segunda-feira, 22 de março de 2010

FUNDO VERDE

Daquele alto terraço,qual atalaia,em todo um círculo,havia muito para onde olhar. Em baixo,a vila estendia-se ao longo do dorso do monte,com ramificações nos seus contrafortes. Lá estava a igreja,que regularmente quebrava o silêncio,com o bater das horas e dos quartos. Mais adiante,os edifícios dos correios,dos bombeiros e dum lar misto para crianças e idosos. Depois,a escola primária e a secundária. Num dos extremos ,erguia-se a Adega Cooperativa,onde se fabricava o néctar do concelho,um dos limites da zona demarcada do vinho do Porto. Aqui terminava o xisto e começava o granito do vinho verde. Lá ao longe,num dos sectores,era um degrau do Marão. Em toda a volta,socalcos e mais socalcos,alguns a serem transformados. Aqui e ali,cerdeiras punham manchas vermelhas em todo aquele fundo verde. Um riacho descia apressadamente para o Douro,ali a dois passos,impregando o ar com o ruido de várias cascatas anãs. À noite,enxames de luzes denunciavam a presença de muitos lugarejos e na estrada para Amarante surgiam focos de faróis,escondidos,a intervalos,por um ou outro biombo. Morcegos cortavam o ar em busca de alimento. A espaços,ouvia-se o ladrar de cães das quintas próximas ,nessa altura,em permanente vigília,pois um grupo organizado,uma outra espécie noctívaga,andava por ali à cata de alfaias agrícolas. De vez em quando,lá das bandas de Lamego,vinha o ribombar de trovões,a colaborarem no alerta. Era mesmo de armar ali tenda.

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