quarta-feira, 16 de julho de 2008

TRAÇOS DE CRIANÇA

Era uma sala de espera,que se foi enchendo. Ele foi dos primeiros a chegar. Mal se sentou,abriu uma mala atafulhada de papéis,tirou de lá o pequeno-almoço e armou ali mesa. Estava muito atrasado,pois a manhã já ia a meio. Marchou,primeiro,uma carcaça e companhia,que não deixou de mirar,enquanto mastigava,deliciado. Seguiu-se um pacote de leite,que esgotou até à última gota,espremendo-o.
A sua cara,de homem,aí de uns quarenta,mostrava,ainda,traços da criança que fora. Andava na distribuição de propaganda de um instituto de línguas. Eram cursos de inglês,de francês,de italiano e de alemão. O alemão devia ser o mais fácil,no seu entender. Quanto ao francês e ao espanhol,esses é que eram puxados. Mas havia lá bons professores.
Naquela manhã,começara tarde,pois tivera de ir pagar a água e a luz,visto ser o último dia. Mas contava dar conta do recado. Tratou,primeiro,daquela sala,que entretanto ficara bem composta. A mala ficou um pouco mais leve. Depois,tapando a calva reluzente com um boné de pano branco,lá a foi esvaziar.
Enquanto esteve matando a fome,os seus olhos mostraram alguma inquietação.Estaria com receio de que o apanhassem ali sem estar a trabalhar.

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