sexta-feira, 5 de março de 2010

ENCANTAMENTO

Estava um fim de tarde ameno de Setembro. Pequenos bandos de gaivotas dispersavam-se no areal extenso. Um ou outro casal de velhos passeava no empedrado fronteiro. O bulício de Agosto era já uma lembrança. Apetecia ficar ali,a sentir a aragem levemente fresca e a respirar o ar fortemente iodado. Ao longe,surge uma figura magra,sobraçando um livro,de mãos nos bolsos. Aproxima-se serenamente,pausadamente. No rosto,esboça-se um sorriso,talvez de encantamento. Era uma figura pública,simpática,respeitada. Dirige-se à esplanada. Senta-se e pousa o livro na mesa. Fica de perfil. Os seus olhos fitam-se no horizonte. Quase não se mexia. O livro jazia esquecido,na sua frente. Que pensamentos ocupariam aquela cabeça?,pródiga em opiniões,carregadas de saber,despidas de qualquer assomo de autoridade. Era aquele,afinal,o cenário que mais se quadrava com ele. A tranquilidade envolvente,o quase silêncio do céu e da terra,o esperguiçar manso das ondas,o azul em frente e acima. E ele ali sentado,sem dialogar,mas comunicando secretamente.

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