quarta-feira, 3 de março de 2010
SEMPRE SÓ
Naquela manhã,apeteceu-lhe ir até à beira-rio. A temperatura amena convidava a desentorpecer as pernas. No céu,uma barreira de nuvens escondia o sol. A companhia era escassa. Num carro,o condutor punha-se a par das últimas da bola,e uma cana de pesca estava montada na ponta do esporão. Sentou-se,a olhar para as águas castanhas que vinham bater mansamente na muralha. O barco da carreira lá ia em mais uma viagem. As gaivotas estavam recolhidas. Um homem aproximou-se e sentou-se. Trazia a camisa aberta e sobraçava um jornal. Deslocava-se com dificuldade. A cara não lhe era estranha. Já o vira algumas vezes,sempre só. Então,anda também no seu giro? Tinha dificuldade em se exprimir,mas lá se percebia. Estava reformado e o jornal era para regressar ao quiosque ,depois de o ler. De súbito,pôs uma pergunta. Quer que lhe faça alguma coisa? A resposta tardou. Interpretando, ou nã,o o silêncio,vá-se lá saber o que lhe ia na cabeça,como um consentimento,chegou-se mais e a sua mão,onde luzia uma aliança,avançou,pairando. Não se lhe deu tempo para ele a pousar. Já se estava fazendo tarde para ir pelas sopas. Ele levantou-se também, e lá foi devolver o jornal,caminhando,ao longo de largo passeio,muito lentamente,de modo trôpego,olhando para o chão.
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