domingo, 30 de novembro de 2008
CAVALO VERDE
JOSÉ CARDOSO PIRES
Lisboa
Livro de Bordo
Publicações Dom Quixote
3ª edição 1998
DE NINGUÉM
Pois foi precisamente aí,nesse sítio simples,que,certo dia,um dia vulgar,surgiu uma imagem do Criador. Não se sabia de onde tinha vindo,quem a tinha feito,porque fora ali posta. O certo é que ela ali estava,como que interpelando,como querendo dizer qualquer coisa de muito importante. Talvez ali tivesse estado sempre,só que não se dera por ela.
O que mais fazia pensar quando para ela se olhava com olhos de ver, era a cabeça,mas o resto não lhe ficava atrás. O tronco era robusto,viril,tal um de lutador,daqueles das antigas arenas,os braços e as pernas eram musculosos,a indicar que o tronco tinha neles e nelas suportes da mesma força.
Mas era a cabeça,sem dúvida,que mais impressionava,sobretudo,a cara,de uma cor indefinida,de nenhuma cor,uma cara de ninguém. Era,pode dizer-se,uma cabeça-síntese,parecida com todas as cabeças,uma a uma,sem uma escapar.
sábado, 29 de novembro de 2008
OLHOS NÓRDICOS
Fê-lo com desenvoltura,com clareza,com precisão,como se fosse uma máquina. Tê-lo-ia feito já muitas vezes,não importa. Talvez por tudo isto,fê-lo de uma maneira fria,muito longe,portanto,
da nada fria marca de cada um dos objectos nas vitrinas.
A explicação terminou e cada um lá foi ver o que quis e da maneira que entendeu. Ela ficou lá à espera de outra leva de gente,para,de novo,desempenhar o seu papel. Mas ficou disponível para qualquer esclarecimento. E foi o que,pelo menos,um certo alguém fez.
E foi como que uma revelação. A sua cara abriu-se num sorriso,os seus olhos iluminaram-se. Não parecia a mesma de há bocadinho. Parecia uma outra. Nem parecia uma freira. Que olhos bonitos ela tinha. Uns olhos azuis,de um azul muito claro. Uns olhos nórdicos.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
UMA SERENIDADE
Não admira pois que a terra seja muito procurada,podendo, até, lá permanecer. Era o que estava acontecendo a um turista,vindo de muito longe. Todo o seu aspecto indicava que estava deliciado. De resto,o dia também colaborava,um lindo dia de sol,não muito quente.
Parecia estar ele em sua casa. De alpergatas,de calções,de chapéu às três pancadas,preparava-se para ir bisbilhotar um marco desse passado rico. Mas alguém o interpelou. Sim,vinha ficar ali uns dias. Estava encantado. Pudera,o bulício que ia por lá,pela sua cidade distante. E ali era um sossego,uma paz,uma serenidade,quase o paraíso. E tão satisfeito estava,que não resistiu a anunciar que haveria de voltar,talvez mais do que uma vez.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
DE NADA SERVIU
Entretanto,dizia-se aqui e ali,em surdina,que a causa da mazela funesta estava ligada às mentiras que tinham passado a ser moeda corrente. Podia lá ser. Mais ainda, tal relação acabou por vir estampada em pedaços de papel,que eram deixados nos locais mais diversos,cafés,salas de espectáculos,repartições públicas,institutos de beleza,esplanadas,dormitórios,barbearias,campos de futebol,por toda a parte,até em barracas.
Referia o papelinho clandestino que as mentiras deixavam um registo de uma certa energia,muito especial,que se ia somando. Atingido um certo valor,variável consoante um sem número de condições,era o fim.
A coisa não durou muito tempo. Assim como veio,sem alertas,assim se foi,sem alertas também. Voltou tudo ao que tinha sido sempre. Quer dizer,ia-se desta para melhor quando tinha de ser. O trivial,o costume,sem tirar,nem pôr.
Foi um alívio. Mas aquela das mentiras nunca mais foi esquecida,ainda que de nada servisse.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
SÓ DE ENCOMENDA
A terra que o recebeu não lhe foi madrasta,antes muito ao contrário. Um lugar de feitor de grande e rica quinta estava à sua espera. Fora coisa que,porventura,nunca lhe tivesse aparecido em sonhos.
Um verdadeiro palácio abrigava-o,a ele e à família. Carros e cavalos livravam-no de canseiras. Apreciável parte do pão ficava-lhe quase de graça. Não era de exigir mais,podendo dizer-se que lhe saíra a taluda.
