sábado, 26 de julho de 2008

TERREIRO À NOITE

Estava-se ali bem à noite,naquele vasto terreiro,junto à estátua do rei. Nos seus tempos,não seria muito diferente,tendo-lhe custado muito,talvez,deixá-lo. Haveria, também,em redor,caça em abundância,que lhe entreteria os ócios. A daquela altura não teria comparação com a desse recuado tempo,mas,mesmo assim,não era nada para desprezar,como indicavam as numerosas famílias de coelhos,em íntima convivência com montes de carraças,em tapada próxima,coelhos que pouco fugiam à vista de estranhos. A maioria continuava lá na sua vida,sem se refugiarem nas suas tocas de fortes alicerces,pela profusão de pedregulhos.
Como a vida não é só trabalhar, os domingos,e menos os sábados,porque, às vezes,era-se obrigado a fazer uns biscates, eram aproveitados,em apreciável parte,para coscuvilhar as muitas relíquias da terra,o palácio,os conventos,as igrejas,o castelo. Esse bisbilhotar foi muito facilitado,usando a muleta do Guia de Portugal,de Raúl Proença. Não era só o terreiro a ser contemplado à noite. Também se passava por certa esplanada,onde se ouviam histórias de férias de sonho,em praias mediterrânicas,e de tardes de glória em praças de toiros. Há assinalar,ainda,para quebrar a monotonia dos pratos lá da pensão,as passagens esporádicas por um antro de gente esfomeada,onde pontificava a dobrada com feijão.
Tudo isto emoldurado por uma cintura de olivais muito verdes e muito densos,irrompendo de um chão avermelhado ,resíduo da decomposição de assentadas de calcários cristalinos,que aqui e ali mostravam a sua pujança,muito comprovada pelos tempos que se seguiram e hão-de continuar,pois aquilo parece poder ir até ao centro da Terra.

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