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quarta-feira, 31 de março de 2010
PATRÃO DE COSTA
Elogiando o carro novo que o amigo trouxera,podia parecer que estaria com vontade de fazer o mesmo. Mas carros não era com ele. Se fosse um novo barco,talvez,por ser ele patrão de costa.
Uma recordação de um "gentleman".
Uma recordação de um "gentleman".
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UMA LEMBRANÇA
Aparelhos,não era com ele,mas um carro dar-lhe-ia muito jeito. Assim,contrariando-se,lá se dispôs,um dia, a tirar carta de condução,o que ia sendo um desastre. Ora,agora,vire à direita. Isso era para ser um pouco mais adiante. E quase caíram num valado,porque ele virou logo.
Uma lembrança de quem andava, com excepcional desenvoltura,por outras estradas.
Uma lembrança de quem andava, com excepcional desenvoltura,por outras estradas.
SUFICIÊNCIA E AFLIÇÃO
Era um proceder sem jeito algum,quer dizer,sem explicação. É que tratavam mal,na suficiência,
quem estaria mais disposto a ajudá-los, em momentos de aflição. Ia-se lá entender uma coisa daquelas.
quem estaria mais disposto a ajudá-los, em momentos de aflição. Ia-se lá entender uma coisa daquelas.
VOLTA NÃO VOLTA
O senhor Manuel pintor,volta não volta,vem fazer uma visita ao seu centro de antigas e arrojadas operações. Faz isto manhã muito cedo,como se estivesse ainda a operar. O que levará o senhor Manuel pintor a este volta não volta? Será isto restos de um antigo hábito,ou pensará ele voltar a operar?
terça-feira, 30 de março de 2010
NÃO DESASTRADO
Ele era um bom,sempre pronto a agradar,incapaz de dizer não. Mas tudo tem um limite. E um dia,disse não,um não incontido,um não desastrado.
segunda-feira, 29 de março de 2010
OBRIGADO,MESMO
Eram quatro horas da tarde,numa rua da cidade. Queria um euro e meio. O preço dos "staple foods"está trepando. É de alto risco a situação. Era uma adolescente,bem arranjadinha. Tinha quinze anos. A ONU avisa. Para um bilhete de autocarro. Nalguns cantos já se deram confrontos. Então,a sua mãe? A minha mãe não... Então,o seu pai? Já não tenho pai. São muitas as causas desse trepar. A coisa é complicada. Tome lá. Eram dois euros. Mas isto... Obrigado,mesmo. Tinha quinze anos.
ZANGA
A zanga era tanta que parecia ser causa dela meio mundo,e não era. Ora,não estando em causa meio mundo,porquê tanta zanga? Porquê querer ainda aumentá-la,com uma lembrança,não fosse haver esquecimento? Depois,desatada ela,era capaz de haver desgraça grande nesse meio mundo.
LIMITES
Era uma horta que se convertera numa selva. Na sua expansão inevitável,estava em sério risco uma via essencial. A autoridade teve,asim, de intervir. Tudo tem os seus limites.
domingo, 28 de março de 2010
ROUPA DE FORA
27 de Março de 2010. A velhinha árvore acordou do seu aparente sono de meses. Para já,tem sido só um espreguiçar,o que se compreeende muito bem,dada a sua idade vetusta. Quer dizer,começou a vestir a sua nova camisa, uma nova peça de roupa de fora,que a de dentro,a camisola interior, está sempre a mudar.
TEMPLO GREGO
Até entulho ali se vira. Pois está lá agora uma moradia que faz lembrar um majestoso templo grego,pelas arrojadas colunas e pelo adornado frontão. Também era o que o local estava a exigir,bem debruçado sobre o largo mar. Uma ampla piscina fê-lo subir.
sábado, 27 de março de 2010
ENQUANTO PUDESSE VOAR
O local presta-se ao descanso de todos os merecimentos. Dali,a vista pode espraiar-se pelas colinas em volta e pelos campos ao longe,em ondulações sucessivas. O ar é leve e perfumado. O silêncio perdura.Talvez por tudo isto, aquela senhora o escolhera. Estava sentada,só, e tinha nas mãos um livro. Foi o que ela fez durante os dias em que ali permaneceu. Passava as folhas muito lentamente. Estaria lendo um outro ,que a este se sobrepunha,o livro das suas recordações. Os seus olhos deixavam,de quando em vez,as linhas na sua frente,para se fixarem,aparentemente,num ou noutro ponto da paisagem rica,que diante dela se abria. Estaria lembrando,estaria sonhando. Raramente se servia da bebida, em cima da mesa da esplanada. Necessitaria de outras,bebidas muito dela. A senhora bastar-se-ia a si mesma. Em locais como aquele, encontraria bálsamo para algumas tristezas. Partiu,provavelmente,consolada. Voltaria ali,uma e mais vezes,enquanto pudesse voar,pois,dificilmente, encontraria melhor poiso.
A VISITA
Fora visitá-la. Era uma senhora já de muita idade,acamada há largos meses. Devia-lhe muito,uma dívida muito antiga. Tinha sido,pode dizer-se,uma sua segunda mãe. Mas isso já lá ia há um ror de tempo,talvez ela nem já se lembrasse. Mas mesmo assim,nunca ele se tinha esquecido. Há coisas que nunca esquecem,ou não deviam ser esquecidas. O que é que lhe havia de dizer? Não queria que aquele encontro,que podia ser o último,estivesse povoado de tristezas. Recordar-lhe momentos de festa que ela proporcionara seria uma boa saída. E foi o que fez. Via-se que ela ficara um tanto admirada. Não esperaria. Mas bem depresssa aceitou,com satisfação,aquela franqueza,aquela fraqueza,colaborando e recordando factos que se supunha estarem esquecidos. O prazer que aquilo lhe deu,até parece ter ganho novo alento. Estava ali um que lhe mostrava reconhecimento,ao contrário de outros,que fugiam de o manifestar. Com isto,ter-lhe-ia dado mais uma justificação para a sua longa vida,que não teria sido em vão. Prestes a encetar a tal viagem,estava ali aquele a lembrar-lhe que tinha sido amiga. Podia morrer descansada. Morreu,de facto,pouco depois. Parecia ter demorado,à espera daquela visita.
MUITAS ALEGRIAS
Os que ganhavam,deviam estar muito agradecidos aos que perdiam,pelas muitas alegrias que lhes davam.
sexta-feira, 26 de março de 2010
MAIS UM IMPOSTO
Uma onda de revolta lambia,no seu vaivém,o pacato bairro. É que a autoridade decidira instalar parquímetros. Andavam os ânimos exaltados,prontos a irem às do cabo. Uma comissão solicitara várias reuniões,para acautelar os justos e sagrados interesses dos residentes. Iriam ponderar,foi-lhes prometido sempre. Mas duvidavam e isso trazia toda a gente intranquila. Mais um imposto,não. Numa tentativa desesperada,inundam de listas com assinaturas,devidamente reconhecidas,a secretária de quem de direito. Um forasteiro quis saber do motivo de tanta preocupação. É que ficara muito assustado com o ar de guerra que ia por ali. Aquilo podia degenerar numa revolução. Alguém,que não vivia nada mal,de cabeça perdida,esclareceu-o. Querem obrigar os residentes a pagarem quinze euros. Por mês? Não,por ano. E olhou para o forasteiro com ar desconfiado. Já viu maior desaforo? Uma quantia destas. Os tempos iam difíceis e a autoridade cedeu. Ficou por metade. A paz regressou.
ERA TUDO NATURAL
Chegavam as carroças com as dornas atulhadas de cachos de uvas e encostavam-se às janelas. Era por elas que se fazia a transferência,com forquilhas,para os lagares. Atingido um certo nível,uma meia dúzia de homens,de pernas ao léu,encarregavam-se do esmagamento com os pés. Não consta que tivessem cartões de sanidade,nem que tomassem banho previamente. Ali ficavam até darem a tarefa por concluída. Havia,é claro,os intervalos para as refeições e para as necessidades. Sempre que entravam ou saíam do lagar,mergulhavam,sem grandes demoras,os pés numa celha com água. Não consta,também,que alguém,alguma vez,se tivesse preocupado com o chão que pisavam,nas idas e vindas,eles ou quem os contratava. Tudo aquilo era natural,como naturais eram as uvas e as moscas que por ali andavam na sua vida. Não consta,igualmente,que alguém,alguma vez,se tivesse preocupado com aquela fracção de cloreto de sódio que apareceria no vinho,mas que não viera dos cachos. Tudo aquilo era natural,como naturais eram as leveduras que enxameavam o ar e que os cachos já trariam,e que iriam converter,a sua vocação,o açúcar em etanol e dióxido de carbono. O mosto borbulhava,o mosto exalava. Tudo aquilo era naturalmente natural.
MÍSERO DERROTADO
O tempo,o dos dias,das horas,dos segundos,escoava-se,e ele sem o poder evitar. E isso irritava-o,punha-o doente. Afinal,ele que tanta coisa podia fazer,à maneira de um vencedor,não passava de um mísero derrotado pelo tempo.
GAGUEZ
Era ele muito lembrado. Tratava-se do primo rico,que sofrera de respeitável gaguez,o que,no seu caso,não passava de uma coisa sem importância. Fosse ele pobre,a gaguez torná-lo-ia ainda mais pobre,pelo que ninguém se lembraria dele.
quinta-feira, 25 de março de 2010
QUANTO PIOR,MELHOR
Quando a coisa está mal,o que se pede são sinergismos,e não antagonismos,a não ser que se seja adepto do quanto pior,melhor.
O CARTEIRO
Era um lugar cheio de evocações. O chão tremia com a passagem do comboio internacional. A dois passos, fluía o rio-fronteira,onde velas brancas cruzavam. À noite,chegavam sons de festas intermináveis. De tarde,vinha o carteiro,que lembrava o de Pablo Neruda.
RÁPIDO VOO
Era uma garganta estreita,que uma imponente ponte cruzava. Num dos topos,uma carrancuda fortaleza vigiava. Era de cruzá-la num rápido voo,não fosse o tempo para trás voltar.
