segunda-feira, 1 de março de 2010

TINTEIRO DE VIDRO

Por aquele andar,um dia, ainda se dava ali uma tragédia. Não se deu,mas esteve lá muito perto. Era uma sala ampla,com um anel de secretárias para os trabalhadores. Seriam uns seis,naquela altura. Todos jovens. Estava a sala passando por um mau bocado. Trabalho não vinha e eles cheios de vontade para fazer coisas. O ambiente era,pois,sem exagero,de cortar à faca.Dois deles,sentados frente a frente,não se perdiam de amores um pelo o outro,vá-se lá saber porquê. Feitios. De vez em quando,por razões de pouca monta,lá quase explodiam. E certa manhã,talvez por ter acordado muito mal disposto,um deles, pegou num tinteiro de vidro,cúbico,pesado,de arestas afiadas,e atirou-o,com ganas,ao inimigo. Não acertou no alvo,simplesmente porque ele já lá não estava. Silêncio, de túmulo. Frio,de morte. Espanto,de incredulidade. Como fora possível? Continuaria a sê-lo, pois os ingredientes tinham cara de permanecer. Um dos outros,talvez o mais novo,muito amedrontado,tomou logo ali uma decisão. Tinha de sair daquele barco, e sem muita demora. Conseguiu. Mas outros barcos,algo parecidos,o esperavam.

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