado e estaria com fome. De vez em quando, era enxotado,mas ele teimava. Mas a sorte nem sempre anda arredia. E a sorte visitou-o na figura de uma velhota,condoída e acusadora,que ia fazer compras. É uma vergonha. Os donos mereciam pesado castigo. Coitado do animalzinho. Espera aqui,que eu sei do que tu precisas. Não demorou muito. Aos seus apelos,ultrapassou todos na bicha da caixa. O cãozinho lá estava à espera dela. Não fora em vão. A velhota pôs a mesa e ali ficou a vê-lo a devorar o rico pitéu que lhe arranjara.As compras já estavam feitas,pelo que foi para casa. E o cãozinho lá voltou à sua vida.

GATO

Comera em diversos locais,ao sabor do nível da bolsa,na esperança de algum milagre,na fuga às intoxicações. Ainda sentia o travo do arroz e do feijão bolorentos,do óleo ultrarancificado,da manteiga feita de banha de porco,do peixe ardido,dos empadões misteriosos. Passara por pensões deste e daquele,por refeitórios,por cantinas. Estas,as de pior lembrança,especialmente a primeira. Acabara de desembarcar. Que saudades já dos cuidados da mamã. Nunca mais esquecera aquela dobrada com feijão,de presença tão repetida e de confecção tão requintada. Eram bem visíveis os buracos no feijão e o odor sugeria carne em adiantado estado de putrefacção. O concessionário,com ar de prosperidade,deambulava,descontraído,a recolher os elogios. A segunda, ou terceira,já se não recorda bem,também deixara saudades. À sexta-feira,davam coelho. Devia ser gato.

CITAR

Era a luta pela vida,era o salve-se quem pudesse. E assim,tratando-se de oficiais do mesmo ofício,nada de lembrar os outros,e, muito menos, de os citar.

terça-feira, 6 de abril de 2010

UMA OUTRA FONTE DE ÓXIDO NITROSO

http://www.nature.com/ngeo/journal/vaop/ncurrent/abs/ngeo803.html

SAL DA SUA VIDA

O frio já se estava fazendo sentir lá na terra. A maioria tinha de o suportar,como acontecera,alás,sempre,pois não lhes acudia outro remédio. Alguns até gostariam dele,para enrijar. Mas havia uns,uma meia dúzia,se tanto,mal começavam a esfregar as mãos para aquecerem ou terem necessidade de braseira,tratavam de arranjar as coisas para mudarem de poiso,o que faziam o mais depressa que podiam. De início,a mudança de ares reconfortava-os,mas, escasso tempo volvido,um progressivo mal estar envadia-os. Talvez fossem saudades do chão lá da santa terrinha. A causa era,porém ,muito outra,uma causa muito especial. É que lá,nessa outra terra,quase ninguém os conhecia,sendo tratados como uns quaisquer,o que não podiam suportar por muito tempo. Dessa maneira,maneira anónima,não valia a pena viver. Era como uma morte,uma morte sem glória. E,assim,mal os ares lá da santa terrinha se punham aceitáveis,apressavam o regresso,para voltar a receber os salamaleques devidos,o sal da sua vida.

PERSONALIDADES E CAUSAS

"E no passado recente,quanto mal tem sido feito a Portugal pelo facto de os homens se preocuparem muito mais com as personalidades do que com as causas".

De Cartas de D.Pedro V

CERTEZAS

Do alto dos seus vigorosos noventa anos,ele afirmava e negava. É o que lhe digo. Eu é que sei. Um homem de certezas.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

UM MUNDO URBANO

http://www.elpais.com/articulo/sociedad/mundo/hace/urbano/elpepusoc/20100405elpepisoc_5/Tes