TEMERIDADE
Parecia aquele um interminável caminho atravessando um deserto. Nem um casebre,e muito menos uma casa,nem uma alma,só uma,ou outra ave de rapina cruzando os ares, ou uma,ou outra cabeça de gado tasquinhando erva rala,contidas por arame farpado. Aqui e ali,abismos de amedrontar roçavam as bermas. Uma desolação, e uma temeridade.
quarta-feira, 24 de março de 2010
SUPERFÍCIE LUNAR - LUNAR SURFACE
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXdfQDMJY2AhV3H_pduUuB-AQDFj4dhUk02RVV1N8zx_sI_3PyASXfeK_eifa0OI1GqiO64PX3UdFc73rAq8jj3ZIQCa4a8cgg5oLPCCPfoYcEvPe0-KN-yNhBl1gS6JQdgrOtjZbRViD3/s1600-h/PB156952.JPG
Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
Título do autor
Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
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CAMISOLA INTERIOR
Era uma árvore bem ciente do seu papel. Despia, temporariamente,a camisa,quer dizer,as folhas,mas conservava a camisola interior,isto é,o manto de líquenes,que a revestia dos pés à cabeça.
FEIRA
A turista olhava em volta,como que a pedir ajuda. Então,não queriam lá ver? Já uma pessoa não podia andar, descontraidamente, pela feira, a deliciar-se com um tão belo cacho de uvas? Não podia,não,que alguém o podia cobiçar. E foi o que lhe aconteceu. Uma garotita,aí de uns dez anos,não havia meio de a deixar de perseguir. Tanto insistiu,que acabou por lhe dar o que restava. Mas o ar consternado que a senhora pôs foi tal,que era para ter pena dela. O que teria ela pensado? Uma feira cheia de coisas tão boas,com tanta gente a ver e a comprar. Pois é. Mas é que também andavam por lá mendigos vários. Alguns circulavam,como aquela garotita,mas a maioria fazia pela vida nos cruzamentos,expondo as suas desgraças. Uns não tinham braços,outros pernas, e ainda outros mostravam chagas. Faziam parte,afinal,da feira. Era uma exposição diferente,mas cada um expõe o que tem ou não tem. E oportunidades daquelas não se podiam desperdiçar. À semelhança dos feirantes com banca,que saltam de um local para outro,de acordo com um calendário bem definido,os carenciados disto e daquilo aproveitam e acompanham-nos nas andanças.O ambiente estimula as transacções,ainda que deixe alguns um tanto frustrados,por terem comprado gato por lebre,ou por serem tentados a largar,como aquela turista,o que tão prazenteiramente estavam saboreando.
FIDELIDADE
A velhota encostara-se ao balcão e não dizia nada. Chegara a sua vez e não a aproveitou. Não era aquela a empregada preferida. Já ali vinha há longos anos,como se ouviu mais tarde,e habituara-se àquele canto,onde pontificava a eleita. Esta apareceu, finalmente. Então,só a mim é que me quer? Olhe que seria o mesmo com qualquer das minhas colegas. Está bem,está,podia ter-se escutado. Dera-se sempre bem com esta,não era agora que iria trocá-la por outra. A senhora teria a sua razão. Era ali,naquele canto,que ela conseguia a satisfação que procurava. Era já muito velha e viveria só. Poucas teriam paciência com ela e talvez algumas não a respeitassem como deviam. Aquela,não. Por isso,certa de que a não magoaria,usando palavras rudes,como teria acontecido com outras,deixava-se ficar à espera. Regressaria a casa consolada,de energia renovada para mais um dia. Pequenas coisas que valem muito para alguns. Não teria dado conta,muito provavelmente,de uma certa indiferença que a preferida manifestara e que contrastava com a sua fidelidade,quase canina,pedindo afagos. Era bem isto uma prova de grande carência afectiva. Mas que podia fazer mais a outra? Estaria bem servida. Tantos que ela teria de atender,para ser justa.
A SUA ALDEIA
De um lado,volta não volta,era o canto de uma rola que lhe chegava,do outro,o de um galo. Era como se tivesse ali a sua aldeia. Para completar,um cãozito não deixava de ladrar.
terça-feira, 23 de março de 2010
SOBRE AS TÉRMITAS
O aparelho digestivo das térmitas,pelo menos numa secção,tem uma elevada alcalinidade. Foi isso relacionado com os solos lateríticos,que,como se sabe,são ricos em óxidos de ferro. Nestes solos,o fósforo,um elemento indispensável à vida,está muito pouco disponível. Acontece que uma elevada alcalinidade permite a solubilização do fósforo,pelo que é de esperar que as térmitas tenham vida facilitada nestes solos.
FESTIVAIS
Os festivais iam recomeçar. O local é,sem dúvida,atraente,pois um rio,com azenhas e praias,corre perto. Em vasto terreiro,levantara-se um enorme palco. A coisa prometia,como já acontecera. Uma velhota ia a passar. Então,o que nos diz dos ajuntamentos que aqui se têm dado? Não me fale nisso,desabafou ela,toda escandalizada. É uma pouca vergonha. Estão a ver ali aqueles milharais? Pois dormiam por lá. Foi uma estragação. Não os queremos cá mais. Uma mulher nova,com o filhito ao colo,era da mesma opinião.Não sei quem é que os autorizou. Coisas de gente que não é de cá e que se põe para aí a mandar que é um desatino. Não consultam o povo e depois têm-no à perna. Mas a terra ficou mais conhecida,muitas pessoas falam agora dela,o que não sucedia antes. Que nos importa a nós isso? Melhor seria que não fosse assim. E conhecida porquê? Por aqueles atrevimentos? Pois dispensamo-los. Isto é terra de gente simples e séria. Perguntem aí se gostariam de vê-los cá de novo. Tenho a certeza de que muito poucos concordariam. Se não podem passar sem eles,que os façam lá nas suas terras. Se para aí vierem outra vez,contrariando a vontade da maioria,é capaz de haver sarrabulho. Tão certo como eu me chamar Joaquina. Eu sei de uns tantos que estão muito dispostos a isso. O povo,quando lhe chega a mostarda ao nariz,pode ir às do cabo. Eu cá avisava-os. O melhor é esquecerem-se de uma vez .
CONTA DOS CATRAIOS
Um antigo baluarte,com uma guarita quase intacta,estava a ser posto a descoberto,para íncola ou turista ver. Sempre que valha a pena,há que cuidar do património. Alguns homens tinham sido encarregados dessa tarefa dura. Uma mulher nova,de aspecto sadio,ia levar-lhes água. Trazia-a ao ombro e o caminho era a subir. Parou para descansar e conversar. Ainda não completara trinta anos e já dera ao mundo quatro filhos. Ela e o seu homem tinham de labutar muito. Felizmente que ele não era dado à bebida,nem a drogas. E por ali havia muita. Um vizinho dela,um miúdo,a bem dizer,trabalhava um ou dois dias e passava o resto da semana entregue a esse maldito vício. A mãe dele andava que nem um farrapo. Mas não era preciso que elas aparecessem,pois já havia por ali outra e que era o vinho. A mãe dela que o dissesse,bem como ela e os irmãos,que, volta não volta,apanhavam grandes sovas do pai,que, depois, não se lembrava de nada. Coitado,já lá estava. A mãe ficava como morta. Além das tareias,já contava, ao todo ,sete operações. Não sabia como ainda estava viva. Mas ainda bem,pois era ela que lhe valia,tomando conta dos catraios,enquanto ela e o marido faziam pela vida. Graças a Deus que ele não era como o seu velho.
segunda-feira, 22 de março de 2010
SOBRE A UREIA
A ureia é,como se sabe,um componente da urina. Trata-se de um composto orgânico nitrogenado,resultante do metabolismo das proteínas. No solo,é ràpidamente hidrolisada por acção do enzima urease,produzido por muitas bactérias,de que deriva amoníaco e anidrido carbónico. Da intervenção de outras bactérias,como é também sabido,o amoníaco é convertido,por oxidação,primeiro, em nitrito,e, depois,em nitrato,a forma de azoto mais facilmente absorvida,em virtude da sua mobilidade.
A ureia é, assim, um veículo de azoto para as plantas,sendo um doa adubos utilizados. A sua fabricação é feita a partir de amoníaco e de anidrido carbónico,a temperatura e pressão elevadas,ou seja,a partir dos produtos da sua hidrólise.
A ureia é, assim, um veículo de azoto para as plantas,sendo um doa adubos utilizados. A sua fabricação é feita a partir de amoníaco e de anidrido carbónico,a temperatura e pressão elevadas,ou seja,a partir dos produtos da sua hidrólise.
FUNDO VERDE
Daquele alto terraço,qual atalaia,em todo um círculo,havia muito para onde olhar. Em baixo,a vila estendia-se ao longo do dorso do monte,com ramificações nos seus contrafortes. Lá estava a igreja,que regularmente quebrava o silêncio,com o bater das horas e dos quartos. Mais adiante,os edifícios dos correios,dos bombeiros e dum lar misto para crianças e idosos. Depois,a escola primária e a secundária. Num dos extremos ,erguia-se a Adega Cooperativa,onde se fabricava o néctar do concelho,um dos limites da zona demarcada do vinho do Porto. Aqui terminava o xisto e começava o granito do vinho verde. Lá ao longe,num dos sectores,era um degrau do Marão. Em toda a volta,socalcos e mais socalcos,alguns a serem transformados. Aqui e ali,cerdeiras punham manchas vermelhas em todo aquele fundo verde. Um riacho descia apressadamente para o Douro,ali a dois passos,impregando o ar com o ruido de várias cascatas anãs. À noite,enxames de luzes denunciavam a presença de muitos lugarejos e na estrada para Amarante surgiam focos de faróis,escondidos,a intervalos,por um ou outro biombo. Morcegos cortavam o ar em busca de alimento. A espaços,ouvia-se o ladrar de cães das quintas próximas ,nessa altura,em permanente vigília,pois um grupo organizado,uma outra espécie noctívaga,andava por ali à cata de alfaias agrícolas. De vez em quando,lá das bandas de Lamego,vinha o ribombar de trovões,a colaborarem no alerta. Era mesmo de armar ali tenda.
NA PRAÇA PÚBLICA
Em dias de procissão,elas também lá figuravam. Não se misturavam com a multidão,pois tinham um lugar reservado. Era a boca do túnel que dava acesso ao seu bairro,ao seu "ghetto". Ali ficavam em magote,que o espaço era acanhado. Não estavam lá como simples curiosas,antes intervinham activamente. Pode dizer-se,até,sem grandes exageros,que eram elas as mais participativas. Não quereriam significar outra coisa,certamente,o seu pranto,as suas súplicas,os seus veementes rogos de perdão,em tom alto,enchendo os ares,sobretudo,à passagem dos andores. O cortejo arrastava-se,mas o seu estar não mostrava quebras,antes pelo contrário. Era impressionante,era comovente,era trágico. Só elas,afinal,tinham coragem de expor, tão abertamente, o seu arrependimento,de cara bem descoberta,ali,à vista de todos,na praça pública.
