quarta-feira, 24 de março de 2010

FEIRA

A turista olhava em volta,como que a pedir ajuda. Então,não queriam lá ver? Já uma pessoa não podia andar, descontraidamente, pela feira, a deliciar-se com um tão belo cacho de uvas? Não podia,não,que alguém o podia cobiçar. E foi o que lhe aconteceu. Uma garotita,aí de uns dez anos,não havia meio de a deixar de perseguir. Tanto insistiu,que acabou por lhe dar o que restava. Mas o ar consternado que a senhora pôs foi tal,que era para ter pena dela. O que teria ela pensado? Uma feira cheia de coisas tão boas,com tanta gente a ver e a comprar. Pois é. Mas é que também andavam por lá mendigos vários. Alguns circulavam,como aquela garotita,mas a maioria fazia pela vida nos cruzamentos,expondo as suas desgraças. Uns não tinham braços,outros pernas, e ainda outros mostravam chagas. Faziam parte,afinal,da feira. Era uma exposição diferente,mas cada um expõe o que tem ou não tem. E oportunidades daquelas não se podiam desperdiçar. À semelhança dos feirantes com banca,que saltam de um local para outro,de acordo com um calendário bem definido,os carenciados disto e daquilo aproveitam e acompanham-nos nas andanças.O ambiente estimula as transacções,ainda que deixe alguns um tanto frustrados,por terem comprado gato por lebre,ou por serem tentados a largar,como aquela turista,o que tão prazenteiramente estavam saboreando.

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