DAR EM VENENO O REMÉDIO

Não era uma montanha,mas,por aquele andar,qualquer dia formava-se ali uma. E seria,então,obrigatório assinalá-la no mapa. Aquilo não podia continuar assim. Tinha de se descobrir um destino para todo aquele desperdício. E um dia,há sempre um dia,pareceu ter surgido um destino,um destino glorioso. Aquele montão vinha mesmo a calhar para resolver um problema de nível nacional. Viva o luxo,nada de coisas de trazer por casa. Fizeram-se umas contas, e tudo indicava que,com uma cajadada,matavam-se dois belos coelhos. A coisa parecia simples. E por ser assim, chamaram um jovem para tomar conta do recado. Com quem se foram meter,estavam bem aviados. O jovem era muito dado a complicações. Ele não tinha culpa,nascera daquela maneira. Em tudo via dificuldades. Ele lá tinha as suas razões,que bem lhe tinham custado a arranjar. É que não se podia aplicar aquele produto de qualquer maneira. Tinha de ser com muito cuidado,pois havia o risco de o remédio dar em veneno,o que não devia acontecer. Seria uma vergonha,seria um desacreditar pessoas e mais não se sabe o quê. Não era só fazer contas. Era preciso,sobretudo,fazer análises,e muito bem feitinhas. Lá acharam que o rapaz tinha razão. Mas naquela altura tinham mais que fazer. Depois o chamariam. Até hoje.

PORTA NA CARA

Os anos passavam,e não havia meio de o escolherem para primeiro. Assim,cansado de esperar,
bateu com a porta na cara.

domingo, 4 de abril de 2010

O RECIBO

Trazia-a fisgada. Aquele ar decidido,aquele olhar de poucos amigos,aquela cara de sarilhos não enganavam. Estava na bicha,mas deixavam que velhas como ela se sentassem. Nem pensar. Tinha de estar de pé,bem de pé,para nada perder. E surgiu uma infracção que ela não podia deixar passar. Alguém parecia querer intrometer-se,ultrapassando outros,ela incluída. Que é lá isso? Não esperou que os da frente reagissem. Que abuso é este? Então só ela é que protestava? O que era que as meninas da recepção estavam ali a fazer,não tinham olhos? E mais neste estilo. Afinal,o caso tinha a sua justficação,que ela ouviu mas não calou. Chegou a sua vez. Tinha uma consulta marcada. Para que médico? Não sabia, nem lhe interessava. Eram todos os mesmos. Lá pagou o que era devido,ficando ,de pé ,à espera de que a atendessem. Impaciente,não se cansava de perguntar se demorava muito. Por fim,lá se sentou,mas não completamente,assim como quem dobra apenas um joelho. A sua cabeça não parava,à procura sabe-se lá de quê. O recibo é que ela não largava. Parecia a conta que ele tinha de cobrar de alguém.

MUDAR DE RAMO

Emprestava dinheiro. Soube-se isso,não por portas travessas,mas da própria. Seria para ela um negócio como outro qualquer. E entrou em pormenores. Era tudo muito simples,sem papelada. Confiava,mas ai daquele ou daquela que lhe pregasse o calote. Nunca mais. Mas a maor parte cumpria. Pudera. Convinha-lhes ter sempre ali aquela tábua de aparente salvação. Humildes,honestos,incapazes de a prejudicarem,agradecidos,em jeito de manterem a porta aberta. Era uma mulher baixa,atarracada,de trunfa oxigenada. Os dedos,os pulsos,o pescoço, brilhavam. Não admirava,assim,que despertasse tentações. Ainda há dias a tinham derrubado e espezinhado. Aliviaram-na de alguns adornos e estivera por um fio. Nem a casa escapava. Estava lá apenas o marido,quase um inválido. E sabiam quem ajudara à festa? Uma que se dizia sua amiga. Uma falsa. Fora uma razia,mas restara ainda muito,graças a Deus. Isto estava impossível. A droga,o desemprego,a insegurança cresciam,a olhos vistos. A vontade dela era abrir banca noutra terra menos perigosa. Sim,porque mudar de ramo não estava nos seus projectos. As palavras saíam-lhe com dificuldade,o arfar tornara-se mais ruidoso,mas lá dentro morava uma força que a empurraria para novos empreendimentos de igual cariz.