ESTÁS UM VELHO
Ele era assim. Quando falava com alguém mais baixo,encolhia-se,de modo a ficarem olhos nos olhos. Ele nunca dizia estás um velho,mas antes pareces um moço. Ele era assim,ao contrário de tantos.
domingo, 21 de março de 2010
ÁRVORES
http://photos1.blogger.com/blogger/609/1252/1600/IMG_42152.jpg
Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
http://www.flickr.com/photos/fotografiap/4320828040/sizes/l/
Da Galeria de Perz_
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizo166aP5MA92Zt1Io7VnzhyphenhyphenNAKJbb-NfdnuS9-l7w2K7rBqlqBc3XXpHw7ZDKje0nik8wuV_9l0EI_XZLhpgvGcliZvIX5RSY2GBH-51-CxfbkEEQ7dZyi-eBhlJPCV6MT-P8_-wJg3Yp/s1600-h/091120081020-756183.jpg
Do blogue LiveNow,de PAULO GAMA
Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
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Da Galeria de Perz_
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizo166aP5MA92Zt1Io7VnzhyphenhyphenNAKJbb-NfdnuS9-l7w2K7rBqlqBc3XXpHw7ZDKje0nik8wuV_9l0EI_XZLhpgvGcliZvIX5RSY2GBH-51-CxfbkEEQ7dZyi-eBhlJPCV6MT-P8_-wJg3Yp/s1600-h/091120081020-756183.jpg
Do blogue LiveNow,de PAULO GAMA
ÁRVORE DAS PATACAS
Reinava lá nesses muitos paraísos,como tinha reinado noutros,em outros tempos,em todos os tempos,afinal,o mesmo rei,que ele tinha artes para se perpetuar,não mudando em nada,como se reproduzindo,talvez de estaca,não se sabe bem,porque ele não diz,ou outra razão qualquer,que nenhuma razão adiantaria,o mesmo rei,dizia-se,que era,nem mais,nem menos,o rei dinheiro,sempre muito bem paramentado,muito empoado,muito adornado,enfim,um rei em tudo,sem tirar, nem pôr. Nesses muitos paraísos,de todos os tempos,não só dos correntes,a árvore que lá reinava,que as árvores não podiam ficar para trás,também tinham de ter uma rainha,era esse um direito que lhes assistia,não era uma macieira,nem pensar nisso,que era descer,mas sim uma muito diferente,muito rara,tão rara,que até aí ninguém dera por ela,por estar lá a um canto,muito encolhidinha,mas o que é vivo sempre aparece,nem mais,nem menos,a árvore das patacas,que daí em diante passou a ser,por direito próprio,a rainha incontestável de todas as árvores,incluindo aquelas que ainda estavam para vir.
NÃO DAVA UM PASSO
Olá Senhora Dona Árvore,bons olhos a vejam,assim já acordada. Olhe que já não era sem tempo,devia estar muito estafada. Também não era para menos. Essa roupa que agora já vai dando um ar da sua muita graça deve-lhe dar um trabalhão. Sim,que ela significa uma grande azáfama,ainda que não o mostre,que a Senhora é muito modesta. É claro que o Sol está ali para a ajudar,que foi,em grande parte,para isso que ele foi criado. Sem Ele,tem de concordar,a Senhora não era nada,desculpe que lhe diga. Eu sei isso muito bem. Tem razão,não era nada,mesmo nada. Este tronco,estes braços,esta roupagem, a Ele os devo,mas também não nos podemos esquecer do anidrido carbónico, e da água, e da terra,que sem eles não dava um passo,um modo de dizer. Pois é,Dona Árvore,mas não foi para isso que aqui estou a comprimentá-la. Foi para lhe desejar um bom ano,que,a bem dizer,está começando para si,que se adorne como a temos visto até aqui,que se alegre muito com a passarada que a visita sem descanso,e também com o consolo que dá a tantos que se vêm sentar à sua sombra nesses poiais que aí puseram. Que DEUS a conserve por muitos anos,que bem merece.
FORTE EXEMPLO
Uma alta chaminé fumegante irrompia do aglomerado de casas. Ali perto,alguém procurava,providencialmente,minorar os estragos causados por tal intruso. Nada mais nada menos do que uma árvore centenária,de tronco e de braços atléticos. Não se notava,mas da enorme massa das suas folhas escapavam-se correntes de antídoto do veneno que o monstro maleficamente expelia. Enquanto ela ali permanecesse, o mau não levaria a melhor. Mas não se ficavam por aqui os méritos daquela nobre figura velhinha. Havia também a sua vasta sombra. Outra tão fresca e tão cerrada não existia por muitos quilómetros em redor. Não seria só por isto,o que já significava muito,que os velhos de um asilo vizinho a elegiam. É que ela era um forte exemplo para eles e uma companhia compreensiva. Resistira contra tudo e contra todos,e ali estava como sempre o fora,com promessas de continuar por muitos anos mais. Seria uma grande desgraça se assim não acontecesse. Quem depois iria substituí-la nos seus múltiplos papéis benfazejos? O tempo que levariam a crescer,tentando,em vão,imitá-la. Atinadamente têm procedido as sucessivas edilidades,poupando-a e conservando-a . Até já a condecoraram.
sábado, 20 de março de 2010
MUNDO DE REACÇÕES
Como é sabido,no ciclo do azoto,há lugar para a produção de azoto molecular a partir da forma nitrato. Quando isso occorre com adubos está-se perante uma perda a evitar,entre outros motivos,porque é dinheiro deitado à rua. Mas não é só por esta via que azoto se perde. Isso também pode acontecer,pelo menos,quando o adubo é amoniacal e o solo é alcalino,como nos solos calcários,mas,agora,na forma de amoníaco. Coisas que sucedem neste mundo de reacções.
SAQUITO RECHEADO
Um pardal desloca-se dando uns saltinhos muito rápidos,parecendo dispor de potentes molas nos seus pezitos. E nos seus voos,ao mínimo sobressalto,não se vê usar as asas. Fa-lo-á ainda como de saltitos,agora maiores,se tratasse. Pois aquela velhota muito se lhe assemelha no seu modo de girar. É claro que não o faz pulando. Dá uns passinhos muito rápidos,muito rasteirinhos. Julgar-se-ia impossível que um corpo tão mirradinho conseguisse assim progredir. Mas avança,que é bem visível. Ainda há pouco estava lá longe e já agora se encontra muito próximo,como se tivesse corrido ou voado. Parece ser uma pobre de pedir,ainda que nunca fosse vista de mão estendida. Mas que ela vai sempre de saquito recheado,não restam dúvidas. Se é de ofertas de comida,têm-lhe dado elas energias bastantes para o seu peregrinar de anos,mantendo inalterável a maneira de caminhar. Voará,quando não estão a vê-la? Talvez um dia o faça,quem sabe? Pelo menos,alguns pardais já a consideram da família. Foi o que há dias deram a entender. Estavam dois ou três saltitando no murete de um laguinho,há procura de alguma coisa de comer,quando surge a velhota,no seu regresso a casa. Nem se mexeram,ao contrário do que acontece à aproximação de um qualquer,criança mesmo. Continuaram,calmamente,na sua tarefa,talvez desejando-lhe um bom dia e uma boa refeição.
AQUELE VAZIO
O senhor António não vivia mal. Tinha a sua reforma e ainda uns rendimentos lá na terra. A casa era dele. Na falta de filhos,arranjara um cão. O animalzinho andava passando um mau bocado. Por via disso,o senhor António não largava a porta do veterinário. E era um desabafar quando o encontravam. Aquilo pareciam mesmo agruras de pai ou de avô. Vejam lá,um bichinho tão bonito,tão manso,tão meu amigo,a padecer desta maneira,que o médico bem me diz. Tenho feito tudo,mas,coitado,não deve durar muito. E quase chorava. Lá o procuravam consolar,mas via-se que pouco adiantava. O cãozinho não durou,de facto,muito. O senhor António esteve para morrer também. Não saiu durante uns tempos,tal fora o golpe. Quando se atreveu,nem parecia o mesmo,vergado ao peso da dor e da ausência. Não mais se recomporia,confessava. Quem poderia preencher aquele vazio? Era realmente forte e sério o sentimento que o cãozito lhe inspirava. Só uma coisa lhe despertava algum interesse,a saga da bola. Sobraçando um jornal desportivo,às vezes,dois ou mais,lá ia ele sentar-se sempre no mesmo café,onde passava horas, devorando todas as páginas.
LEMBRANÇA
As árvores do passeio tinham-se vestido de flores. E a senhora não se conteve. É como na minha terra. Sou do Algarve. Que saudades. Ainda bem que a Natureza não se vinga,apsar das maldades que lhe fazem. Não se vinga? E riu-se,a tal lembrança.
PAZ
Os resignados,os contidos,têm direito aos maiores louvores. É que uma grande parte da paz a eles se deve.
sexta-feira, 19 de março de 2010
AMIEIRA DO TEJO
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Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
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GOMO A GOMO
Era daqueles velhos,pode dizer-se,que nunca quisera nada com o mal. E porque assim era,volta não volta,pensava nele. E,quando tal sucedia,sempre o via a comer uma laranja. Era a fruta de que ele mais gostava. Mas não uma qualquer laranja. Ele,que era a modéstia em pessoa,nisso tinha requintes. Tinha de ser uma das grandes,uma laranja de umbigo,uma laranja da Baía. Comia-a com evidente prazer,gomo a gomo,depois de a ter ,cuidadosamente, descascado. Era também um prazer vê-lo nesse ritual,quase sagrado. Era um velho de poucos teres,por isso,de muito fraco alcance. Assim, tão limitado,parecia ter concentrado na laranja,na laranja da Baía,todos os seus legítimos anseios.
