quarta-feira, 28 de abril de 2010

EGOÍSMOS

Ah, estes julgamentos apressados,levianos. Quantas vezes, muito diferente a realidade é. Um nunca acabar de enganos. Ele não era muito velho,mas mostrava um ar acabado. Viam-no sair de casa,às vezes,um tanto cedo. Sempre sozinho,do olhos no chão. Iria dar a sua volta higiénica,distrair-se. Em tempos,acontecera ter com ele uma conversa curta,que sugeria ter-lhe sucedido coisa desagradável lá no seu escritório. Sempre triste,andaria curtindo mágoas. E um dia,calhou, mais uma vez,um encontro. Então,vai dar o seu passeio? Antes fosse. Alguma coisa de grave? Comigo,não. É que eu visito, todas as manhãs, uma velhinha que não pode sair de casa. Não é bem uma visita. Presto-lhe assistência. Coitada dela,para ali sozinha,sem ter quem a ajude. Olhe,é o meu entretém. Vou até lá e sempre lhe torno a vida um pouco mais leve. E esta? Quem diria? E a julgar-se que ele ia ver as vistas,estar com um ou outro amigo, num café,ler o jornal,muito provavelmente,desportivo. E afinal,o senhor ia prestar assistência a uma velhinha que não lhe era nada,apenas um antigo conhecimento. Quem é que iria supor,neste tempo de egoísmos?

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