Se lá tivesse permanecido,mesmo sem calamidades,quando é que alcançaria uma posição daquelas,de muito invejar? Qualidades não lhe faltavam,é certo,mas outros as teriam e não se encontravam como ele. Era caso para dar graças,o que lhe seria fácil,na quietude dos seus principescos aposentos ,ou numa capela,que ali também havia. Uma tal coisa só de encomenda.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
MAIS À VISTA
E ainda bem,para muito proveito dos inquiridores de ocasião. Foi tudo,ou quase tudo,ali despejado,como se aquele tudo ou quase tudo estivesse na ponta da língua. Mas para além disso,veio,à mistura,muita cioisa mais,de que ele necessitava dar conta.
E o que é que havia de ser? Dos seus teres,pois claro,que lhe tinham dado muito trabalhinho para os ter. Isto aqui atrás é meu,o que estão a ver acolá,também,e assim por diante. Tivera de ser,tivera de cobrar,como que a mostrar serviço. Certamente que não era o primeiro a fazê-lo,nem o último,que isto ainda vai dar mais umas voltinhas. Tratar-se-á de uma disposição universal. De resto,os teres estão mais à vista. Quando apontados,dá-se logo conta deles.
É o ter mais do que o ser o que mais importa, talvez a uma maioria esmagadora,sobretudo,
quando já se labutou uns bons anos. É compreensível,é humano. Nem seria preciso referi-lo,é música já muito conhecida.
ORA BOLAS
Independentemente de toda esta excelência,graças a Deus,diria outro crente,tem o direito de,como os demais,talentosos ou não,de expressar,livremente,as suas ideias,e, também, de as defender,em contraposição a outras,por mais divergentes que sejam. Mas isso,com a devida lisura,no pleno respeito dos outros,como,aliás,consta dos seus mandamentos.
Como é corrente dizer-se,nada é absoluto,incluindo as ideias. Absoluto,só Deus,em que o professor Dawkins,de Oxford,não acredita. Foge dele como o diabo da cruz. Portanto,quando ele O combate,de que sairia derrotado,não é contra Ele,está visto,que investe,mas sim contra a ideia da sua existência.
O senhor professor Dawkins é uma pessoa extraodinariamente dotada,e, assim,muito mais dotada do que o comum dos mortais. Tem,pois,uma grande sorte. Pode afirmar-se que lhe saiu a sorte grande. É que podia ter nascido burrinho,o que não aconteceu,para bem dele,ou mal,quem sabe? Tê-lo-ia impedido de ser aquilo que é,um poço de ciência de ponta,não a de trazer por casa,como a do simples peão,e mesmo de muitos outros que não andam a pé. E não só. De ser aquilo que é,com todas as vantagens que isso traz,dinheiro,respeito,consideração,até adoração,de que ele não gostará.
E devia estar agradecido por isso. A quem? Isso seria com ele. A Deus não,nem pensar,porque não acredita nEle. Mas agradecer ou não,uma coisa é certa. Ele,como um vulgar qualquer,é fruto da circunstância,uma coisa muito complexa,que ele muito bem conhece,muito próximo de melhor do que ninguém. Circunstância,para uma muito apreciável parte da qual não pôs prego nem estopa,como é uso dizer-se.
É,pois,como qualquer um,um ser gratuito. Recebeu. Para dar? O quê? Isso é com ele,como para qualquer outro. Dirão os crentes,nasceu por obra e graça de Deus.
O senhor professor não tem,pois,todos os direitos. Não tem direito,por exemplo,de pôr todos os crentes no mesmo saco. Isso não é de um cientista,e então um do seu nível,que sabe que não deve generalizar. Têm de contar com a diversidade,tal como com espécies,variedades,cultivares. Há muita boa gente que acredita,que acreditou,aqui ou em qualquer outro lugar,de muito boa fé, em Deus. Que precisa dEle,como de pão para a boca . E isso,repete-se,de muito boa fé,sem pensamentos reservados,numa relação sã ,de filho para pai. Há gente assim. Devem ser milhões,muitos milhões.
Há gente,e houve,que acredita em Deus,de um modo mais ou menos consequente,que pauta a sua vida por tudo quanto decorre dessa crença,e não até à última consequência,porque são muito parecidos com os que não acreditam.
