segunda-feira, 28 de julho de 2008

O ANFITRIÃO

Foi como que um tratamento de choque a curta passagem por aquela casa de hóspedes. De arrasar. Se lá permanecesse,era capaz de não ter saído de lá vivo. O dono dela,um cinquentão,de ar espectral,raramente punha a cabeça de fora. Quem geria o barco era a mulher e a cunhada,que estavam bem uma para a outra. Pareciam gémeas,pelo menos,nos comportamentos,um tanto ou quanto livres,para quem vinha da aldeia. Quanto à roupa,cada qual se arranjasse,que lavandarias,daquelas de uso individual,com introdução de moedinhas,não faltavam. Era uma em cada esquina.
Não era aquilo uma Arca de Noé,mas quase. A variedade era de se ficar encantado,desde uma velhinha que não tinha para onde ir,até representantes disto e daquilo,passando por estudantes dos mais diversos cantos.
As duas irmãs tinham um certo fraquinho por dois estudantes,com os quais conversavam um tanto familiarmente. Um deles era de tal qualidade,que um casal teve de levantar voo,antes do tempo previsto,sob pena de o marido perder a cabeça. O outro ameaçava quem não encobrisse a sua condição de casado e pai de filhos. Não se cansava de dizer mal da comida,mas não passava daqui. Era o seu jeito,e talvez lá do sítio de onde viera. Depois,onde é que ele iria arranjar uma arca assim?
Ainda ficou esclarecido o porquê das pantufas,portas a dentro,do anfitrião. É que o gelo,lá fora, era tanto,que temia estatelar-se logo que pusesse o pezinho na rua. Passaria uma boa parte do tempo na cama. Elas que trabalhassem.

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