sexta-feira, 23 de abril de 2010
CHEIO DE SORTE
Parecia que aqueles domínios eram do moço. E assim,logo que ficava livre,cumpridas algumas formalidades,lá ia ele,feito capataz,revistar todos os cantos. Era isso um claro sinal da estreiteza do seu viver,de horizontes acanhados. Diante daquela largueza,daquela riqueza,quase se julgava seu dono,ou fazendo parte da sociedade que a explorava. Não havia buraco,pode dizer-se,que ele não esquadrinhasse meticulosamente. Mas, sem dúvida,era a horta,aquela grande e verdadeira horta,que mais o prendia,talvez por haver nela com que confeccionar muitas refeições. Conhecia de cor todos os seus componentes,as noras,os tanques,as caleiras,os talhões,as árvores. Após um reconhecimento,como que a ver se estava tudo no seu sítio,escolhia uma sombra para uma observação envolvente,de senhorio total. Preferia um dos extremos,onde famílias de melros se recolhiam. Julgava-se no paraíso. Por tudo isso,e ainda mais uns acrescentos,que não se podiam deitar fora,ficava consolado por uns tempos. Sabia,de antemão,que ao fim deles era lhe permitido repetir a dose. Sempre era uma compensação de vulto,coisa que muitos não teriam. Era,afinal,um moço cheio de sorte.
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