RECOMPENSA
Quem é bem dotado,ou está disso convencido,já tem aí grande parte da recompensa a que se julga com direito. É como ter nascido em berço de oiro,pelo que não precisaria de mais oiro ter.
quinta-feira, 18 de março de 2010
MAGRO CHÃO
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Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
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Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
SOBRE A ACIDIFICAÇÃO DOS SOLOS NA CHINA
A propósito da notificada acidificação de solos da China, é de esperar maior acidez quando se aplica azoto amoniacal. No solo,este azoto,mais tarde ou mais cedo,converte-se,primeiro,em azoto nitroso,e,de seguida, em azoto nítrico. Em cada uma das transformações há libertação de acidez. Outros factores podem também ter intervido,em especial os envolvidos na absorção dos nutrientes,como seja o excesso de bases absorvido,que é a diferença entre catiões e aniões. É que, como se sabe,por cada catião absorvido há um ião hidrogénio libertado,e por cada anião,um oxidrilo, ou um ião bicarbonato. De qualquer modo,a acidificação tem remédio,recorrendo-se,por exemplo,ao calcário. No fundo de tudo isto,há um bom motivo,que foi a necessidade de atender ao aumento da população. A intensificação cultural não foi feita,pois,em vão.
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CLASSE MÉDIA
Dantes,quando a coisa dava para o torto,quem apanhava era a classe baixa,onde se alojava a maioria. Depois,quando a coisa ficava feia,passou a ser a classe média,onde a maioria se situava. Ainda bem que a classe média crescera.
PARA O ENTULHO
Se não desse para lombada grossa,com linguajar farfalhudo,de modo a não largar o dicionário,era coisa para,sem demora,deitar para o entulho. Eram assim,uns e outros,pelo que não havia nada a fazer.
quarta-feira, 17 de março de 2010
SOBRE A CLOROSE DAS PLANTAS
A clorose das plantas,ou seja o amarelecimento dos seus órgãos verdes,sobretudo,das folhas,é sinal de que a absorção de um,ou mais nutrientes essenciais,não está ocorrendo na quantidade necessária. Isso pode resultar de uma escassez efectiva ou induzida.No primeiro caso,podem estar em falta o azoto e o magnésio,que fazem parte da constituição da clorofila,e elementos que têm de estar presentes,como o ferro e o manganésio.
Na indução,intervêm acções antagónicas várias e condições físicas desfavoráveis,como as resultantes do encharcamento dos solos,a que o ferro e o manganésio são muito sensiveis. Por tudo isto,ainda que os sintomas possam dar alguma ajuda,só a análise,da planta e do solo,pode levar ao correcto esclarecimento.
Na indução,intervêm acções antagónicas várias e condições físicas desfavoráveis,como as resultantes do encharcamento dos solos,a que o ferro e o manganésio são muito sensiveis. Por tudo isto,ainda que os sintomas possam dar alguma ajuda,só a análise,da planta e do solo,pode levar ao correcto esclarecimento.
TODOS OS MESMOS
Os toiros,cheios de saudades da sua amada lezíria,mal viam a porta aberta,desatavam numa corrida desenfreada,com pressa de lá chegarem. Mas qualquê? Por onde quer que tentassem,havia sempre um obstáculo a barrar-lhes o caminho. Sentiam-se aprisionados e era verdade. Ficavam,por isso,muito irados e ansiavam por um ajuste de contas. Os primeiros a desafiá-los eram,com frequência,uns atrevidos,tresandando a vinho,que se postavam mesmo à saída do corredor que os levava ao vasto recinto amuralhado. Nesta fase,aconteciam,quase sempre, desgraças,e,por vezes,mortes. A culpa não era dos pobres toiros,está bem de ver. Quem os mandava pôr na sua frente,quando eles ainda estavam com todas as suas forças?Depois,vinham uns sujeitos,cada qual com a sua manha,que teimavam em não os deixarem em paz. Estavam sempre à espera de que alguém,de melhor coração,lhes apontasse um buraco por onde se escapulissem. Mas aquilo eram todos os mesmos,o que queriam era fazer pouco deles. Finalmente,quando já estavam por tudo,de derreados,caía-lhes em cima uma montanha de gente. O peso era tanto,que nem mexer se podiam. Só após essa grossa partida,é que se davam por satisfeitos e permitiam que eles fossem para casa.
UM SEU CRIADO
O menino ia deixar os cuidados da mamã. Tinha de se fazer à vida,tinha de ir para a capital,que lá na terra não passaria da cepa torta. Para começar,era preciso arranjar quarto,mas não um qualquer. Tinha de ser um decente.Inexperiente como ele era,convinha que o pai o acompanhasse,não fosse enfiar-se num buraco não recomendável. Havia por lá,segundo lhes constava,ratoeiras a cada esquina,e o menino,sozinho,podia cair numa. E lá foram os dois. O pai já tinha estado naquela grande terra,mas nunca no bairro onde o menino ia trabalhar. Mas perguntando aqui e ali,lá deu com ele. Os prédios que por lá se perfilavam,alguns de três e quatro andares,só visto. A que portas havia de bater o pai? Bateu nalgumas e,sempre que batia,a um "quem é",seguia-se "um seu criado". A tal resposta,não houve porta que não se abrisse francamente. Acabou por se fixar numa. Dispunha de todos os requisitos para o menino não se perder. Era uma porta muito séria. O quarto tinha duas camas,uma para o menino e a outra para um amigo do menino que já não tinha pai que viesse com ele.
COISAS PARA VENDER
Por favor,onde é a praça? Era uma moça,aí de uns quinze anos,alta,magrinha,com carita de fome. Disseram-me que havia perto da praça uma casa que vende coisas em segunda mão. Sabe onde é? Olhe,é ali, logo a seguir ao prédio verde. Está a ver? Sim,obrigado. E lá foi,levando na mão um saquito de plástico com coisas para vender.
terça-feira, 16 de março de 2010
ACIDIFICAÇÃO DOS SOLOS NA CHINA
http://www.sciencemag.org/cgi/content/abstract/sci;327/5968/1008?maxtoshow=&hits=10&RESULTFORMAT=&fulltext=soil+acidity+and+china&searchid=1&FIRSTINDEX=0&resourcetype=HWCIT
http://tempsreel.nouvelobs.com/actualites/sciences/nature/20100212.OBS6798/chine_lacidite_des_sols_menace_les_recoltes_futures.html
http://tempsreel.nouvelobs.com/actualites/sciences/nature/20100212.OBS6798/chine_lacidite_des_sols_menace_les_recoltes_futures.html
VENTO DOMINANTE
A maldade que um vento dominante pode fazer. Em certo canto,o passar de carros e carretas em estrada de macadame calcário levantava nuvens de poeiras,que o vento se encarregava de ir depositar em vinhas. E o terreno,que era azedo,deixou de o ser,adoecendo as vinhas. Coisas que acontecem,sabendo-se porquê.
MÁ CARA
Aquilo era um estar sem jeito,mas não havia forma de o alterar. Ou ignoravam,à má cara,ou então,se isso não chegasse,batiam até se cansarem.
COMPANHIA
Não,não se enganara. Já vinha reparando há uns tempos no que se tornara cada vez mais nitido. Ele,afinal,era ele e mais um outro,pelo menos. Quer dizer,arranjara companhia. Afinal,não estava só.
TRIPLA FIGURA
Era ele um misto de um Conselheiro Acácio,pelo pendor sentencioso,e de um truão,pelo jeito de brincar. Mas também não dava a cara,à maneira de um Cirano de Bergerac. Afinal,uma tripla figura.
SINAL
Muito diferentes eram os dois. Ela,mal o seu cão produzia coisa sólida,ia pô-la, sem demora, em contentor do lixo. Ele,muito ao contrário,servia-se dela para barrar pedras das calçadas. Era isso sinal de instabilidade no casal.
segunda-feira, 15 de março de 2010
SOBRE O SÓDIO
Pobre do sódio,parece um enjeitado. Havendo caminho livre,vai todo parar ao mar. É que a terra não o segura,ao contrário do que acontece com o potássio,o seu companheiro de algumas andanças.
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LAVADOS ARES
Terá sortilégio aquela terra. É uma sedutora. Donde lhe virá tal magia,tal encanto? Talvez do celeiro que em tempos foi,talvez das planuras amplas,que de searas se cobriam,promessas de muito pão. Simulavam um oceano,de superfície nem sempre chã. Apetece ir por lá,quando por cá se entedia. E navegar naquelas águas,aportando aqui e ali,enchendo-se, mais demoradamente,daqueles lavados ares. Abrir as janelas e deixá-los entrar à vontade. Em redor,o verde ou o amarelo,o branco ou o azul,apaziguadores. E à noite,repousar em camas com florinhas,das muitas que por lá há,ouvindo o cantar das cigarras ou o silêncio da chuva a cair. E ali ficar.
POBRE DO PORTEIRO
Quando a telefonista ia almoçar,era o porteiro que ficava de serviço. Não era coisa de que ele gostasse,mas estava no seu feitio ser prestável. Assim,lá se conformava. E um dia,o que é que havia de suceder? Toca o telefone e ele vai atender. Daqui é o Director-Geral,está a ouvir? Estou sim,senhor director,faça favor de dizer. Com quem estou a falar? Com o Afonso de Albuquerque. Você está a mangar comigo? O pobre do porteiro disse que não. Ai a minha vida,suspirava ele,é sempre um tormento quando ela me deixa aqui sozinho. Isto não ouviu o Director- Geral. Olhe que o ponho na rua,seu brincalhão. Mas eu não estou a brincar,senhor director. Desculpe,senhor director,mas eu sou o porteiro,estou aqui porque a telefonista foi almoçar. O senhor director não me conhece,mas eu chamo-me mesmo Afonso de Albuquerque,que foi assim que puseram lá no registo. Não tenho culpa. O meu chefe há-de confirmá-lo logo que puder. Longe de mim estar a mangar com o senhor Director-Geral. Só se estivesse maluco,mas graças a Deus não estou. Pobre do porteiro,que passou por um muito mau bocado. Nem o seu homónimo passou por um transe destes.
TRISTEZAS E DÍVIDAS
Bem se importaria o galo com o triste andar das coisas lá no canto onde morava. E assim,não se cansava ele de a toda a hora cantar. Faria isso,convencido de que tristezas não pagam dívidas.
domingo, 14 de março de 2010
O CAMINHO CERTO
Eram os ventos de mudança. Deixaram de apontar caminhos,para passar a indicar o caminho certo.
AO RUBRO
Estava ao rubro,naquela altura é que da forja iriai sair o Homem Novo. O Homem que,para ser o primeiro,se sentaria no lugar último. Estava ao rubro a forja.
IMAGINADO MUNDO
Pobre da rola,que canto magoado o dela. Estaria com muitas saudades de um imaginado mundo,cheio de delícias. E teimava,teimava.