E aqui chegados,chegou-se ao que mais importa. O senhor professor não tem o direito de dizer que,"Entretanto,fazer coisas horríveis é uma parte lógica do processo de acreditar em Deus". É isto inqualificável. E ,depois,exclui os não crentes de tais actos. Vamos cair sempre no mesmo,já é má sina. Dum lado,os bons,os não crentes,do outro,os maus,destinados,arrastados,empurrados,a fazer as piores maldades,os crentes. Ora bolas,para tanta ciência.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
NÚMERO DE TÍTULOS DE HISTORIADORES PORTUGUESES(SÉCULOS XV,XVI E XVII) NAS BIBLIOTECAS DAS UNIVERSIDADES DE HARVARD(EUA) E DE OXFORD(REINO UNIDO)
Diogo do Couto 18 e 17
Duarte Galvão 6
Fernão Lopes 26 e 50
Fernão Lopes de Castanheda 10 e 2
Gaspar Correia 4 e 4
Gaspar Frutuoso 7
Gomes Eanes de Zurara 23 e 6
João de Barros 45 e 20
Rui de Pina 21 e 3
AMIGO DA ONÇA
Pouco tempo passado,toca,novamente,o telefone. O Francisco vai atender. Daqui é o João. Estive ontem com o Jorge. Olha lá,ele é de uma extracção muito baixa,não é? A família dele era muito pobre,não era? Viviam lá numa espécie de barracão,uma coisa imunda,não viviam? E assim por diante. O desprezo que ia por ali,uma vala cheia.
Coitado do Jorge. Ele a pensar que tinha ali,no João,um amigo,e,afinal,não era era mais do que um amigo da onça.
domingo, 23 de novembro de 2008
VIDAS MUITO DURAS
Para eles,o sermão que os esperava seria dispensável. Já teriam ressarcido a maioria dos pecados,senão todos. As palavras que estavam a ouvir apelavam ao arrependimento,à penitência,ao sacrifício. Soava isto a demasiado. Mereceriam,antes,receber louvores por tanta fidelidade. Cansados,derreados,saber-lhes-ia bem que alguém os consolasse.
Para a maor parte dos outros,os que não se tinham arrastado de joelhos até ao templo,pareciam também exagerados tais apelos. Tratava-se de gente simples,do meio rural. As suas vidas eram vidas muito duras,de trabalho quase permanente,no amanho das courelas,no cuidar do gado,na labuta da casa,na criação dos filhos. Os momentos de lazer quase se resumiriam aos das festas e romarias. Deveriam ser poupados aí,pois já teriam suportado o seu quinhão de penitência.
É A VIDA
sábado, 22 de novembro de 2008
UM HOMEM PERIGOSO
Então,é este o filho mais velho de que me tem falado? Está aí já um homem feito. E bem parecido que ele é. Está mesmo bom para a minha filha,e se ela o não quiser,não me importava de ficar com ele,pois o meu marido já lá vai.
O diabo da mulher,o que ela estivera para ali a dizer.O moço esperava lá uma coisa daquelas. Estava crescidinho,é certo,mas ainda muito novo para casar. A mulher devia ter estado a mangar. O certo é que aquelas tiradas perturbaram-no bastante. Ele não sabia o que era,mas lá na sua cabeça iam coisas muito próximas de uma revelação. Crescera de repente.
Um pouco mais tarde, aconteceu-lhe outra que se veio somar à primeira. Num passeio com mais gente,a certa altura,calhou caminhar entre marido e mulher. De súbito,a senhora passou-se para o lado do marido. Mas que é isto? Querem ver que já me consideram um homem,e,pelos vistos,um homem perigoso?
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
DEDALUS BOOKS QUER EDITAR TODOS OS ROMANCES DE EÇA ATÉ 2012
O anúncio de Eric Lane,director da Dedalus,à agência Lusa, aconteceu na semana em que foi lançado no Reino Unido The City and the Mountains(A Cidade e as Serras),sexto livro do escritor português editado pela Dedalus Books e traduzido,como todos os anteriores,pela premiada Margaret Jull Costa".
Publicado pela Ler às 08:16 de Segunda-feira,15 de Setembro de 2008
Da Web - http://ler.blogs.sapo.pt/
O blog alguresnestevale,por estar distraído,não deu conta desta já velha notícia. Julga,porém ,ressarcir-se desta grave falta,por já se ter referido, sete vezes,a Dedalus Books, a The Maias e a Margaret Jull Costa(21-3,22-3(2),20-4,29-4,4-7,23-8),nesta última,lembrando dois prémios recebidos pela tradutora,que como se sabe,também se intereressa por Saramago e Pessoa.
NO SILÊNCIO DA NOITE
Era melhor desistir e ir para a caminha,que o corpo já estava pedindo há muito. Ficaria para outra vez. E lá foram,como que derrotados,de regresso a casa. Mas ainda guardavam alguma esperança,podia ser que um golpe de sorte os visitasse.
