quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

RIDÍCULO

Fizera-se velho bem cedo. Podia dizer-se,até,que nunca fora adolescente,tendo passado directamente de criança a adulto. E ali estavam aqueles procedimentos que não tinham outra explicação se não a falta de uma estação importante,decisiva,no seu normal desenvolvimento.Usara chapéu durante muitos anos. Achava ele que assim é que estava bem,pois dava-lhe um ar mais de acordo com o que lhe ia na cabeça. Chegou a levá-lo para a praia,pondo-o mesmo no toldo ou na barraca. Ridículo,não era?Mas não estava só. Fora o caso de alguém que assim se compunha,numa altura em que ele já se aliviara um tanto. Refinara este. Mas não se tratava só de chapéu. Também vinha para a beira-mar de fato completo,de cor escura,e sobraçando pasta. Enquanto a mulher e a filha faziam a sua vida,de companhia com outros,ele embrenhava-se em leituras sérias,naquele preparo de fazer lembrar um cangalheiro.A mulher também tinha a sua originalidade. Uns dias antes do regresso,percorria as aldeias próximas,donde trazia meia dúzia de galináceos,a preços muito regateados. Dizia ela que era para dar para a viagem. Vinham no porta-bagagens,em cima umas das outras. Algumas chegariam meio mortas,reduzindo,felizmente,o alarido que o conjunto,mesmo assim,devia fazer,quando entrasse no prédio de luxo onde viviam. Eram dos tais que também poupavam no farelo.

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