ERA ISSO
Afinal,uma coisa tão simples,tão evidente. Estavam à espera de que a cadeira caísse. Era isso,como vinha lá estampado,em letra gorda,sublinhada a traço negro. Uma coisa tão simples,tão evidente.
MARCOS DE UM CIRCUITO
Conversa,de pé,com duas boas almas,sobre o sofrimento. Cantares de galos,ao desafio,em quinta urbana. Encontro com um São Bernardo,chamado Beethoven. O canil do bairro está quase pronto. Um velhinho em cadeira de rodas,a apanhar sol. Reparam-se computadores e telemóveis,em casa de crédito popular. Afinal,não se devia nada,fora engano. Marcas de um circuito,de menos de uma hora.
sábado, 13 de março de 2010
DO CIMENTO
A indústria do cimento é uma das maiores fontes de emissões de anidrido carbónico. Resulta isso,em boa parte, do facto de um dos componentes da matéria prima utilizada ser o carbonato de cálcio. Trata-se,pois, uma vez mais,de carbono retirado do seu ciclo activo,e que a ele regressa.
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NUNCA MAIS
Pobre pardalito. Nascera ali,naquela horta,naquele paraíso. Comida com fartura e nunca era importunado. Aparecia por lá gente,gente de trabalho,mas sempre gente de paz. Pois naquela manhã,uma manhã fresquinha, cheia de sol,teve a companhia de um rapazinho. Lembrava-se de o ter visto já por ali,pelo que não ficou preocupado. Muito se enganou,coitado dele. Naquela manhã,o moço trazia uma arma,que lhe tinham emprestado. Estava ele,o pardalito,a banquetear-se,como era costume. Escolhera para o pequeno-almoço uma tenrinha folha de couve,coisa que ali abundava,pois água era quanta se queria,de uma grande nora que todos os dias trabalhava. Viu o moço aproximar-se,mas sem nunca pensar que lhe fosse fazer algum mal. Pois foi o fim dos seus dias. Uma valente carga de chumbo miudinho desabou sobre ele. Nem alma se lhe aproveitou. O moço ficou tão triste,quando deu com o pardalito esfrangalhado,que até chorou. Pobre do pardalito. E fez ali logo uma jura. Nunca mais. Durante muito tempo,aquele pardalito não o largou. Até em sonhos lhe aparecia. Nunca mais,nunca mais.
CEPA TORTA
Há causas de que apetece ser seu porta-estandarte. Uma delas,é o ambiente,sobretudo, do ambiente integral.Quem é que não gosta de respirar uns ares lavados,isentos de miasmas,carregadinhos de oxigénio,sem esses malignos gases tóxicos,filhos do diabo? Ninguém,com certeza.Quem é que não gosta de ver as ruas limpas,ruas e outros espaços públicos,sem papéis,sem resíduos caninos,sem restos de pastilhas elásticas,sem beatas,sem cuspidelas? Ninguém,com certeza,pois quer vê-las,como,certamente,tem lá o chão da sua casa.Quem é que não gosta de ver as pessoas a viver em casas decentes,não muito longe do seu local de trabalho? Ninguém,com certeza.Quem é que não gosta de ver as pessoas todas com um emprego que lhe dê para ter uma família a viver decentemente, sem pensar que no dia seguinte a coisa fica feia? Ninguém,certamente.Quem é que não gosta...Portanto,quem pegue nessa bandeira,que simboliza essa nobre,essa vital causa,deve ser recebido com Hosanas,triunfalmente,e ser recebido,também,com muitos,muitos,obrigados. Bem haja,pois.Esse porta-bandeira é,de certo,uma alma de eleição,uma alma abenegada,uma alma franca,sem reservas,sempre pronta a acudir onde uma miséria desponte. Alma,portanto,identificada com o homem,qualquer que ele seja,em todas as suas dimensões,o homem integral. Alma aberta,para compreeender os seus anseios,os seus sonhos,as suas dificuldades,as suas carências. Tudo isso,sem evasivas,sem subterfúgios,sem desculpas,tendo em mira,só,o ser humano.Portanto,nada de equívocos,sombras,mal entendidos. Não se ficar só pelos queridos passarinhos. Não se ficar só pelas respeitáveis marcas arqueológicas. Não se ficar só pela altura das barragens. Não se ficar só pela garantia absoluta da bondade de qualquer inovação.É que,com todas essas preocupações e mais algumas, que a seguir nascem,não se sairia da cepa torta,se calhar não se teria visto a roda a rodar. Depois,as necessidades vertiginosamente se multiplicam ,nesta novíssima era das novas tecnologias,para o bem e para o mal. Depois, cada vez é maior o número de bocas abertas,a quererem papar,para contentamento dos estômagos.
JOGO LIMPO
Tinham feito quase tudo para que uma coisa acontecesse. Depois,ficaram muito tristes porque tal não sucedeu,e vieram mostrá-lo. É o que se chama jogo limpo.
sexta-feira, 12 de março de 2010
CONCHINHAS
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Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
Título do autor
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AS CONCHAS
As conchas,pelo seu carbonato de cálcio,o componente principal,afastam carbono do seu ciclo. Só a dissolução num ácido,ou um calor de forno,as liberta dessa condição.
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UM VOLTINHA
Os velhos carros vão ficando como os seus donos,cheios de mazelas,a cobrirem-se de ferrugem. São os seus carros. E mal saem de casa,pela manhazinha,vão logo visitá-los,não tivessem levado sumiço ou sido aliviados de uma ou mais peças. É que eles dormem em plena rua,sujeitos à cobiça de qualquer um. Mas quem é que havia de querer aquelas velharias? Só algum mais avinhado ou de outra droga muito carente. E é o que por vezes acontece,o que os traz muito ralados. Já uma pessoa não pode dormir tranquila. Compreende-se muito bem tão forte apego. Custaram-lhes os olhos da cara. Passaram,até,privações. Mas tinha de ser,pois não podiam ficar para trás. O que é que haveriam de pensar? Fora como que uma promoção,e agora não querem descer de patente. Mantém-nos asseados,de cara sempre lavada. Periodicamente,entram nele para pôr o motor a trabalhar e ouvir o rádio em surdina,o supremo gozo. De vez em quando,mudam-no de sítio para dar uma voltinha. Mas é isto uma apoquentação,pois a concorrência é muita e os espaços não abundam. Só os vizinhos é que dão conta,mas já não comentam. Outros é que são capazes de ter pena deles. Coitados,como estão acabados,eles e as suas carripanas.
A SUA RIQUEZA
Não teria casa e andaria com todos os seus teres,acondicionados em dois carrinhos de compras,por essas ruas e demais espaços públicos. Naquela manhã,coubera a vez a um parque,onde nunca teria vindo. Talvez por não ser plano e ele estivesse ainda em jejum,a sua cara era de grande esforço,como a de um condenado às galés. É que viera até ao seu topo. Mas estaria determinado e não houve canto que ele não esquadrinhasse. Onde mais se demorou foi em frente de um prédio de muitos andares,prestes a serem habitados,e de uma cruz metálica,a assinalar o local de uma futura igreja. Compreende-se que assim fosse. Não viveria nada mal num daqueles andares,com lindas vistas. Para isso,seria necessário um milagre,que ele estaria implorando em frente da cruz,benzendo-se demoradamente. À saída,esperava-o uma calçada íngreme. E lá a teve de trepar,vergado ao peso dos carrinhos com a sua riqueza.
SEM RETORNO
Fora tempo inteiramente perdido,sem qualquer dúvida,qualquer que tenha sido a razão para o perder. Fora tempo que não voltaria mais,fora tempo sem retorno.
quinta-feira, 11 de março de 2010
A MOCA
Ganadaria necessita de espaço, e aquela herdade fora arrendada para casa dos garraios. Ele tinha de estar,pois, sempre alerta,que o seguro morreu de velho. Para maior descanso,antes de iniciar o trabalho,dirigia-se ao "monte", para saber onde se encontravam os bichinhos. Cortou-lhes as voltas por alguns dias,mas por fim,que a tarefa tinha de ser concluída,teve de ir ao seu encontro. Lá estavam eles,dispersos em pequeno vale. Ali havia boa comida,que a terra era fresca. O maioral,que estava sentado no rebordo de um poço,aproximou-se. Vinha apoiado num cajado,em forma de moca. Então,a montada? Ficara lá no "monte",raramente a utilizava. Vira-os nascer e conheciam-se bem. Então,para que servia a moca? Eles eram novos,eram como crianças. Gostavam de brincar e por vezes excediam-se. Era nessas alturas que a moca intervinha,para os separar,para evitar que se aleijassem,o que seria uma carga de trabalhos e,talvez, grosso prejuízo. E o diabo do homem dizia isto com naturalidade,como se estivesse a falar de cães ou de gatos. Na sua companhia,e com a protecção do jipe,lá se deu conta do serviço,mas sempre muito amedrontado,a pensar que eles podiam perder o respeito à moca.
UMA AJUDA
A velhota estava admirada. Como fala bem este senhor,que coisas bonitas ele está dizendo. É assim mesmo. Só assim é que o mundo se endireitaria. Que cada um visse num outro,qualquer que ele fosse,um irmão seu,e seria remédio santo,remédio para todo o sempre. Acabariam as mãos estendidas,as barrigas a dar horas tempos infindos. O senhor parecia um coração aberto,uns bolsos largos. Seria capaz de uma capa dar,se duas tivesse,seria capaz até de dar as duas. É assim mesmo,repetia a velhota.Tem toda a razão. O senhor lá foi à sua vida,vida de homem bem falante. Não andou muito. Meia dúzia de metros vencidos,quem é que o havia de abordar? Nem de propósito. Precisamente um pobre,um pobre daqueles que sempre o tinha sido,um pobre quase a despedir-se. Uma tosca muleta amparava-o. Queria uma ajuda,precisava muito dela. Então,de onde é que veio? Da ilha do Fogo. E uma moeda mudou de bolso. Uma moeda pequenina.
ALGUMA CONTRADIÇÃO
Era aquela mais uma outra escala do mundo. Era o amplo tecto róseo,sustentado por finas colunas,em jeito de querer voar. Era o deserto largo,ali anunciado por um camelo que ia e vinha. Eram armas cruzadas a dizer alto. Parecia haver ali alguma contradição.
quarta-feira, 10 de março de 2010
SOBRE A DESNITRIFICAÇÃO
Como é sabido,o óxido nitroso derivado da redução do ião nitrato,qualquer que seja a sua origem, tem causado preocupações. Na sequência do processo redutivo,o óxido nitroso não é,porém, o produto final,mas sim o amoníaco,antecedido do azoto molecular. Quer dizer,que na desnitrificação,incluída no ciclo do azoto,o óxido nitroso pode vir a dar lugar,pelo menos,a uma forma inerte.
