COM TEIAS DE ARANHA

O que teria pensado a senhora marquesa,de regresso à sua quinta,ao ver ali aquele moço,agachado,debaixo de um chaparro,a examinar o seu chão?
A esta hora?,perguntava o senhor conde ao moço que lhe acabara de bater ao portão. Eram sete da tarde,e tinha feito antes um calor de rachar,um calor dos diabos,não inteiramente desaparecido.
Ainda um dia vou ficar aqui. Uma chuva de granito desabara ali à volta. Fora por um triz. Nem sempre avisavam a tempo.
Mas que família aqui está no fundo desta cova,onde permanecia um bocadinho de frescura. E eram formigas grandes e maneirinhas,e eram lagartixas,e eram ratinhos.
Pobre do cágado pachorrento,que dera em aparecer naquela altura. Daquela vez escapara,mas não tardaria em marchar,pois era melhor do que galinha.
Olhem quem vai ali muito apressada. Uma perdiz,com os seus perdigotos,a ver se escapava. Daquela vez,escapou.
Onde está a felicidade?,um título de Camilo. Pois esteve numa panela de libras,deixada sob a tábua do soalho,quando da fuga,com medo do inimigo. Não teve ele uma sorte equivalente,e tantos foram os buracos que examinou,à volta de importante urbe e de meia dúzia de vilas. Apenas cacos,do tempo dos romanos, ou dos árabes ou de mais atrás.
Oh patrão,olhe o que eu achei,quando andava lá a lavrar. E foi o renascer de uma vila,lá do tempo dos romanos.

Mas esta areia,que aqui está por cima,não tem nada a ver com a rocha que está por baixo. Pois não. É que em tempos,muitos milhares de anos atrás,andara por ali um lago ou um mar. E aquilo não passava de um depósito.
Estava uma barragem a ser galgada,um espectáculo a não perder. Era um domingo,de manhã,e a chuva caía,que Deus a mandava. Lá foram,para poder contar.
Se voltarem,peço-lhes que não batam à minha porta. Fiquei muito cansada. Teria ficado,mas,talvez também arruinada,pois esmerara-se em obsequiar.
Chamava-se Caridade a terra. Pois alguém não a tivera,e fora também a sua desgraça.
Olha ali um lince,à frente do jipe. E ele,como que voando,não o poupou.
Coitadinho dele,tão novo,e já a precisar de dieta. E dava-lhe leite e caldos de galinha.
Comia quando calhava,onde calhava e o que calhava. E o que calhava,quase sempre,eram ovos com chouriço,bem untados. Uma desgraça.