QUATORZE IRMÃOS

Era um homem alto,com ar de muito doente. Ainda não fizera setenta,mas parecia ter cem. Teriam sido os duros trabalhos no mar,em muitos mares,na pesca do arrasto. Seguira a vida do pai,dos seus,uma família de pescadores. Eram quatorze irmãos. Seriam mais,se o pai não tivesse morrido tão cedo,aos quarenta e um.

sábado, 3 de abril de 2010

UM DESAFORO

A senhora estava muito transtornada.Vejam lá o grande descaramento. O que se irá ver mais? Sim,que depois desta,virão mais exigências. Não se vão ficar por aqui. Querem-no todo para eles. São insaciáveis. Uma coisa destas. Tenho de desembolsar,assim sem mais nem menos,de uma assentada,umas largas dezenas de contos. Não havia meio de se habituar aos euros. Não estava à espera. Aonde é que os vou arranjar,assim tão de repente? É como um assalto. Estou a ver que tenho de fechar a porta. Também já vou estando velha. Já não tenho a paciência de outros tempos,de quando era nova. Um dia destes,batem com a nariz na porta. São,afinal,como os outros,de triste memória. E eu que depositava neles tantas esperanças. Enganaram-me,muito bem enganada. Isto é tudo a mesma gente. Já devia ter aprendido,com a idade que tenho. Não há em quem nos fiarmos. Como eu,estão muitos outros. Não sabem o que hão-de fazer à vida. Também não contavam. Mas não têm outra saída,que é ficar sem o seu rico dinheirinho. E ele que custa tanto a ganhar. Aquilo metia um grande dó,pobre da senhora,pelo que seria bom que alguém a animasse. Não se preocupe assim tanto,pois,quando for do acerto,irá ser reembolsada. A senhora não paga contribuição? Então não havia de pagar? Pago sim senhor,sou muito cumpridora. Pago o IVA. Nunca faltei. Não lhes bastava isto? Ainda querem mais? É mesmo um desaforo.

ALARDEAR

Mesas de quatro alinhavam-se no vasto refeitório. Não havendo lugares marcados,abancava-se no primeiro que estivesse vago. A fome era muita e o tempo não estava para esquisitices. Um estudante não era mais do que um bate-chapas,antes pelo contrário. Foi assim que ele se deu a conhecer. Ganhava bem,mesmo muito bem,melhor do que esses doutores,um dia,quereria ele insinuar. Além da oficina,tinha,ainda,uns bons biscates. E podia,até,estar a ganhar mais,se tivesse aceitado ir para o Canadá. Dá-me jeito vir aqui,pois fica perto. Não se come nada mal e poupa-se. Podia ir a um restaurante,mesmo dos caros,se me apetecesse,como tenho feito muitas vezes. Estava a alardear. Mas isso fazia parte da sua rica personalidade. Houve então alguém que não resistiu a provocá-lo. Estava a pedi-las. Certamente que a sua mulher e filhos o acompanham nessas ocasiões. Mulher e filhos? Livra. Eu tenho mas é duas,uma,até à meia- noite,e a outra,da meia-noite em diante.

MESMO LADO

Ele era cada um para seu lado,como tinha sido bem visto. Mas, um dia,decidiram ir para o mesmo lado. Aconteceu isso,por estarem fartos de ver um outro lá num certo lado.

CAIR NOUTRA

Fora ele um desastrado na condução da sua grande casa. Talvez por isso,escolheram-no para conduzir uma maior. É que,com a experiênca adquirida,não iria,certamente,cair noutra.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

SOBRE O CHOCOLATE

http://www.sciencesetavenir.fr/actualite/sante/20100401.OBS1761/chocolat-feu-vert-pour-la-chasse-aux-ufs.html

ACIDIFICAÇÃO DOS OCEANOS

http://www.sciencedaily.com/releases/2010/03/100330092821.htm

MEIO DIA ...

http://www.flickr.com/photos/paulogama2z2/4480915399/sizes/o/

Título do autor

SÃO COMO BANDOS...

