segunda-feira, 21 de julho de 2008

PERGUNTAS SEM RESPOSTA

Coitado dele,estava mesmo velho. Sabia-o por si,dispensava que algum amigo de Peniche o lembrasse.

Não era só o BI a dizê-lo. Um ror de mazelas dava-lhe essa informação. De noite,acordava,pendularmente,ao mando da próstata. Felizmente,não era de insónias,pelo que mergulhava logo no mar dos sonhos. De dia,vá que não vá,mas não podia estar sentado muito tempo em bases fofas. Um formigueiro tomava-lhe as pernas. Calosidades múltiplas emperravam-lhe o andar. Ao nível dos joelhos e dos cotovelos,a pele convertera-se em escamas. Nos cantos da boca,instalavam-se fissuras. Os dentes tinham dito adeus para sempre. Com o frio,doíam-lhe os ouvidos. Se se descuidava,a tensão subia. O cabelo rareava e embranquecia. O estômago tinha de ser tratado como uma criança. Sem óculos,não via as letras. Os olhos inflamavam-se a cada passo.
Com tudo isto,não largava as portas dos médicos,sem ter de se endividar. Era,afinal, um felizardo. Quantos como ele não se viam obrigados a passar de largo,frente a essas portas,carregando ainda mais o fardo dos anos.
Metia conversa com desconhecidos,pedindo desculpa pelo atrevimento. Estava cada vez mais tolerante. O coração aguentava-se,mas tornara-se muito piegas. Viam-se-lhe lágrimas,à vista da mínima desgraça,sobretudo com crianças. Fazia muitas perguntas sem resposta. Porque se permitia tanto desaforo,tanta mentira,tanta hipocrisia,tanto teatro,tanta impunidade? Porque não vinha um raio acabar com os maus? Se ele viesse,era capaz de não escapar.

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