sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

TENDAS DE MARAVILHAS

Olhava para o ferrador com admiração. A coragem que devia ter para estar ali com uma das patas do cavalo sobre a sua coxa,a desbastar-lhe o casco e a fixar-lhe a ferradura. O animal,quando entrara,parecia não estar para ali virado,tais os gestos negativos que fizera. Mas a uma palavra sua,ao contacto da mão correndo-lhe o dorso,todo ele se aquietara. As vezes que o vira fazer o mesmo. Um tanto afastado,não fossem acontecer surpresas,observava embevecido a sua arte. A operação tinha uma fase mais empolgante,os ajustes. As ferraduras,presas por tenazes,iam à forja as vezes necessárias para as adaptar bem às diferentes patas. No cravar,residia a fase de maior expectativa,pois estava sempre com receio de que o pobre cavalo acusasse a dor.Quase ao lado,ficava outra tenda de maravilhas,o torneiro. Os objectos de madeira que o artista sabia fazer. O que mais o entusiasmava era o fabrico de peões. Daquilo percebia ele. Os de pinho não prestavam. Bons,só os de azinho.O oleiro,quase da mesma família,estava longe,mas de vez em quando visitava-o. Daquelas mãos e daqueles pés nasciam coisas de espantar. O barro submetia-se gostosamente,pois de pedaços informes iam surgindo,a pouco e pouco,artigos de muito préstimo,depois do toque da cozedura.Sempre que calhava,ia assistir ao feitiço operado numa padaria caseira. Estava interessado apenas no final,sobretudo na saída das merendeiras. Ainda quentes,regava-as com azeite e polvilhava-as com açúcar amarelo,tavez a sua melhor guloseima na altura.

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