segunda-feira, 28 de julho de 2008

QUE ALÍVIO

Não se pode imaginar como o velho ficou de contente. Ele que já estava a ver a vida a andar muito lá para trás,para os tempos em que ele era menino. As desgraças que ele via lá do seu postigo,só visto,contado não tinha graça mesmo nenhuma. Uns horrores era o que aquilo era.Velhinhos a pedirem uma esmolinha pelas alminhas daqueles que lá tinham,nos Cèus. Aquelas bichas intermináveis à porta de casas ricas,em dias certos,e de quartéis todos os dias.
E outras desgraças mais,em feiras,em romarias,nos cruzamentos,às esquinas,por toda a parte. Chagas ali,como numa montra,a solicitarem uma ajudazinha. E as moscas ali à roda. E os ranchos,que lá vinham das serras,para as vindimas,para as ceifas,para a azeitona,e que eram aboletados,como gado,em casas de malta? Uns horrores.
Mas o que ele estava a ler, naquela altura,em que uma alegria enorme o tomara,não era para menos. E não haverá ninguém que possa vir dizer que o velho não estava cheio de razão. É que o que ele estava a ler era--"Ao contrário da ideia corrente de que o Estado-Providência é coisa do passado,ele irá afirmar-se mais na América". Que alívio.

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