Ora vamos parar aqui,um ponto alto,sobranceiro ao largo vale. Mais uma vez o foco de luz varreu a escuridão. E mesmo ali,quase a dois passos,deparou-se-lhes um grande par de olhos. Um tiro partiu,um tiro certeiro,um tiro fatal. E foi medonho ouvir-se,no silêncio da noite,o estertor de uma vida,que se foi apagando muito lentamente,talvez com saudades de a deixar. Era,de facto,para esquecer aquela noite de caça. Mas um que nela figurou,por mera curiosidade,nunca mais a esqueceu.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
COMEÇO TARDIO
Eram coisas a que nunca ligara,talvez por natureza,mas seriam,naquela altura,um bom passatempo,quando outros rareavam. E não devia desperdiçar mais tempo. Muniu-se,então,não de uma peça para cada modalidade,mas de duas baterias,uma,de espingardas,e a outra,de canas,ali bem à sua frente,sempre prontas para usar.
Era,porém,a melhor ocasião de tiro o que mais o preocupava. E lá pensou ter resolvido o intrincado problema,montando um foco de luz dirigido à cara do condutor. E quando achava o momento oportuno,accionava-o. Não consta ter ocorrido desastre de maior,pois o timoneiro era de primeira escolha.
Não consta,também,que,alguma vez,o tiro atingisse o alvo ou o anzol enganasse o peixe. Tinha sido,efectivamente,um começo tardio. Mas estes desaires teimosos pouco o incomodavam. Aquilo não fora mais do que uma maneira hábil de se entreter.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
E AGORA?
De súbito,uma restolhada já conhecida. As pacaças tinham acordado,talvez avisadas pelas avezinhas que cuidavam da sua higiene e da sua segurança. Tinham de velar por elas,senão lá se iam aqueles festins de carraças gordinhas. Não sabiam que daqueles dois não lhes viria mal algum,pois não traziam arma capaz de as molestar.
E agora? Agora,era fugir. E foi o que fizeram,cada conjunto para seu lado,que o respeito era mútuo. No caso delas,do homem nunca fiando. Elas devem ter voltado a descansar junto de outro embondeiro. E eles,ora eles,foram acabar a tarefa que tinham interrompido,a sua obrigação. De resto,não estavam ali para outra coisa.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
NÚMERO DE TÍTULOS DE AUTORES PORTUGUESES NA BIBLIOTECA NACIONAL DO CANADÁ E NA BIBLIOTECA DA UNIVERSIDADE DE YALE(EUA)
Aquilino Ribeiro 170 e 57
Fernando Namora 11o e 42
Ferreira de Castro 45 e 22
Fialho de Almeida 19 e 10
José Cardoso Pires 68 e 26
José Régio 105 e 47
Miguel Torga 140 e 66
Vergílio Fereira 122 e 49
Vitorino Nemésio 137 e 30
A ALMA DO NEGÓCIO
Um anúncio,em letras garrafais,dava conta das altas qualidades do produto. Servia para muita coisa,mas,sobretudo,para acabar com gretas nas mãos e nos pés,a que eram muito atreitos os que trabalhavam no campo.
Choviam pedidos das terras em redor e mesmo de mais longe,até da capital,o que atestava a excelência da droga. A sua composição é que não era revelada. Bem queriam saber,mas ele é que não estava para isso. Dizia que era segredo,a alma do negócio. Só se o obrigassem. Mas já o fabricava há uns anos largos e nunca o tinham incomodado.
Ao anúncio,sobrepunham-se,com frequência,os elogios dos compradores. Ao meu homem é o que lhe vale. E ao meu,também. Se não o aplicassem,havia dias que não podiam ir trabalhar. Quem estivesse com hesitações,a estes estímulos,não resistia,fornecendo-se para uma temporada.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
NÚMERO DE TÍTULOS DE AUTORES PORTUGUESES NAS BIBLIOTECAS NACIONAIS DE ESPANHA E DE FRANÇA
Almeida Garrett 67 e 38
Antero de Quental 19 e 21
Camilo Castelo Branco 86 e 65
D. Dinis 2 e 2
Guerra Junqueiro 42 e 13
Jorge de Sena 14 e 78
José Rodrigues Miguéis 3 e 32
Júlio Dinis 35 e 12
Ramalho Ortigão 23 e 22
Raul Brandão 37 e 41
Teixeira de Pascoaes 25 e 44
PÁGINA DE EÇA DE QUEIROZ SOBRE JÚLIO DINIS
Júlio Dinis amava a realidade : é a feição viril e valiosa do seu espírito.
