terça-feira, 11 de novembro de 2008

ALVOS

Fora poupado no ventre da mãe,mas logo o que se seguiu,sem uma única excepção,não esteve para isso. Teria,naquela altura,quando muito ,quinze anos,passados,inteirinhos,entre barracas,o seu mundo. Com pais de vida incerta,crecera aos baldões da sorte.
Veio a guerra e ele viu-se na resistência,porventura,sem saber como. Deram-lhe uma arma e indicaram-lhe os alvos. Tantas vezes acertou,que teve direito a louvor e medalha. Mataria por prazer,talvez descarregando nos outros o que lhe ia na alma. Infância agreste,ausência de carinhos. Em vez disto,maus tratos,por tudo e por nada.
Veio a paz e veio a vida que ele conhecia muito bem. Esqueceram-se dele,mas ele não se esqueceu do seu apurado jeito. Alvos não faltavam. Eram todos os outros,os inimigos,sem distinção. Ainda fez o gosto ao dedo. Mas, desta vez,o prémio foi bem diferente.

De um filme de André Cayatte

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