sábado, 3 de abril de 2010

UM DESAFORO

A senhora estava muito transtornada.Vejam lá o grande descaramento. O que se irá ver mais? Sim,que depois desta,virão mais exigências. Não se vão ficar por aqui. Querem-no todo para eles. São insaciáveis. Uma coisa destas. Tenho de desembolsar,assim sem mais nem menos,de uma assentada,umas largas dezenas de contos. Não havia meio de se habituar aos euros. Não estava à espera. Aonde é que os vou arranjar,assim tão de repente? É como um assalto. Estou a ver que tenho de fechar a porta. Também já vou estando velha. Já não tenho a paciência de outros tempos,de quando era nova. Um dia destes,batem com a nariz na porta. São,afinal,como os outros,de triste memória. E eu que depositava neles tantas esperanças. Enganaram-me,muito bem enganada. Isto é tudo a mesma gente. Já devia ter aprendido,com a idade que tenho. Não há em quem nos fiarmos. Como eu,estão muitos outros. Não sabem o que hão-de fazer à vida. Também não contavam. Mas não têm outra saída,que é ficar sem o seu rico dinheirinho. E ele que custa tanto a ganhar. Aquilo metia um grande dó,pobre da senhora,pelo que seria bom que alguém a animasse. Não se preocupe assim tanto,pois,quando for do acerto,irá ser reembolsada. A senhora não paga contribuição? Então não havia de pagar? Pago sim senhor,sou muito cumpridora. Pago o IVA. Nunca faltei. Não lhes bastava isto? Ainda querem mais? É mesmo um desaforo.

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