segunda-feira, 12 de abril de 2010

SERIA BONITO

Parecia um pobre de pedir. Não era,mas andaria lá por perto. A fonte que o sustentara durante alguns anos secara de vez. Não se sabia do que vivia naquela altura,mas viveria mal. A roupa que usava era disto eloquente prova. Deixara, também, de pagar a renda da barraca. E uma manhã,fora apanhado a solicitar,humildemente,a compreensão da dona do palácio,que estava muito decidida a despejá-lo. Não teria coração esta mulher. Na sua frente,estava quase um inválido. De facto,ele mal se podia deslocar,pois as suas duas pernas tinham saído desiguais. Veja se consegue arranjar depressa o dinheiro,pois há gente na lista de espera. Ao lado,repousava a sua carrinha,novinha em follha,pejada de hortaliça e de fruta. Era a sua banca. Próximo,encontrava-se o mercado,mas ela preferia actuar sem concorrência. Escolhera aquele canto,escondido da autoridade,e ali multiplicava o capital das rendas. Os anos passaram,permitindo que o mundo desse muitas voltas. E voltas deram também as vidas destes dois. Viram-no ontem. Não parecia o mesmo. O fato que trazia era azul,sem uma mancha. Ela lá tem continuado no seu canto. A carrinha é a mesma,mas com muitas marcas de ferrugem. É isto fruto da demolição das barracas. Teria pensado em trocar a madeira por cimento,mas não se sentiria capaz. Ainda se irá ver o carenciado de muito tempo a salvar da falência a encrencada vendedeira de hoje? Seria bonito.

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