quinta-feira, 15 de abril de 2010

AR PENDURADO

Naqueles últimos tempos,a vida não lhe correra nada bem,pelo que o seu ar não seria dos melhores. Mas era o ar possível naquela altura,a mais não devia ser obrigado. Aconteceu que teve de ir a uma entrevista,porta de acesso a um emprego,que,seguramente,lhe daria um outro ar. Mas nunca pensou,nem ninguém lhe disse,que o ar seria um factor determinante. Pois foi precisamente o ar que o desclassificou,vindo disto a saber indirectamente. Um outro concorrente teve a franqueza,ou a rudeza,de o revelar,um segredo que não devia ter transpirado. Mostrara um ar pendurado. E, para aquele lugar,este ar não servia,pelo que se ouvira. Mas porquê?Durante algum tempo,isto não lhe saiu da cabeça. Mas era evidente que o ar teria pouco ou nada a ver com a natureza do trabalho. A razão deveria ser outra. O tal ar pendurado não ficaria bem nos intervalos ou nos seus remates. Seria um ar que perturbaria as conversas de corredor ou as festas de fim de semana. Seria ele,afinal,um desmancha-prazeres. E assim,não,mil vezes não. O trabalho seria,pois,uma coisa secundária. O que se tornava essencial era mostrar um ar sempre bem disposto,sempre com um sorriso nos lábios,e dispor de um manancial de anedotas para entreter os ócios.

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