sábado, 13 de setembro de 2008

MAIS À MÃO

Mas que sujeito tão esquisito. Porque não tolerava explorações,logo foram os aleijados exploradores das suas próprias mazelas que ele escolhera para o mostrar,pelo menos,a si mesmo. Mal via um,fugia dele a sete pés,como se estivesse ali o diabo em figura de gente.
Elegera,afinal,os mais fracos da grande família dos exploradores,de que ele não se excluía,faça-se-lhe justiça. Pois não se explora tudo,conforme a possibilidade ou a conveniência de cada um?
Ele é a força,a inteligência,a esperteza,a habilidade,a manha,a beleza,o berço,um nunca mais acabar de atributos. É aquilo que está mais à mão. Tudo serve para esta luta da vida. E usam-se as armas de que se dispõe. Quem as tiver melhores é quem triunfa,quem sobrevive.
Não se pode levar a mal,pois,que os aleijados usem as únicas,assim se pode dizer,ao seu alcance. Ele,em boa verdade,não tinha nada contra os aleijados,coitados deles. Simplesmente,estava contra a exploração que eles faziam de si mesmos,ainda que para isso fossem empurrados,talvez a sua única saída. Simplesmente,achava isso indigno deles,como achava indigna qualquer outra forma de exploração. Era a sua dignidade que estava em causa,o único bem,talvez,que lhes restava.
E mais ainda. É que ele chegava a imaginar-se assim,um outro mais,ali a expor as suas mazelas. E isso duplamente lhe doiria,pelas mazelas e pela dignidade atingida de morte,ali exposta também.

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