quarta-feira, 21 de abril de 2010

PELE TIRADA

Era um homem alto,magro,de olhar confiado. Fora um dos primeiros a arrancar para a França e,já regressado,estava agora ali naquele emprego de jardineiro. Com o dinheiro que amealhara,pusera casa que se visse e ainda comprara uns pedaços de terra,onde gastava as horas livres. Murara-os com videiras e enchia-os de milho. Engordava,ainda,dois ou três vitelos barrosãos. Naquela altura,andava muito desanimado,pois concluíra que se esforçava em vão. Uma pessoa trabalha,entrega bom dinheiro pela semente,pelo aluguer do tractor,pelos animais,pela ração,pelo adubo,e,depois,é o que se vê,um quase nada. Os intermediários queriam levar tudo. Esperava,a ver se chegavam a um melhor preço,mas estavam todos combinados. O milho do ano anterior ainda estava por vender. Quanto ao gado,dizia-lhes que era carne de primeira,o que era verdade. Pois sabiam o que é que lhes ouvia? Depois da pele tirada são todas iguas. Assim,estava decidido a ficar só com o vinhito. Trabalhassem eles.

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