UM ANJINHO
Este rapazinho mexe comigo. Tinha a senhora razões de sobejo para isso. Mexia com ela e mexeria com muitos mais. Era um rapazinho carente. Vinha bem arranjadinho e trazia numa das mãos uma meia dúzia de pensos rápidos,a sua mercadoria. Precisava de trocá-la por umas moedas ou por qualquer outra coisa equivalente,um bolo,um pão,coisas assim. Mas não a impingia. Não quer hoje? Para outra vez calhará. E isso, num tom,com umas maneiras que comoviam. Tão novo ainda e já com toda a paciência do mundo. Naquela altura,uma manhã avançada,a necessidade não era como a de outras ocasiões. Já lhe tinham dado o suficiente para o pequeno-almoço. E sabe,o almoço também está prometido. Não ficasse,pois,preocupada,quereria ele que assim acontecesse. Um achado,este rapazinho. Fazia lembrar uma aparição. Seria ele um outro,um anjinho lá dos céus que andasse por aí. Não admirava,pois,que a senhora achasse que aquele rapazinho mexia com ela.
GROSSAS PARTIDAS
Um friso de gaivotas guarnecia o bordo do grande tanque. Um tanto estáticas,parecia estarem em parada,guardando entre si distâncias muito iguais. Um velho, que por ali frequentemente circulava,estranhou um tal aparato. Nunca vira colar assim. Quereria isto significar algum próximo acontecimento, pelo qual muitos estavam suspirando? Talvez a tão desejada e muito necessária chuva andasse rondando. Não se diz às vezes que gaivotas em terra é sinal de eminente borrasca? Procurou um aliado,ou seja, alguém que se tivesse alegrado à vista de tal perspectiva. Ali perto,estava quem devia saber dessas coisas do tempo,nada mais nada menos do que um jardineiro chefe,homem muito experimentado. Pois não senhor,não é nada do que está imaginando. Encontram-se ali por outra razão. E esclareceu. Dois dias depois,a chuva caiu,que Deus a mandava. As gaivotas mais uma vez tinham acertado. O experimentado jardineiro é que não confiava nelas e delas nada queria receber. Grossas partidas lhe teriam pregado.
VIDRAÇA
Naquele novo serviço,era tudo novidade. Até neve caiu,"branca e leve,branca e fria". Não se pôde olhar "através da vidraça",que vidraça não havia,nem deu para ver "traços miniaturais de uns pezitos de criança".
terça-feira, 9 de março de 2010
LÍQUENES
Uma associação simbiótica de um fungo e de uma alga, verde ou azul. O fungo,que não dispõe de clorofila,contribui com água e os nutrientes ditos minerais, e a alga, com a parte orgânica. Figuram entre os factores biológicos de formação dos solos,digerindo as rochas,com as suas secreções e os produtos da sua decomposição,ácidos e agentes complexantes. Depois,escusado será lembrá-lo,onde quer que se encontrem,pedras,muros,árvores,lá dão a sua contribuição,
ainda que passageira,no sequestro do carbono.
ainda que passageira,no sequestro do carbono.
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FINA CEIA
À vista de todos,banqueteou-se. Era hora da ceia e ele devia estar com pressa. Nem se lembrou de oferecer,mas estava desculpado. Ele mesmo se encarregou de todas as operações. Já vinha preparado. De um saco,já muito gasto,retirou tudo quanto era indispensável,menos o vinho,mas esse,a seu tempo,apareceria,pois ali havia muito.E o que era tudo? Uma cebola grande,daquelas próprias para um regimento,azeite,vinagre,sal e pão. Com um canivete,cortou a cebola em rodelas muito finas,que foram caindo num prato de esmalte,já também muito usado. Regou-as prodigamente com azeite e vinagre,que,mesmo assim,foram incapazes de dissolver as carradas de sal,ao seu gosto. O molho devia estar uma delícia,pois grande parte dele marchou logo,ensopando pedaços de pão. Finalmente,a montanha de rodelas lá seguiu o seu destino,mas com vagares. Foi um prazer vê-lo comer. Prazer maior deve ele ter tido. E assim,ficou sobejamente demonstrado como tão simples é,e quase de graça,o ter uma fina ceia.
NAQUELA RAREFACÇÃO
Fora um encontro inesperado. Uma porta estava aberta e lá dentro um velho trabalhava. Os seus ollhos podiam avistar dali meio mundo. Pois desse vasto mundo, era ele o último na sua arte. A forja crepitava e lá fora uma roda esperava. Aro que ele ajustasse era aro para sempre. As encomendas não choviam,naquela altura,como era de imaginar,mas isso pouco lhe importaria. Naquela atalaia,naquele ermo,tinha o universo a seus pés. Ninguém o incomodava e ele retribuía de igual modo. Não parecia que os anos lhe pesassem. Talvez tivesse desejado acabar assim. Um dia,naquela rarefacção,naquele silêncio,iria por esses ares além,certamente,feliz ,por ter sido o que mais resistira.
EMPREITADA
Eram quatro barras metálicas,pesadas,deixadas num descampado,junto a uma rotunda de contínua circulação. Talvez estivesse ali uma fortuna,quem sabe?
E assim,um velhote,alto,muito magro,apoiado numa bengala,tratou de as levar ,uma a uma,para um sítio onde,facilmente,as pudessem vir buscar.
O barulho que daqui resultou,pelo arrastar,com uma corda,da preciosidade, sobre o asfalto,e os perigos a que o velhote se expôs,só ouvido e visto. Valeu-lhe a compreeensão de todos.
Da tal estafadeira,e sabe-se lá mais de quê,o velhote,no final da empreitada,não parava de gesticular e de consigo mesmo falar.
E assim,um velhote,alto,muito magro,apoiado numa bengala,tratou de as levar ,uma a uma,para um sítio onde,facilmente,as pudessem vir buscar.
O barulho que daqui resultou,pelo arrastar,com uma corda,da preciosidade, sobre o asfalto,e os perigos a que o velhote se expôs,só ouvido e visto. Valeu-lhe a compreeensão de todos.
Da tal estafadeira,e sabe-se lá mais de quê,o velhote,no final da empreitada,não parava de gesticular e de consigo mesmo falar.
segunda-feira, 8 de março de 2010
MILHÕES DE ESTÁTUAS
Há seres que vêm ao mundo para fazer bem. É o caso das diatomáceas e das algas azuis. Povoam mares,e não só,servindo de alimento a quem lá vive. Portadores de clorofila,retiram anidrido carbónico da atmosfera e oxigenam águas e terra. Merecem milhões de estátuas, por serem milhões também.
MAL DA VOLTA
Mesmo pujante,aquilo era pasto que já não servia. As vacas que ali tentassem fazer pela vida perdê-la-iam antes do tempo próprio. A erva estava doente. Mas de quê? Só muito tarde se veio a saber. Mas não ficaram à espera,pois havia que sustentar a família. Se ali não podiam permanecer,talvez noutro local,mesmo ao lado,as vacas medrassem como convinha. E foi o que observaram. Mais ainda verificaram que,decorrido certo tempo,o local maldito deixava de o ser. Era como se tivesse de ir dar uma volta ,para distrair ou para descansar,e como mal da volta ficou a ser conhecido. Não interessa aqui dar notícia do porquê de mal tão estranho. Basta dizer que lá,passado esse certo tempo,a terra se recompusera,fornecendo ao pasto o alimento necessário para confortar as vaquinhas. Faz isto lembrar movimentações bem conhecidas. E é vê-los,sós ou acompanhados,tocando,ora ali,ora acolá. E um dia,dada uma volta,regressam ao local de partida. Os sítios onde fazem pela vida parece,a dada altura,virem a padecer de um mal,um tanto ou quanto indefinido. Precisam também de que algum tempo se esvaia,para que os sítios,ou eles,se restabeleçam. Para isso,vão dar uma volta.
SEM CORAÇÃO
Naquela rua de terra urbana ,vivia uma rola,ou duas,ou mais,não se sabia ao certo. O que se sabia, é que de uma varanda,lá bem no alto,vinha um canto magoado,repetido,de quem não se sentia lá muito bem. Naquela rua,ouviam-se mais cantos,de papagaio,de periquitos,de pardais,de pombos e de outros que tais. Mas era aquele choro de vida presa que mais se ouvia. Apetecia subir aquela varanda e assaltá-la. Apetecia libertar aquela vida enclausurada. E uma vez liberta,iria por esses ares fora em demanda de melhor poiso. Talvez uma simples árvore,como uma daquelas ali tão perto,talvez num jardim ou num parque,que os havia ali próximo,talvez numa floresta vasta,lá longe,talvez num pinhal rescendente. Mas já chegaria uma pequena mancha verde que lá do alto se via. Ah gente empedernida,sem coração. Para terem, ao pé da porta,um leve cheirinho da saudosa aldeia,pouco lhes importa serem fautores de cativeiro e seus guardiões.
domingo, 7 de março de 2010
UM OUTRO PRODÍGIO
É imenso o mar e nele fervilha a vida. De onde lhe virá o azoto,esse vital elemento? Vem da terra,vem dos relâmpagos,vem,acima de tudo,de algas azuis,que conseguem fixar azoto do ar. Uma vez mais,uns pequeninos seres dão alimento a um gigante. Um outro prodígio.
UMA DIVINDADE
Finalmente. Um ar de grande felicidade envolvia-o. Teria vindo em peregrinação,cumprindo,talvez,uma promessa ou,mais propriamente,um sério,um sagrado dever. O santuário ali estava,pressionando. Parecia ter tardado. Como em êxtase,logo à entrada,quedou-se, respeitosamente,de cabeça inclinada,por momentos. Depois,sem hesitar,dirigiu-se directamente,como que atraído,ao túmulo do Gama,postando-se muito hirto junto de seus pés,mais uma vez de cabeça pendida. Pousando levemente a mão direita na pedra fria,assim esteve todo o tempo da visita. Abandonara o numeroso grupo em que viera integrado. Os outros,incluindo a mulher,lhe contariam o que tinham visto,que era muito e rico. Nada mais lhe interessara,a não ser velar os restos de alguém,que, pela vez primeira, abrira uma porta nunca franqueada. Estaria convicto de que sem esse prodígio não teria chegado tão cedo a certas paragens. E estar-lhe-ia para sempre agradecido. Quem sabe, até, se não o consideraria como uma divindade. E estar ali ao pé dela era do que mais gostaria.
