quarta-feira, 2 de julho de 2008

NEM À MINHA CRIADA

Uma ofensa tamanha não a tolerava. Atrevida. Não se sabia qual teria sido,nem valeria a pena ter dela conhecimento. Deveria ter sido grossa coisa,para aquela senhora,muito bem composta,como para uma festa,estar para ali com tão sentido desabafo. Não admito isto nem à minha criada. E aqui,na criada,apurou todo o seu altíssimo ressentimento. Não querem lá ver?
Tal não admissão estava claramente traduzido em todo o seu augusto corpo,desde as pontas dos seus finos pés até às pontas dos seus bastos cabelos. Pés elegantemente acondicionados e cabelos de negro pintados,mas de raízes assaz indisdiscretas,qual gato escondido com rabo de fora. Viam-se-lhe também rugas,que o disfarce,àquele destempero,abrira fendas. Era o que faltava. E toda ela se agitava,a ponto de um botão do seu legítimo casaco de peles,que a manhã ia fria,sair da casa,acompanhando-a naquele despautério.
A pobre da empregada,uma moça simpática,de cabelo loiro natural,aguentava,firme. Ainda há dias o patrão lhe dissera que os clientes têm sempre razão,e muito mais uma da qualidade daquela senhora,que,no comprar,não era nada acanhada. Não podia meter todos no mesmo saco. Para aquela senhora,tinha de ter um saco reservado,muito,muito especial,pois ela nem à sua criada admitia uma coisa daquelas.

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