quarta-feira, 24 de março de 2010

FIDELIDADE

A velhota encostara-se ao balcão e não dizia nada. Chegara a sua vez e não a aproveitou. Não era aquela a empregada preferida. Já ali vinha há longos anos,como se ouviu mais tarde,e habituara-se àquele canto,onde pontificava a eleita. Esta apareceu, finalmente. Então,só a mim é que me quer? Olhe que seria o mesmo com qualquer das minhas colegas. Está bem,está,podia ter-se escutado. Dera-se sempre bem com esta,não era agora que iria trocá-la por outra. A senhora teria a sua razão. Era ali,naquele canto,que ela conseguia a satisfação que procurava. Era já muito velha e viveria só. Poucas teriam paciência com ela e talvez algumas não a respeitassem como deviam. Aquela,não. Por isso,certa de que a não magoaria,usando palavras rudes,como teria acontecido com outras,deixava-se ficar à espera. Regressaria a casa consolada,de energia renovada para mais um dia. Pequenas coisas que valem muito para alguns. Não teria dado conta,muito provavelmente,de uma certa indiferença que a preferida manifestara e que contrastava com a sua fidelidade,quase canina,pedindo afagos. Era bem isto uma prova de grande carência afectiva. Mas que podia fazer mais a outra? Estaria bem servida. Tantos que ela teria de atender,para ser justa.

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