segunda-feira, 14 de julho de 2008

ENCANTADO

O homem acordara bem disposto. Estava um dia de sol. Esqueceu dívidas suas e de outros,esqueceu a tristeza que vai por esse mundo e apeteceu-lhe vadiar. E lá foi,não para muito longe,que as pernas já lhe iam pesando. De resto,ele estava convencido de que,tirando umas certas pequenas diferenças,esse mundo é todo igual.
Tomou um transporte público,e ,quase não tinha aquecido o lugar,apanhou com um muito obrigado humilde,só por ter facilitado a saída do parceiro do lado. Começava bem a digressão.
Lá onde desembarcou,eram só manifestações de lazer,a imitá-lo,ou ele a imitá-los,tanto faz. Uns andavam,para lá e para cá,tal como ele,uns saltavam,uns corriam,uns pedalavam,uns pescavam,uns torravam. Também voavam gaivotas e mourejavam duas ou três famílias de gatos. A estes,comida não faltava,que alguém deles cuidava,que bem se via. Mas um,naquela altura,estaria para outra iguaria virado,pois de teimosa perseguição uma gaivota se livrou.
Tantos eram os que lá se entretinham,que na bonita igreja apenas se encontrava uma alma. Mas esta enchia-a toda.Era voz que encantaria o próprio céu. Bem precisaria este de tal encantamento. É que lá fora,um estranho grupo actuava. Estavam ali por causa de um morto,mas eles bem vivos se mostravam,bem vivos e bem dispostos.
Ele também viera de lá encantado. E mais encantado ficou,quando, a uma inquirição sua , uma senhora pronta e alegremente o informou. Parecia estar à espera de que alguém dela precisasse.
Correra-lhe bem,pois,a digressão desse dia. Era para,mais uma vez,agradecer a Quem dos dias se encarrega.

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