sexta-feira, 4 de julho de 2008

ASPECTO SOTURNO

Não se ouvia tudo,mas dava para perceber. Era senhora aí de uns cinquenta anos,medianamente composta,que,ao mesmo tempo que caminhava,ia descrevendo a passeata a haver. Do outro lado,sabe Deus onde,estaria alguém muito atento à mensagem. Não era para menos. As passadas eram lentas,como que antegozando aquela rica viagem. Primeiro,Montevideu. Depois,acrescente-se o que mais se gostaria de visitar.
Não estaria com semelhante disposição um homem que procurava uma casa de penhores. Não me sabem indicar? Só um sabia,não por a ter visitado já,mas por há tempos ter dado de caras com ela. Os dizeres eram garrafais e a casa tinha um aspecto soturno. Uma cortina impedia que se visse o que ia lá por dentro. O que esconderia ela? Muita coisa,incluindo,talvez,lágrimas.
Tritezas que a senhora quereria esquecer e que aquele homem tencionaria remediar. Se acaso os dois se encontrassem e conversassem,talvez a senhora pudesse dar uma ajuda. Quem sabe? Não seria caso único. Tomam-se,por vezes,decisões imprevistas.
E se o passeio a não satisfizesse,o que podia acontecer,pelas mais variadas razões,teria no nobre gesto uma valiosa compensação.

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