sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

DE FERREIRA,MEU SENHOR

Era uma velhota pequenina,mirradinha. Naquela altura,estava sentada,à espera de transporte. Tinha-se-lhe arranjado mais espaço,pelo que se desfez em agradecimentos. Obrigado,meus senhores. Ao seu lado,pousara dois sacos com compras. Não pareciam muito pesados,mas isto de pesos,como de muitas outras coisas,é muito relativo,como é bem sabido. Não estava quieta no assento. Via-se que queria conversa. Lá em casa não teria,talvez,com quem falar.Naquele dia,fazia muito calor. Um dia tórrido de verão . À sua volta,choviam queixas. Isto não é nada,comparado com o do meu Alentejo. Então,de que terra é? De Ferreira,meu senhor. Boa terra. Diz bem,meu senhor. Que saudades tenho dela. Então,já lá não vai há muito tempo? Desde que o meu marido morreu.E aqui pareceu ter ficado mais pequenina,mais mirradinha. Uma grande tristeza também a envolvera,uma tristeza que se derramara à sua volta. Estava a conversa estragada e terminada. A culpa fora daquela quentura abrasadora.

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