segunda-feira, 1 de março de 2010

O SEU BAÚ

Teria,quando muito,vinte anos. Pode dizer-se que estava no seu apogeu. Assim o entenderia ela. A dona do mundo,a sua rainha.Para melhor ver o mundo,o seu reino,ou antes,para que melhor o mundo a visse,a sua rainha,estava de pé,com óculos escuros,feita estátua,do mármore mais fino,de mármore de Carrara.Dos ombros largos,pendia avantajada mala,o seu baú de preciosidades. Dele tirou um maço de cigarros,ainda intacto. Abriu-o e lançou parte da tampa par o chão. Um servo que a apanhasse.Pegou num cigarro e acendeu-o,recorrendo ao seu baú. Os gestos eram lentos,a modos que estudados. Uma rainha tem de saber comportar-se. Toda ela se expunha.Chegara a altura da sessão musical. Os auscultadores já estavam montados. Foi só premir os botões certos. E ali ficou,meneando a cabeça,mexendo os lábios. Parecia ter esquecido o mundo. Uma ingrata.Tantas canseiras dos paizinhos e talvez,também,dos avôzinhos. Tantos carinhos deles,tantos sonhos deles. Para isto. É a vida.

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