segunda-feira, 14 de julho de 2008

UMA VIDA A SALVAR

Aquela terra era uma terra maninha desde há muito e com o correr do tempo foi-se tornando cada vez mais sáfara. Por mais que a trabalhassem,só se conseguia tirar dela produto para uma única e magra refeição diária. Não podiam continuar assim,pois seria a morte prematura para todos.

Tinham,pois,de dar com uma saída para esta insustentável situação,e o mais depressa que pudessem. Convocaram,então,uma assembleia magna,onde todos poderiam dizer da sua justiça,pois estava na mesa um caso muito grave,de vida ou de morte,como já se vinha desenhando desde que se conheciam. Após várias sessões,muito participadas e acaloradas,ainda que o calor não fosse por aí além,pareceu terem atinado com o que mais lhes convinha,visto não haver tempo a perder. Já tinham,até,perdido muito,e tempo,neste transe,não era dinheiro,mas antes vida,o que não é coisa com que brincar,sobretudo,quando se trata da vida dos seus,dos da família mais chegada ou mais longínqua,mesmo do vizinho do lado,qualquer que ele seja. Há sempre uma vida a salvar,o lema,alás,da magna assembleia.

Acontecia que à sua volta havias guerras por tudo e por nada. Era a triste sina dessa gente,e constava,até,que de muito mais gente,só não sabiam era onde. Talvez lá longe,diziam os mais velhos,que os de outras idades,em particular os rapazotes,pensavam noutras coisas,o que já era muito. Tinham-lhes chegado notícias,não se sabia por que vias,de grandes mortandades,que estavam levando a uma grave,desesperada,escassez de peões para as batalhas inúmeras. Persistindo os eternos contendores, os inimigos assim chamados,era a sua triste sina,andavam contratando pessoal,a qualquer preço,que para guerras dinheiro aparece,como por encanto,ou talvez não,sabe-se lá,de países vizinhos e mesmo de longe,muito longe.

Ora ali,naquela terra três vezes maninha,gente era o que não faltava. Sucedia,até,ter aumentado muito,inexplicavelmente ou não,nos últimos anos. Talvez,diziam,outra vez,alguns dos mais velhos,porque com os mais novos não se podia contar com eles,cá por certas coisas,se tratasse assim dum fenómeno,como o que se passava com as árvores a despedirem-se. Depois,era gente frugal e rija.Tirando a fome a crescer,do resto era raro queixarem-se. Parecia,assim,à evidência,que estavam mesmo calhados para as tais guerras sem fim,em que,alás,diziam os livros,de cá e de lá,nunca se tinham metido. E acontecera isso,não por um mero acaso,mas por uma razão muito comezinha. É que ali à volta não havia ninguém que desconhecesse,até as crianças,que aquela terra era terra que nunca valera nada.

E além de tudo o mais,estavam mais que disponíveis,estavam ansiosos,como de pão para a boca. E foi o que constou por muitos quilómetros em redor,e até lá muito longe. E foi a salvação de muitos,não de todos,claro está,pois é sabido, desde sempre,desde que se conheciam,que quem vai à guerra dá e leva. Tinham dado,pois,com a tal saída,o que já não era sem tempo.

Sem comentários: