sexta-feira, 6 de junho de 2008

UM BINÓCULO

Fora ali que um certo desejo lhe tinha surgido. Fora ali,também,
que um outro homem se sentara a seu lado. Trouxera esse homem um binóculo. Tirara-o de um saco de plástico,um vulgar saco de compras. Tinha adquirido aquele brinquedo numa espécie de feira da ladra. E vinha experimentá-lo,o que, imediatamente,se pôs a fazer.
Não imagina como tem sido a minha vida,uma vida sem horizontes. Morei sempre em caves,umas melhores,outras piores. Foram sempre muito pobrezinhos,assim,os panoramas que os meus olhos viram. E chegou a altura de os enriquecer.
Ainda bem que comprei este binóculo. A velhota diz que eu endoidei,mas a mim não me importa. Estou a gostar do que vejo. Já me devia ter lembrado disto há mais tempo.
A conversa estava a agradar-lhe. Parecia uma revelação. Não tinha vivido em caves,como aquele,mas era,de algum modo,o que lhe tinha acontecido. E àquele estímulo,um desejo brotou nele. Havia de arranjar,também,um brinquedo,mas um muito melhor. Não iria a uma feira da ladra,embora,talvez,lá o encontrasse. De alguma coisa lhe teria servido o não ter vivido sempre em caves.
Não disse ao parceiro do lado qual era esse brinquedo,para não o entristecer. E,um dia,experimentou-o,e gostou muito do que viu.

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