quinta-feira, 29 de abril de 2010

TUDO INVEJAS

Ele estava naquele dia com melhor cara. Tinham-lhe telefonado logo de manhã a dar uma notícia que muito o aliviara. Era,de facto,caso para isso. O filho terminara,finalmente,o longo curso. Já era doutor. Sacrificara-se muito. Mas tivera grande amparo no patrão que o contratava mais vezes. Emprestara-lhe terra,gado e alfaias para ele fazer umas searas de melão e de melancia. Assim,conseguira arranjar dinheiro para educar o filho. A menina,a filha do patrão,também tinha colaborado. É muito amiga do meu rapaz. São quase da mesma idade e foram colegas no liceu. Desconfio que ela gosta muito dele,a modos de o querer como marido. Ele,não sei. Conheço-o bem. Não quer que o achem interesseiro. Ainda que gostasse dela para casar,não o diria. Nunca namorou,pois viveu sempre para o estudo. Sabe que o pai tem passado muito e não o quis desiludir. É um bom rapaz. Se ela quisesse,daria um excelente marido. Ele havia de arranjar um emprego capaz,de maneira a não precisar da ajuda do sogro. Eu bem sei que o dinheiro é todo dela,pois não tem irmãos. Casaria com separação de bens, seria ele mesmo a exigi-lo,e eu estaria de acordo. E,depois,calava aí umas bocas. Já as tenho ouvido,mas não lhes ligo. Falem,falem,que aquilo são tudo invejas. O certo é que não há muitos como o meu filho. Inteligente e honesto. Sabe-se pôr no seu lugar.

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