TRANCA
Aquele serviço novo,de calcorriar montes e vales,não começara nada mal. Não lhe coubera um quarto de primeira,lá na pensão,mas sempre era melhor do que uma barraca. Janela não havia,mas tinha porta,a que faltava a chave. Em sua substituição,servia uma cadeira de tranca.
sábado, 6 de março de 2010
JOAQUIN SOROLLA
http://www.musee-orsay.fr/en/info/gdzoom.html?tx_damzoom_pi1%5Bzoom%5D=1&tx_damzoom_pi1%5BxmlId%5D=009226&tx_damzoom_pi1%5Bback%5D=en%2Fcollections%2Findex-of-works%2Fresultat-collection.html%3Fno_cache%3D1%26zsz%3D9&cHash=b4569ff932
http://www.museodelprado.es/en/the-collection/online-gallery/on-line-gallery/zoom/2/obra/and-they-still-say-fish-are-expensive/oimg/0/
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COM VAGARES
Nos fins de semana,havia festa rija na horta da"quinta" avenida lá do bairro. Juntavam-se os amigos e aquilo era um fartar de carapaus assados por longas horas. Os ares enchiam-se de odores indiscretos e os vizinhos ficavam com muita pena de não os convidarem. Os carapaus não podiam ser uns quaisquer. Tinham de ser uns muito especiais. Mas para isso, havia dois especialistas. Um deles,entrava de serviço bem cedo. Ia ao mercado,ali a dois passos,e percorria com vagares todas as bancas . Era paciente e levava a função muito a peito. Parava,examinava,cheirava,recuava,encostando-se à parede,como a antegozar o festim próximo. Finalmente,decidia-se. Iam ser aqueles. Chegara a altura de chamar o outro,o cozinheiro,o mais entendido na matéria. Vinha o cozinheiro. Fazia o exame que lhe competia,com outros olhos. Mas aquilo não era mais do que uma confirmação. Encha lá o prato. Ainda rejeitavam alguns,o que era tolerado,pois para fregueses como aqueles tinha de se ter muita compreensão.
MANHAS
Era um lobo mau que se cobria de ridículo,fugindo,no final,com o rabo a arder. Assim todos os "porquinhos" simplórios soubessem livrar-se de todos os "lobos maus",ainda que não chegassem a tanto. Bastava que os afugentassem antes de eles fazerem algumas das suas. Ele bem se esforçara,escondendo-se sob disfarces vários,mas os porquinhos eram sabidos e não foram na sua conversa. A mãe tinha-os ensinado a livrarem-se das muitas ciladas que ele lhes podia armar. Porquinho avisado vale por dois ou mais. Os meninos que lá se encontravam a ver tudo isto estariam ainda longe de entender as mascaradas de todos os dias,mas talvez tivessem aprendido alguma coisa muito importante. Pelo menos,que os "lobos maus"procuram disfarçar-se, para mais facilmente apanharem quem lhes está apetecendo. E isso talvez os levasse a precaverem-se. Olha,este senhor parece um"lobo mau". Anda,com certeza,a preparar alguma maroteira. Aquela cara,aquelas palavras não enganam. Não estão a ver aquele olhar a destilar cobiça? A concorrência é grande,pelo que arriscam muito,destapando-se demasiado. E insistem,na esperança de topar com algum "porquinho",órfão muito cedo,que não esteja,por isso,ciente das manhas que por aí vão.
SEMPRE EM FRENTE
Boa tarde. Oiça lá,oh amigo,vai-se bem por aqui? O amigo,era um soldado que vinha de licença. Vai sim senhor. Se não se importa,pode levar-me,que eu vou para lá perto? Foram muitas as voltas que se deram,que o soldado quis dar noticia de si aos muitos amigos. Não houve canto que se não visitasse. E ele ali ao lado,a dar as precisas indicações. Volte à direita,depois à esquerda. Pronto,já cheguei. Agora,é sempre em frente.
sexta-feira, 5 de março de 2010
METHANE RELEASES FROM ARCTIC SHELF
Methane is a greenhouse gas more than 30 times more potent than carbon dioxide. It is released from previously frozen soils in two ways. When the organic material -- which contains carbon -- stored in permafrost thaws, it begins to decompose and, under oxygen-free conditions, gradually release methane. Methane can also be stored in the seabed as methane gas or methane hydrates and then released as subsea permafrost thaws. These releases can be larger and more abrupt than those that result from decomposition.
From Science Daily March 5 2010,from Science March 5 2010
http://tempsreel.nouvelobs.com/actualites/sciences/nature/20100305.OBS8828/le_methane_sechappe_de_locean_arctique_plus_rapidement_.html
From Science Daily March 5 2010,from Science March 5 2010
http://tempsreel.nouvelobs.com/actualites/sciences/nature/20100305.OBS8828/le_methane_sechappe_de_locean_arctique_plus_rapidement_.html
LÁ DO ALTO
http://photos1.blogger.com/blogger/609/1252/1600/OK_P1010179_b.jpg
Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR
DORMINHOCOS
Já é vontade de ir acordar, e pôr a trabalhar,quem estava a dormir,lá muito sossegado,nas profundezas,há anos sem conta. E ali,mesmo ao pé,com tanto sol,com tanto vento,com tanta onda,com tanta maré,com tanta água,com tanto calor geotermal,á espera que deles se lembrem. Depois,para pôr a trabalhar quem estava dormindo,lá se vai gastando oxigénio que,pode dizer-se,deve a sua existência ao sono profundo dos dorminhocos.
ENCANTAMENTO
Estava um fim de tarde ameno de Setembro. Pequenos bandos de gaivotas dispersavam-se no areal extenso. Um ou outro casal de velhos passeava no empedrado fronteiro. O bulício de Agosto era já uma lembrança. Apetecia ficar ali,a sentir a aragem levemente fresca e a respirar o ar fortemente iodado. Ao longe,surge uma figura magra,sobraçando um livro,de mãos nos bolsos. Aproxima-se serenamente,pausadamente. No rosto,esboça-se um sorriso,talvez de encantamento. Era uma figura pública,simpática,respeitada. Dirige-se à esplanada. Senta-se e pousa o livro na mesa. Fica de perfil. Os seus olhos fitam-se no horizonte. Quase não se mexia. O livro jazia esquecido,na sua frente. Que pensamentos ocupariam aquela cabeça?,pródiga em opiniões,carregadas de saber,despidas de qualquer assomo de autoridade. Era aquele,afinal,o cenário que mais se quadrava com ele. A tranquilidade envolvente,o quase silêncio do céu e da terra,o esperguiçar manso das ondas,o azul em frente e acima. E ele ali sentado,sem dialogar,mas comunicando secretamente.
ALGUMA COISA ELE FIZERA
Lembrou-se ele, um dia,de fazer um certo escrito ,destinado a uma reunião fora de portas. O escrito lá foi feito e enviado. Passado tempo,recebeu resposta a dizer que o podia ir apresentar. Era altura,então,de arranjar dinheiro para as viagens,quantia,aliás,modesta,e de se munir da autorização de quem de direito,uma vez que as coisas tem de ser feitas como deve ser. No sítio A,de quem ele mais dependia,os cofres estavam vazios. Foi bater,então,à porta do sítio B,onde ele fazia uns biscates. B não se fez rogado. Dois ou três dias depois,tinha o cheque na mão. Parecia o caso resolvido. Forte engano. Acabou por não ir,simplesmente porque A não deixou. Em B,ficaram muito admirados quando ele lá foi devolver o cheque. Nunca tal coisa tinha acontecido. E ficaram a desconfiar muito dele. Os tempos estavam também muito toldados.Ainda lhe lembraram que metesse férias,mas ele era muito cumpridor.
CRISTAIS DE GELO
Desfez-se a nuvem, e lá se foi a refracção da luz. As cores do arco-íris pintavam a nuvem,o que lhe ficava muito bem. Foi pena ser ela uma nuvem passageira. Com ela,tinham-se desfeito, também, os cristais de gelo que tal refracção permitia.
quinta-feira, 4 de março de 2010
NEM PIO
Eram onze horas de uma manhã soalheira de domingo. Acabara de sair de casa e trazia,além de um saco de lixo,um feixe de inveterados hábitos. Fechara a porta e dera o primeiro passo no passeio da sua rua,uma rua central lá do bairro. O que lhe apetecera imediatamente fazer,para cumprimentar a sua rua? Pois foi cuspir para o chão,com grande desenvoltura. Um outro isso observou sem espanto. Era o que tinha já visto,vezes sem conta. Mais,da mesma familia,haveria de ver. Era só dar tempo ao tempo. Não demorou muito. Tinha sido o último aquele cigarro. Foi a caixa atirada para o asfalto,sem cerimónias. Mas não há duas sem três,e,ao virar da esquina,lá estava a terceira,uma terceira encorpada. Nada menos do que três grandes poias,de três senhores cães,na relva do jardim. E os donos,ali ao lado,em animada cavaqueira. O que se há-de fazer? Nem pio. É que o risco é grande. Podem cuspir-lhe em cima,mandá-lo passear e não se sabe mais o quê.
O RESTO
Quatro rios de uma vida. Um,o Tejo,assistiu no começo,no final,e na maior parte dela. Os outros,o Sado,o Longa e o Tyne,presenciaram o resto.
quarta-feira, 3 de março de 2010
A PROPÓSITO DO SEQUESTRO DO CARBONO
O crescente aumento da população implica um acréscimo da necessidade em bens alimentares e em energia. Não se alterando, de modo significativo, a produtividade das culturas,isso levará à expansão da área agricultada,à conta de matos e de florestas.
Sendo assim,o sequestro natural do carbono será afectado,entre outras vias, quer acelerando a decomposição da matéria orgânica dos solos,quer eliminando árvores. A redução de emissões de carbono associada ao emprego de etanol e de biodiesel,substituindo combustíveis de natureza fóssil,será apreciavelmente mitigada.
Compreende-se,pois,as preocupações manifestadas no muito recente artigo em Proceedings of the National Academy of Sciences dos EUA, Indirect land-use changes can overcome carbon savings from biofuels in Brazil,bem como as reacções que despertou.
