segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

FESTINHAS NA CARA

O que me ia acontecendo. Vê lá tu,eu que não sou nada de pieguices,à vista daquele quadro,quase me chegaram as lágrimas aos olhos. Mas olha que era para tal suceder,mesmo ao mais empedernido.Eram dois velhinhos,ele e ela. Ele,numa cadeira de rodas,muito pálido,muito mirradinho,de boné a tapar-lhe acabeça enfezadita,de cara de quem já não estava ali,naquela clínica,ou em qualquer outro lugar.Ela,muito magrita,de cabeça branca descoberta,muito azougadita. Ia ali,ia acolá,para que se despachassem,que o seu homem precisava de ser atendido com urgência.Mas não o perdia de vista,e sempre que por ele passava fazia-lhe umas festinhas na cara,festinhas muito meigas,a dar-lhe alento,a indicar-lhe que ela estava ali a zelar por ele,como sempre teria estado toda uma longa vida.Pobres velhos,para ali sozinhos,naquela casa cheia de outros doentes. E eu que fora lá também a pedir socorro,senti-me um privilegiado,perante desgraça tamanha.

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