É isto um supor. Suponhamos que não havia medalhas,nem de ouro,nem de prata,nem de cobre,nem,até,de cortiça,daquela de sobreiro,ou de qualquer coisa a imitar. Suponhamos. Havia,apenas,um saquinho de rebuçados ou coisa equivalente,que a vida não está para luxos. Mas não era só saquinhos para o trio da frente,não,cada um que lá fosse levava o seu,mas todos iguais,para se não ficarem a rir uns dos outros.
Os que ganhavam,os três primeiros,não ficariam esquecidos,pois a história registaria. Em tal sítio ,em tal data,em tal modalidade,fulana ou fulano,primeiro as senhoras,que assim é que é bonito,ficou em primeiro,em segundo,em terceiro,às vezes,por uma unha,por não ter sido cortada,mas paciência,para a outra vez ainda a trago maior.
Continuando no supor,aquilo seria uma grande festa,nada parecida com as lá dos gregos,que andavam sempre à zaragata,por dá cá aquele vale ou aquele monte. Sim,porque o que importa é estar presente,ou não será assim? Os Diágoras,que tivessem lá os filhos,podiam ser comparados a deuses.
Mas deixando de supor,que a realidade é a realidade,o resto são conversas tontas. E,para começar,tem de se dizer que tudo ou quase tudo que ficou para trás são tretas. Medalhas,são medalhas,e o primeiro não é o último,ou o contrário. Mas onde é que se já ouviu isto,ou leu,tanto
faz? O primeiro é o primeiro e todos querem estar lá em primeiro,caso contrário não iam lá. Só os anjinhos é que não,mas,feliz ou infelizmente,já não há,aconteceu-lhes como ao saudoso Dodó. Sumiram-se.
Agora,os primeiros. Já viram bem aquelas caras,sobretudo do primeiro,aquele que se suplantou a ele mesmo,por um centésimo de segundo? Um dia,ainda ficam ali,não do esforço,mas do êxtase. Sou o primeiro no mundo. Aqueles olhos,aqueles esgares,não são dele,aquilo é o diabo. Que rico sítio o raio de diabo encontrou para se pavonear,que o diabo também é desses.Pela-se.
Depois,os fotógrafos,ou lá quem são, são mesmo amigos da onça. Não lhes escapa nada,até parece que adivinham. Mas eles sabem-na toda,registam tudo,segundo a segundo,ou muito menos. E assim,lá apanham aqueles olhos,aquelas bocas,aqueles gestos,que,verdadeiramente,não são de primeiro,mas de último.
E depois ainda. As horas que ali estão investidas. Qual amadorismo,qual carapuça? Aquilo são uns profissionais a tempo inteiro. Quase não fazem outra coisa,coitados. Uns escravos,quase. Escravos deles mesmos,do país que representam. É aquilo desporto? É,parece,sobretudo,nacionalismo,talvez exacerbado. Se não ficarem em primeiro é como que uma morte,dele e não se sabe mais de quem. Seriam assim os lá Grécia,em que estes se inspiram?
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
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