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJAFADRCGVY0_R4RzHtkvO2QkiL8Oi8FsWl8kkAdmz32Zu0C5NoLvO-d50sEwhUWmeBEjpltpbJAVrRnO58Z1_qS6LIcSoZ2OHCbBCVF0oTppC4VDUmQDiNfN9sNdQL15HmLn0brbnQ6s/s1600/P3285706b.jpg

Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

Titulo do autor

CANETA DE TINTA VERDE

Aparentava uns quarenta anos e na boca faltavam-lhe alguns dentes da frente. Os olhos eram de criança. Estaria numa grande ansiedade,pois, mal alguém lhe apareceu ,não se conteve. Escreva aqui nesta agenda o que lhe vou dizer. Tinha já uma caneta preparada. A tinta era de um verde claro,muito brilhante. Tratava-se do nome de um médico e da sua morada,da qual não estava muito certo,mas parecia isto ser-lhe indiferente. Não sabia escrever. Não calhara. Mas olhe que ainda vai a tempo. E,depois,tem aqui uma bonita caneta. Via-se que gostava muito daquele brinquedo. Fora uma prenda da mãe,pelos seus anos. E tendo ouvido gabá-la,deixara-o muito satisfeito. Não sabia escrever,mas sabia ler. E quando o disse,quereria que se soubesse que ele não era para ali um qualquer. Pois não era.

GIGANTE AGRADECIDO

Coitado do homenzinho,coitado do pobre vendedor ambulante. Não havia cão nem gato que o não injuriasse,às vezes maltratando-o e até roubando-o. Mas, um dia,tudo mudou. Ai daquele que lhe tocasse ,que teria à perna um gigante,que ele,em boa hora,socorrera. Era um gigante que trazia toda a gente lá da terra em pânico,mas certa vez bebeu demais e foi um ver de te avias. Ficou numa lástima,feito num trapo,quase morto. Pois foi o vendedor de rua,aquele pobre diabo,que dele se abeirou,servindo de bom samaritano. O gigante era agradecido. E,logo que recuperou,arvorou-se em protector do seu anjo da guarda. Este passou a pavonear-se lá na terra ,vingando-se dos maus tratos que lhe tinham infligido durante anos,certo de que a sua vida radicalmente mudara.

De um conto de Gorki.

PADRINHO

Olhe,desta vez,vou esquecer tal maroteira,mas, se reincidir,pagará a dobrar. Era o representante do faltoso que isto ouvira. Valera ao que a fraude cometera ser representado por alguém que um bom padrinho protegia.

TRIBUNAL

Havia um prazo a cumprir,e ele falhara por meia dúzia de dias. Bem,desta vez,escapa,mas olhe que se arriscava a ir a tribunal. A ouvir isto, estavam paredes revestidas de quadros,valendo milhares,ou milhões. A que um pobre se arrisca a ouvir.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

VISTA DE PORTEL

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Título do autor

ALQUEVA

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ORIOLA

Junto a Portel. Por ali tinham andado os romanos e cheirou-lhes a ouro. Muito sabia aquela gente. Vinha dos lados de Alvito. Montados e mais montados. Terra colinar,escalavrada,de tons avermelhados. De súbito,numa baixa,surge um aglomerado de casas. Parecia uma enorme ave pousada,de plumagem branca. O sol batia nas casas,que resplandeciam. Os olhos,saturados de vermelho,a custo suportaram aquela alvura. Uma miragem,não podia ser outra coisa.

CONTA CORRENTE

Tinham passado uns largos anos,mas ele nunca se esquecera da dúvida que alguém tivera acerca da sua conta corrente. Olhe que eu não me quero arrepender. O que um pobre tem de ouvir.

MÃOS NOS BOLSOS

Então,é assim que se apresenta,com as mãos nos bolsos? Não mais esqueceu tal reparo. É que a ouvi-lo havia testemunhas,que teriam concluído que o moço não se andava a portar bem. Para castigo,iria passar uns dias a encher sacos com uma certa pedra,lá longe,onde havia muita.
Mas porque traria o moço as mãos nos bolsos? Talvez a preparar-se para o frio que o esperava.