terça-feira, 19 de janeiro de 2010

DO MESMO OFÍCIO

Não se sabe como tinha sucedido antes,mas naquela altura,era bem visível que faziam tudo para não se encontrarem,e,quando assim calhava,por ter de ser,ignoravam-se ostensivamente. Seria isto por se tratar de oficiais do mesmo ofício. Um,era um gigante,o outro,um delgadinho.O gigante,mal rompia o dia,saía da sua toca para repetir o peregrinar de sempre pelas ruas mais frequentadas lá da vila,em andanças de ida e volta,de passadas largas,pesadas. Parava aqui e ali,mas não se demorava,pois tinha mais que fazer.Como gostava muito de viajar e de fumar,mas não podia fazê-lo à sua custa,alguém tinha de colaborar. Para isso,contava com os visitantes,por os da terra já terem desistido de lhe sustentar os gostos. Era ele que fixava as quantias,de acordo com o seu destino. Para as viagens,retorno incluído,eram três euros,para um maço de tabaco,contentava-se com menos.De vez em quando,ia até à biblioteca,demorando-se lá uns curtos momentos na secção infantil. Os miúdos não o receavam,pois ele não fazia mal a uma mosca. Os visitantes é que não sabiam,o que lhe facilitava a vida.O delgadinho era também madrugador,andarilho e amigo de abordagens de estranhos,porque com os outros não valia a pena. Avançava para eles como uma seta,para um vigoroso aperto de mão. Qualquer moedita o satisfazia. A biblioteca não o interessava,fugindo dela a sete pés.

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