O velho ia a caminho de uma entrevista. Em casa,preparara-se devidamente para não fazer má figura diante do senhor e no trajecto foi recapitulando aquilo que lhe havia de dizer. Estava uma tarde muito quente. E,quando a ocasião chegou,foi um desatre dos grandes. Irra,que está de abrasar. Quase como numa passagem inesquecível,dum não menos inesquecível escrito,de um nunca esquecido escritor.
Mas rapidamente recuperou,de modo a compor o ramalhete,que tão mal começara a formar-se. É que se vinha desentranhando em historietas,nos últimos tempos,empurrado não sabia ele porque forças,e estava a ver que o veio não havia meio de secar. Era capaz de vir a entrar,assim,na eternidade. E voltou a reincidir,prestes a imitar um outro célebre cultor das letras. Lá achara que no paraíso seria,no seu rasteirinho caso,demais. Também a escrever,era,da sua humilde parte,um grande exagero. Quando muito,a descrever,assim,à maneira das redacções,lá na escola,para o professor ver. É que não esquecera o reparo que uma outra estrela de muito brilho tinha feito diante de uns neófitos. Descrever é fácil,escrever é que é difícil.
O senhor ia ouvindo com bonomia. Mas que pretenderá este velho? Não lhe bastara gastar máquina e papel,para agora estar ali a palmar-lhe uns preciosos minutos do seu riquinho tempo. Mas tinha de o aturar,que remédio,pois com os velhos tem de se ter muita paciência. E poucos a têm,infelizmente. Esquecem-se de que, um dia,também serão velhos,e,nessa altura, acontecer-lhe-á o mesmo,o quererem ter ouvidos a ouvi-los,mas ouvidos atentos,não ouvidos distraídos.
Deixou-o,pois,falar à vontade,sem o interromper,assim como numa confissão,a despejar o saco. Podia ser que ele se cansasse depressa. E foi que sucedeu. O velho até se esqueceu da sua pretensão. Aquilo não tinha,afinal,passado de uma manifestação da necessidade de comunicar que o atormentava.
sábado, 26 de julho de 2008
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