Sendo assim,o sequestro natural do carbono será afectado,entre outras vias, quer acelerando a decomposição da matéria orgânica dos solos,quer eliminando árvores. A redução de emissões de carbono associada ao emprego de etanol e de biodiesel,substituindo combustíveis de natureza fóssil,será apreciavelmente mitigada.
Compreende-se,pois,as preocupações manifestadas no muito recente artigo em Proceedings of the National Academy of Sciences dos EUA, Indirect land-use changes can overcome carbon savings from biofuels in Brazil,bem como as reacções que despertou.
SEMPRE SÓ
Naquela manhã,apeteceu-lhe ir até à beira-rio. A temperatura amena convidava a desentorpecer as pernas. No céu,uma barreira de nuvens escondia o sol. A companhia era escassa. Num carro,o condutor punha-se a par das últimas da bola,e uma cana de pesca estava montada na ponta do esporão. Sentou-se,a olhar para as águas castanhas que vinham bater mansamente na muralha. O barco da carreira lá ia em mais uma viagem. As gaivotas estavam recolhidas. Um homem aproximou-se e sentou-se. Trazia a camisa aberta e sobraçava um jornal. Deslocava-se com dificuldade. A cara não lhe era estranha. Já o vira algumas vezes,sempre só. Então,anda também no seu giro? Tinha dificuldade em se exprimir,mas lá se percebia. Estava reformado e o jornal era para regressar ao quiosque ,depois de o ler. De súbito,pôs uma pergunta. Quer que lhe faça alguma coisa? A resposta tardou. Interpretando, ou nã,o o silêncio,vá-se lá saber o que lhe ia na cabeça,como um consentimento,chegou-se mais e a sua mão,onde luzia uma aliança,avançou,pairando. Não se lhe deu tempo para ele a pousar. Já se estava fazendo tarde para ir pelas sopas. Ele levantou-se também, e lá foi devolver o jornal,caminhando,ao longo de largo passeio,muito lentamente,de modo trôpego,olhando para o chão.
O PEDIDO
Era ele um velhinho muito pobre. Não se sabia onde morava. Numa manhã de bater o queixo,um menino de bom coração,com muita pena do velhinho,fez-lhe algumas perguntas. Onde moras? É conforme. Ao ar livre,no chão ou num banco, debaixo de uma ponte,num buraco,sítios assim. Não tens frio,não tens dores,não tens fome? Já não sinto nada. Não tens tido doenças? Sim,muitas,mas o tempo tudo cura.Tu não choras? Já chorei tudo. Não andas triste? Já gastei toda a tristeza. Não acreditas em Deus? Sim. Então,porque não Lhe pedes para te ajudar? Não estou para isso. Ele,coitado,deve ter muito em que pensar. Não Lhe quero dar mais trabalhos. Mas se um dia te desse para Lhe pedir uma coisa,o que seria? Olha,pedia-Lhe a Morte. Mal ele disse isto,desmaiou. O menino muito aflito,foi logo chamar a mãe,que estava ali perto. Uma ambulância levou-o ao hospital. Nunca mais viram por ali o velhinho. Deus deve-lhe ter satisfeito o pedido.
DESOLAÇÃO
A fronteira devia estar perto. Não se via,mas era como estar pisando chão de ninguém,chão onde,por assim dizer,não havia lei. Para isso,concorria muito o serem os terrenos à vista de fraca valia. Era uma desolação. Quase nem se dava por uma ervinha. Teria sido fácil traçar ali uma linha divisória.
terça-feira, 2 de março de 2010
AO MESMO CLUBE
A coisa conta-se depressa. A mocinha negra dava clara indicação de que muito em breve germinaria. E aproveitou,interpretando correcta,ligeira e prazenteiramente, a condição daquela fila. Também tinha direito,pois então,ela que não estaria habituada a tal cortesia. O que ela foi fazer. Uma velha,daquelas tronchudas e mal encaradas,logo reagiu. Qualquer dia também arranjo uma almofada. Mas não se ficou por aqui. A menina da caixa,por sinal,negra também,que viera com justificações,levou, igualmente, a sua conta. Vê-se mesmo que pertencem ao mesmo clube.
QUE SAUDADES
Pois ela tinha muito para contar. Durante anos,acreditara no destino,que fora assim que a sua mãe lhe ensinara. Mas,depois de muito pensar,chegara à conclusão de que não devia ser bem assim. Ainda que houvesse uma certa sina,com força de vontade tudo se podia alterar. E o caso dela era bem uma prova disso. Divorciara-se e estivera para morrer,ou melhor,entrara em forte depressão. Mas, com muito querer ,vencera-a. Naquela altura,sentia-se dona de si. Havia,porém,algumas didiculdades. Não tinha emprego e ficara com uma filha. O pai atrasava-se ,às vezes ,com a prestação. Estava ali a ver se ele já fizera o depósito em falta,que bem precisada se encontrava. A filha andava com muitas exigências. O que lhe valia era a mãe,coitada,que vivia de uma boa pensão. Passava a maior parte do tempo com ela,embora tivesse a sua casinha. Estava também atravessando um mau bocado. O prédio ia ser demolido e queriam pô-la num quarto com uma vizinha ou então davam-lhe dinheiro. Não sabia o que fazer.Vinha mesmo a calhar o fim do mundo. Aproximava-se o ano dois mil. Uma vizinha,muito crente, afiançara-lhe que o fim chegaria por fases. Por onde iria começar era a sua grande preocupação. Tudo isto a fizera desinteressar de muitas coisas,como de eleições. Nunca votara. Eram todos os mesmos. Só votaria num que a empregasse. Dantes não havia nada disto. Que saudades. Ela estava ainda nova e podia ser que as viesse a matar.
segunda-feira, 1 de março de 2010
INTEIRA
Era uma frágil vara que fora lançada a um rio,muito perto da nascente. E lá viera ela por ali abaixo,encalhando ali,libertando-se além. Parecia,às vezes,ficar retida de vez,mas assim não calhou,vá-se lá saber porquê. Certo é que a pobre vara acabou por chegar à foz,sumindo-se no mar. Andou nisso uma vida. No final,não era,via-se bem,a mesma vara lá do começo da arriscada aventura. Estava cheia de marcas,das pancadas que levara. Mas entrara inteira no mar.
INVERNO
http://www.flickr.com/photos/lambertwm/3188659039/sizes/l/
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http://www.flickr.com/photos/40386452@N05/4348872756/sizes/o/
http://www.flickr.com/photos/xfp/3209424840/sizes/o/
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SOBRE O CARBONO
Como se sabe,são muitos os modos de manter,temporariamente,o carbono fora do seu ciclo activo. É o caso da matéria orgânica dos solos,é o caso das árvores,das madeiras,das mobílias,da cortiça. Enquanto não houver decomposição microbiológica,quer por via aeróbia,ou anaeróbia,
enquanto combustão não ocorrer,o carbono permanece como tal,e não como anidrido carbónico,o seu,por assim dizer,destino final. Assim,de modo tímido,todos esses materiais imitam os seus irmãos fósseis,quando os deixam lá estar no seu sono de milhões de anos.
enquanto combustão não ocorrer,o carbono permanece como tal,e não como anidrido carbónico,o seu,por assim dizer,destino final. Assim,de modo tímido,todos esses materiais imitam os seus irmãos fósseis,quando os deixam lá estar no seu sono de milhões de anos.
O SEU BAÚ
Teria,quando muito,vinte anos. Pode dizer-se que estava no seu apogeu. Assim o entenderia ela. A dona do mundo,a sua rainha.Para melhor ver o mundo,o seu reino,ou antes,para que melhor o mundo a visse,a sua rainha,estava de pé,com óculos escuros,feita estátua,do mármore mais fino,de mármore de Carrara.Dos ombros largos,pendia avantajada mala,o seu baú de preciosidades. Dele tirou um maço de cigarros,ainda intacto. Abriu-o e lançou parte da tampa par o chão. Um servo que a apanhasse.Pegou num cigarro e acendeu-o,recorrendo ao seu baú. Os gestos eram lentos,a modos que estudados. Uma rainha tem de saber comportar-se. Toda ela se expunha.Chegara a altura da sessão musical. Os auscultadores já estavam montados. Foi só premir os botões certos. E ali ficou,meneando a cabeça,mexendo os lábios. Parecia ter esquecido o mundo. Uma ingrata.Tantas canseiras dos paizinhos e talvez,também,dos avôzinhos. Tantos carinhos deles,tantos sonhos deles. Para isto. É a vida.
TINTEIRO DE VIDRO
Por aquele andar,um dia, ainda se dava ali uma tragédia. Não se deu,mas esteve lá muito perto. Era uma sala ampla,com um anel de secretárias para os trabalhadores. Seriam uns seis,naquela altura. Todos jovens. Estava a sala passando por um mau bocado. Trabalho não vinha e eles cheios de vontade para fazer coisas. O ambiente era,pois,sem exagero,de cortar à faca.Dois deles,sentados frente a frente,não se perdiam de amores um pelo o outro,vá-se lá saber porquê. Feitios. De vez em quando,por razões de pouca monta,lá quase explodiam. E certa manhã,talvez por ter acordado muito mal disposto,um deles, pegou num tinteiro de vidro,cúbico,pesado,de arestas afiadas,e atirou-o,com ganas,ao inimigo. Não acertou no alvo,simplesmente porque ele já lá não estava. Silêncio, de túmulo. Frio,de morte. Espanto,de incredulidade. Como fora possível? Continuaria a sê-lo, pois os ingredientes tinham cara de permanecer. Um dos outros,talvez o mais novo,muito amedrontado,tomou logo ali uma decisão. Tinha de sair daquele barco, e sem muita demora. Conseguiu. Mas outros barcos,algo parecidos,o esperavam.
SUA VIDA
Aquilo não tinha qualquer jeito. É que passavam a vida a implicar-se mutuamente,não fazendo,
podia dizer-se,outra coisa. E isso,ainda que caíssem raios e coriscos,mesmo ali à sua beira. Parecia,até,serem todos da mesma família. E lá iam comendo,e lá se iam divertindo,e quem não gostasse fosse lá à sua vida.
podia dizer-se,outra coisa. E isso,ainda que caíssem raios e coriscos,mesmo ali à sua beira. Parecia,até,serem todos da mesma família. E lá iam comendo,e lá se iam divertindo,e quem não gostasse fosse lá à sua vida.
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