...
Era sobretudo um paisagista. As suas figuras só servem para dar expressão e vida à paisagem.
...
Terá o seu dia de justiça e de amor.
...
Foi simples,foi inteligente,foi puro. Trabalhou,criou,morreu. Mais feliz que nós,tem o seu destino afirmado,e para ele resolveu-se a questão.
...
EÇA DE QUEIROZ
Uma Campanha Alegre
De "As Farpas"
Volume I
Lello&Irmão - Editores
Porto
1979
domingo, 16 de novembro de 2008
AS CASTANHAS
Quando partiam para férias,nunca se esqueciam de levar uma rima de sacos de plástico na mala do carro. Pode dizer-se mesmo que lhes reservavam lugar nobre. É que eles iriam prestar-lhes um grande serviço. Para ser mais claro,iriam permitir-lhes reduzir ou até anular a despesa com a estadia.
De vez em quando,lá partiam eles em digressão,por aqui,por ali. Iam de olhos bem abertos,inspeccionando a paisagem,como avaliadores experimentados. E quando as condições se proporcionavam,os sacos entravam em acção. Tudo o que viesse à rede era peixe. Mas tinham as suas preferências,cabendo o primeiro lugar às castanhas,seguindo-se as maçãs e as uvas.
É claro que no regresso,não era só a mala a contemplada. O carro tinha,porém,muito espaço livre,que gostosamente se deixava ocupar. Talvez fosse esta colheita o melhor das suas férias.
sábado, 15 de novembro de 2008
DOIS NOVOS GENES
Vejam lá,disse o homem,o sonho que eu tive. DEUS esteve a falar comigo e revelou-me que ia fazer uma vital alteração no que tinha criado. Vejam lá,disse a mulher,o sonho que eu tive. DEUS esteve a falar comigo e revelou-me que ia fazer uma vital alteração no que tinha criado.
Sabem,disse-lhes DEUS,vou confessar-vos uma coisa. Olhem que é a primeira vez que o faço. Não sei porque vos escolhi. Talvez um acaso. Não importa. Pois,vou-vos confessar que cometi um grave erro. Devia andar muito atarefado,o que é fácil de compreender,a atentar na imensa,na complexa CRIAÇÃO. E o erro foi o de vos ter criado Homem e Mulher,tal como são hoje e sempre foram. O que vocês têm feito. O que vos tem valido é a MINHA PACIÊNCIA INFINITA. Mas isto vai mudar,tem de mudar.
E assim,vou mexer na programação dos dois. Vão deixar de ter apetites sexuais. Nesse sentido,vai ser introduzido um novo gene,com eleminação de tudo o que a isto dizia respeito. Além deste,vou acrescentar um outro,o da fraternidade,que tanta falta tem feito. Os dois genes serão compulsivamente dominantes.
Vão passar,deste modo,Homem e Mulher, a sentirem-se como verdadeiros irmãos,sem apetências sexuais.
Não quero,porém,que a raça humana acabe. Quero que ela continue,mas noutro molde. A perpetuação ficará assegurada por via artificial. Para isso,darei instruções ,se,acaso,não derem conta do recado. Mas a inteligência que vos dei e que tem servido para tanta coisa,boa e má,devia dispensar-ME de mais outra intervenção.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
DE BELLO GALLICO
1 - A Galia está toda dividida em três partes,das quais uma é habitada pelos belgas,a outra pelos aquitanios,a terceira pelos que em sua língua deles se chamam celtas,na nossa gauleses. Diferem todos esses povos uns dos outros,na língua,nos costumes,e nas leis. Extrema os gauleses dos aquitanios o rio Garona;dos belgas,o Mátrona e o Séquana. De todos eles são os belgas os mais fortes,por isso mesmo que estão mais longe da cultura e polícia da província romana,e não vão lá a miúde mercadores,nem lhes levam coisa que lhes enerve o vigor:e vizinham com os germanos ,que habitam além do Rim,e com quem andam continuamente em guerra. Por esta mesma causa excedem também os helvecios em valor aos mais gauleses;pois contendem com os germanos em refregas quase quotidianas,quando ou os repelem das suas fronteiras,ou nas próprias desses fazem a guerra....
COMENTÁRIOS (DE BELLO GALLICO)
C. JULIUS CESAR(100-44 A.C.)
Tradução:Francico Sotero dos Reis
Edição eBooksBrasil
2001