Ela andava muito ralada,muito triste,muito beiço caído.Grave coisa tinha acontecido,certamente. É que a guerra,lá muito longe,não havia meio de parar. Já havia mortos,muitos,não se sabia era quantos. Um que fosse. Malditas guerras,que não levavam sumiço.
Ela almoçava à pressa,e jantava ainda mais à pressa,para ir ouvir as ùltimas. E a guerra nunca mais acabava e ela cada vez mais ralada,mais triste,mais beiço caído.
Pois é,andava muito em baixo a senhora. Era isso para muito admirar. É que,portas adentro,ela não ia à bola com o marido,com a filha,sempre numa zaragata pegada. Ela tinha a guerra lá na sua casa,sem mortos ainda,mas guerra acesa. E lá fora,mesmo do outro lado,os desacatos que por lá iam,também ainda sem mortos,mas guerra instalada. E um pouco mais adiante,lá ao virar da esquina,o pandemónio que por lá ia,um pandemónio ainda pior,mas também com zero mortos.
Ela andava muito pesarosa. Comia à pressa para não perder o noticiário. Não dormia,também,como devia ser.
Não vinham novas,marcadas com a esperança de uma paz breve,ainda que passageira,pois,já é sabido que mais dia menos dia,como estão as coisas,tal como estiveram tantas vezes no passado longo,passado com barbas longas,a guerra regressa,ainda com mais vontade de ficar.
Quase não importa o sítio dela. É guerra. Lá longe,na rua do bairro,mesmo ali a dois passos,lá no prédio,no segundo frente,lá em casa,por dá cá aquela palha,mas às vezes por cada uma de se lhe tirar o chapéu.
Ela andava muito ralada,quase não comia,ansiosa,a correr para o noticiário. E lá em casa,minha nossa senhora,só visto.
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
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