domingo, 18 de maio de 2008

DE INVEJAR

Um dia,o senhor António desabafou. Andava há tempo para o fazer,mas não se atrevera.Você já reparou bem no estado em que anda? O calçado é uma vergonha e a roupa vai pela mesma. Hoje está toda enlameada,mas já a tenho visto coberta de poeira. Depois,anda para aqui a pé,dum lado para outro,porque doutra maneira não pode ser.
Tenho pensado muito,mas não há meio de entender porque é que não tirou outro curso,como o de médico ou de leis. Os que conheço lá da terra levam uma muito melhor vida. Ora se levam. Você pode gostar muito do que anda fazendo,mas olhe que não lhe gabo o gosto. Então não era melhor ser doutor delegado,como o de lá da vila,que tem um lugar marcado lá no cinema e anda vestido que nem um fidalgo?
Não me diga que não é outra coisa. Eu cá não tirava o seu curso. Tantas letras,tanto aturar professores,tantos exames,e,depois,para quê? Para andar aqui feito labrego,com sua licença,quase como eu. É certo que há uma grande diferença,mas a vida do doutor delegado ou do doutor médico,isso é que são vidas,de invejar.

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