domingo, 4 de maio de 2008

UM SÓ

Isto de haver gostos diferentes,ou outra coisa no género,ou na espécie,assim como pareceres,opiniões,sensiblidades,o diabo a quatro,dá muito jeito a certa gente. É que esta tralha toda,para falar bem e depressa,como dizia o tio Joaquim,o que morava ali à esquina e já não mora,sabe-se lá porqê,quando há permissão para os mostrar,precisam de ser defendidos,como é do conhecimento geral. Mas aqui põe-se um grave problema,a pedir urgente solução,urgente por ser vital,ou,melhor,porque faz parte da vida,do dia a dia dela,uma coisa comezinha,como se fartava de dizer o tio Joaquim. A falta que ele está fazendo.
Quem é que a vai defender,a tal tralha,que já ia ficando para trás? Eu cá não,porque sou gago,ouve-se ali,à direita,eu também não,porque sou um burro,os meus paizinhos não tiveram massa capaz para me pôr lá nos estudos,e a pena que eu tenho de não os ter,vem ali da esquerda,eu nem pensar nisso,porque nasci com uma forte ronqueira,que não há meio de me largar,e estou a ver que me finarei assim,quase que se não dá com a voz que vem lá do centro,eu muito menos,porque saí feio e isto de ser feio é logo para deixar de ligar,queixa-se o de canto nenhum,um independente,assim chamado,outro ainda,que tinha estado calado,a ver como param as modas,mas que acaba por confessar que não tinha feitio para essas coisas,que a vida dele era o trabalho,tinha sido sempre assim,até nem se tinha dado nada mal,assim não viessem doenças,coisas malignas,enfim.
E agora? O sarilho em que se está. Fica então o campo aberto,pois é mesmo de campo que se trata,daquele para cultivar,não para se deixar invadir por ervas daninhas,ali bem preparadinho,para outros avançarem,os assim predestinados,pois já nasceram com os genes da boa condução da coisa pública,da coisa de todos. São os inteligentes,os de olho vivo,os de palavra na ponta da língua,os, em suma,para se chegar depressa ao fim,os predestinados. Mas há ainda que fazer entrar no desfile,porque fazem lá muita falta,pois, sem eles, aquilo era uma tremenda chatice,os do contra,os tais que não se consegue descortinar,nunca,onde se querem sentar. Ainda bem que os há,diria ainda o saudoso tio Joaquim,afinal já se sabe onde ele pára,morreu,está lá em cima,como os anjos,que ele anjinho era. É,afinal,a biodiversidade que Deus criou,quem é que havia de ser? Se fosse tudo igual,seria uma tremenda sensaboria. Nem valia a pena abrir a porta do espectáculo,pois ficaria,certamente,às moscas.
E esses ,os predestinados,este rótulo fica-lhes muito bem,não é de ir à cata de outro,e mesmo até se podiam zangar,e isso é que não,zangados é o que não falta para aí,há quem o diga,com razões ou sem elas,organizam-se,montam banca,arranjam tabuleta,cotizam-se. De resto,isto de cotizar é transversal,atinge tudo e todos,as colectividades,os clubes disto e daquilo,mas,sobretudo,e aqui tem de se ter muito respeito,sobretudo dos do futebol. É que o futebol manda. Quem é a ele alheio,não conta,é como se não existisse. Mas há mais. É uma enfiada deles,são museus,são bibliotecas,são universidades,são sítios,para se falar português,na internet,é o mundo inteiro,tudo suspenso de cotas.
E com as cotas lá se vão governando. Mesmo lá,naquelas irmandades,que se vê, à légua,que não têm futuro. Até um ceguinho vê. Mas são teimosos,não querem dar o braço a torcer,deixe-se passar a metáfora. Não há meio de compreender o homem,com letra grande,só Deus. Nosce te ipsum,já lá diziam os romanos. O Eclesiastes,esse velhinho,disse umas boas verdades. Talvez se conhecesse,quem sabe.
Mas tem de se acabar. Em resumo,isto só ia ao eixo,embora ele já exista,o que é uma aberração,se todos fossem um só. Podia parecer bruxaria,mas é mesmo verdade. Um só,sem tirar nem pôr. Um só rebanho e um só pastor. Frase linda,não é? São um sarilho as palavras,palavras sem miolo,só côdea,e côdea dura. Onde é que se já ouviu isto? Ouviram alguns. Lá se está outra vez a fugir. É que esta Bola que gira,sem ninguém,ninguém cá de baixo,meter para ali prego ou estopa,não é só a Europa. Pois não é. Outro grande sarilho,para um só rebanho,só um pastor. Como se irá sair desta? Mas não se vê outra saída. Um só. Era o remédio.
E a lição é todos os dias dada. Basta olhar parao cèu,à noite,noite estrelada. Tantas estrelas,tantos planetas,os entendidos dizem que sim,tantas galáxias. Milhões e mais milhões,e tudo aquilo ali,há tantos anos,sem desentendimento,pelo menos aparente. Que diabo, é asim tão difícil construir-se um acordo,uma paz,nos paisezinhos,pequenos ou grandes,que todos eles,afinal, são,coitadinhos,ali prisioneiros,numa Bola que gira,gira,sem meterem prego ou estopa? É assim tão difícil, com tantos Chefes,Grandes Chefes,em todos os cantinhos desta Bola que gira,gira,sem nem um Grande Chefe meter para ali prego ou estopa? É assim tão difícil? Tantas guerras,mesmo nesta Europa,dita cristã. Aquele passado. Sempre uns contra outros,porque havia alianças. E lá se está a cair no mesmo. Irmãos contra irmãos. Aquilo tinha algum jeito? Ai,os tais valores,que alguns,os tais Grandes Chefes,vão atirando à cara de todos. Os valores. É assim tão difícil? Tantas cabeças,tanta massa cinzenta,parece que é assim que lhe chamam. Mas,sobretudo,tanta fominha. Até se ouvem os estômagos a chorar. E dá vontade de chorar também . Tanto bilionário ou trilionário. E,depois,compram-se quadros por milhões. Quadros de desgraçadinhos,como os do pobre Van Gogh,que,dizem,não conseguiu vender um sequer,ou ,se vendeu, deram por ele meia dúzia de tostões. Os valores. É assim tão difícil?

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