quinta-feira, 4 de setembro de 2008

CAUDAIS DE DESDÉM

Parecia que aquilo não era com ela. Estava ali à mesa,acompanhando o marido numa visita à casa dos sogros,nada mais. Os velhotes alugavam quartos ,talvez para se sentirem menos sós.
Havia mais convivas. Entre eles,um dos hóspedes,vindo de país longínquo. Tratava-se do jantar de domingo. O repasto era ligeiro,um hábito consagrado,mas demorou,por via da conversa. Todos deram a sua contribuição,em grau maior ou menor, como é vulgar. Só uma excepção. Ela. Muito bem trajada,muito bem penteada,limitou-se a beber o seu chá e a mostrar-se. Dos seus olhos,muito bem compostos,jorravam ondas de desdém.
Porque se comportaria ela assim? Talvez para manifestar o seu desprezo pela mediania dos velhotes. Ela pertencia a outro estrato e nunca desceria ao ponto de franquear a sua porta a estranhos,e muito menos a estrangeiros. Encontrava-se ali, apenas porque se ligara, acidentalmente,àquele homem. Coisas que acontecem. Que ela merecia mais,muito mais.
Manteve-se muda e quase hirta durante todo o tempo de ali permanecer. Os da casa já a conheciam,pelo que não se sentiram incomodados. Mas era de a abanar,de a provocar. O de fora,ainda se tentou,mas a frieza daquela estátua intimidava. Pobre do consorte,que tivera um grande azar.

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