"...Um dia,foi Gomes Coelho procurado por um aspirante a farmacêutico,que tinha sido reprovado duas vezes e que implorava a sua protecção para evitar novo desastre. Seria a inutilização da sua carreira,pois uma terceira reprovação o impossibilitaria de voltar a exame. E acrescentou que,sendo casado,a desgraça cairia ,por sua vez,sobre a mulher e os seus filhos,tanto mais que era pobre e só da profissão poderia auferir lucros suficientes para os sustentar.
Gomes Coelho impressionou-se com o relato do candidato. No dia seguinte apareceu a exame. Logo ao primeiro interrogatório,mostrou que o não fadara Deus para fazer pílulas nem confeccionar xaropes.
Um desastre completo!
Gomes Coelho torcia-se na cadeira de examinador,sem poder valer ao examinando que cada vez se comprometia mais.
Terminada essa prova devia considerar-se irremediavelmente perdido. Gomes Coelho,que era quem se seguia a interrogar,pressentiu-o nitidamente,e então,sem poder conter mais o impulso da sua sensibilidade constrangida,virou-se para o examinando e disse-lhe:
-O senhor vai agora contar a estes senhores o que ontem me foi dizer.
O rapaz ficou estupefacto.
Já lhe disse-continuou Gomes Coelho-conte tudo e como me contou a mim.
O rapaz,ruborizado,fez o relato que na véspera lhe expusera.
Ao terminar,mandou-o em paz,dando-se por satisfeito.Não tivera coragem de lhe fazer qualquer pergunta científica.
E o caso é que o rapaz passou no exame...."
Em JÚLIO DINIS,por LIBERTO CRUZ
QUETZAL EDITORES
Lisboa/2002
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