quarta-feira, 30 de julho de 2008

COMO A UM IRMÃO

Desprendido,sempre pronto a ajudar. Paciente. O outro,os outros,a sua família. Deviam-lhe,mas não era de cobrar. Albergava,instruía,educava. Parecia sacrificar-se,tal a dimensão do seu préstimo. Não,não era sacrifício. Era assim.
Culto,modesto,avesso à subserviência. Independente. Sonhador,de sonhos grandes. Realizador, de obras grandes,à sua medida. Mas tudo sem alardes. Era assim.
A cada Natal,mandava-lhe um cartão de Boas Festas,como a dizer que não tinha esquecido,nem esqueceria jamais. Batera à porta e ela abrira-se,sem constrangimento,como se estivesse à espera. Não uma vez,mas várias. A porta abrira-se,também,espontaneamente,algumas vezes. Não fora preciso bater. Adivinhara. Fora sempre a primeira vez. Ausência de enfado,de cansaço,de desinteresse,de alheamento. Sempre atencioso,preocupado,delicado,como que a pedir desculpa de alguma falta de atenção.
Os carentes,quando insistem,são,às vezes,mal atendidos. Têm de espaçar a mão estendida. Parece cansarem-se de os ver. Parece serem eles os responsáveis ou julgarem que os responsabilizam. Aquele,não. Até parecia agradecer que o outro tivesse dificuldades. Para o ajudar.
O mundo é assim,foi assim,talvez continue a sê-lo. Há os que precisam e há os que podem. É uma divisão casual. Podia ter acontecido o contrário,os que agora pedem serem os que poderiam dar,e os que agora poderiam dar serem os que pedem. Alguns pensam que,perante esta aparente fatalidade,só resta ter paciência e esperar que o necessitado de hoje possa ter alguém por perto disposto a dar-lhe a mão com bons modos,como a um irmão,sem,depois, o estar a lembrar. Tal como aquele recebedor de Boas Festas.

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