sexta-feira, 20 de junho de 2008

EMBRUXADO

A sala onde tinham lugar as reuniões parecia um museu. Dificilmente se circulava entre os móveis ,atravancados de fotografias de família e de toda a espécie de bugigangas. A luz do dia,coada por pesadas cortinas,mal permitia ler.
A dona da casa, uma senhora muito alta e muito magra,de fundas olheiras negras,sempre trajada de escuro,aparecia,às vezes,vinda de um quarto soturno. Os seus passos eram lentos,um tanto arrastados. Raramente falava. E quando a isso se dispunha,a sua voz era lúgubre e quase inaudível.
A casa tresandava a mistério e dela se exalava um leve cheiro a coisa recentemente queimada,de mezinha,talvez para anular más influências,maus olhados. Sempre que se tinha de lá ir era com alguma relutância. Deviam andar por ali bruxas.
Passou-se isto há muitos anos,mas a desagradável impressão permanece,sem se atenuar. Teria ficado embruxado? Sabe-se lá.

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