quarta-feira, 30 de junho de 2010

ESCÓRIAS E REDUÇÃO DAS EMISSÕES DE METANO NA CULTURA DO ARROZ

Para além do seu interesse como adubo,para o arroz,as escórias podem diminuir as emissões de metano. Foi o que se verificou num estudo que vem em Waste Management,de Outubro,2009. Parece ter isso resultado de as escórias conterem produtos,como óxidos de ferro e de manganês, e sulfatos,que,preferencialmente,seriam os agentes oxidantes,quer dizer,captadores de electrões,deixando em paz carbono de materiais orgânicos.

FAZ DE CONTA

Aquelas estradas de macadame foram,durante largo tempo,o ganha-pão de muita gente,em certa época do ano. Acontecia que ,tirando os períodos das sementeiras,das mondas e das colheitas,uma grande parte do pessoal das redondezas ficava para ali sem ter em que se ocupar. E assim,findas as ceifas,começava a empreitada da sua reparação.Não havia lugar para todos,mas sempre dava para alguns. Nunca se sabia a quem calhava. Era uma espécie de lotaria. Mas ainda bem que as autoridades tinham essa lembrança.O conserto era feito sem cuidados de maior. Uma espécie de faz de conta. Assim,logo que vinha o tempo das chuvas,as mazelas antigas eclodiam. Até parecia que havia um acordo entre todos. O que era preciso é que as coisas voltassem ao que era antes. Quem não gostava nada disto eram certas famílias,talvez os mais assíduos utilizadores. Aqueles crivos de todas as malhas davam-lhes muitos trabalhos,pois,de vez em quando,lá se ia um eixo das suas carripanas. Felizmente que no termo das jornadas lá os esperava uma feira,onde se ressarciam dos avultados prejuízos.

ATRASOS

Parecia estar ali uma prova da intemporalidade dos sonhos. O correio trouxera-lhe uma prenda de alguém que já há muito tempo abalara. É que,por vezes,há atrasos.

DESCONSOLO

A vida estava um desconsolo. Até a Seleção perdera.

terça-feira, 29 de junho de 2010

CAMPO DE ARROZ



http://www.theecologist.org/News/news_round_up/271647/draining_paddy_fields_could_cut_methane_from_rice_production.html

REDUÇÃO DE EMISSÕES DE METANO NA CULTURA DO ARROZ

Como se sabe,a cultura do arroz,por via da anaerobiose,é responsável de vultosas emissões de metano. Dada a vital importância desta cultura,tem-se procurado minorar essas emissões. Foi o que cientistas chineses conseguiram, drenando os campos de arroz uma vez em cada ciclo.
http://www.theecologist.org/News/news_round_up/271647/draining_paddy_fields_could_cut_methane_from_rice_production.html

UMA SUSPEITA

Os amigos são para as ocasiões e ele,um moço já conhecedor daqueles sítios,vinha mesmo a calhar. Ainda bem que me encontraste,pois sei de um quarto que acabou de vagar e que te vai servir muito bem.
Foi ver,gostou e instalou-se nesse mesmo dia. O contrato incluía pequeno-almoço. Havia mais quartos alugados e logo na primeira manhã teve lugar reunião geral.
Além dele,mais três airosas meninas,que fizeram questão de não faltarem,para conhecer o novo vizinho. Parecia serem estudantes,pois traziam pastas,numa das quais se via uma bata branca. Mas não eram. Ele percebeu o embuste,não era assim tão ingénuo,mas não se deu por achado,fazendo de conta.
A dona da casa fora abandonada pelo marido,que lhe deixara uma filha.Para sobreviver,alugava quartos. Devia tê-lo informado,mas não tivera coragem. Sabe,a vida está difícil,temos de fechar os olhos a coisas de que não gostamos. Compreendia que se quisesse ir embora e agradecia por lhe ter pago o mês,o que lhe dava muito arranjo.
Qual teria sido a intenção do amigo? Nunca se soube,mas ficou uma suspeita.

VÍRGULAS E ACENTOS

Não admitiam o mais ligeiro erro. Nem as vírgulas,nem os acentos escapavam.

DERROTA

Concordar,nunca,que seria isso uma derrota.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

NOTÍCIAS SOBRE O ARROZ

O arroz,como se sabe,é a base da alimentação de mais de metade da população mundial.
Não admira,pois,que a sua cultura esteja a ser objecto de aturada investigação,na qual se inclui o acréscimo de produtividade e maior resistência à seca e a submersão prolongada. É o que se pode ver em Rice News Worlwide,do International Rice Research Institute.

A PARTIDA DE VASCO DA GAMA PARA A ÍNDIA EM 1497



Alfredo Roque Gameiro,1864-1935

Biblioteca Nacional Digital

CAMISA DE LACINHOS BRANCOS

Aquele saco de viagem,pousado no banco da alameda,vinha desfazer a dúvida que se levantara de véspera. É que fora visto ao ombro,como vem sendo hábito universal,de uma velha senhora,um tanto ou quanto disfarçada nesssa ocasião. Seria mais uma turista,num sítio onde elas abundam.
Ali estava,então,ela,apanhando banhos de sol. O cabelo tinha sido repuxado,de modo o pescoço,ainda esbelto,ser devidamente contemplado,de companhia com as espáduas e o peito. Guarnecia-a,apenas,uma camisa de lacinhos brancos,que,uma vez por outra,ela,descontraidamente,compunha.
Mas não se pense que estava ociosa,longe disso. O tempo tem de ser bem ganho. E,para o provar,ali se encontrava ela fazendo renda,muito concentrada na obra. Nada de olhar para a paisagem,gente incluída. Disso estaria ela inteirada,e,talvez,farta. Dos raios de sol é que não,dos quais não devia desperdiçar um sequer,expondo o máximo do seu velho corpo,guardadas,claro,as devidas conveniências.
Foi este mais um quadro da sua atravancada galeria. E não será,certamente,o último,que os bons ares que ela respira,bem como o muito sol que a banha não vão deixar.

TUDO BEM

Para ele,estava tudo bem,desde que as doenças não lhe batessem à porta,e continuasse a receber o dinheirinho lá da reforma.

GUERRAS

Naqueles recuados tempos,eram guerras por tudo e por nada.
Mal terminava uma,começavam logo a pensar noutra.

domingo, 27 de junho de 2010

CEREAIS PERENES

Para responder à crescente necessidade de alimentos,e face às condiçóes actuais existentes,em terras e culturas,um numeroso grupo de cientistas acha que a obtenção de cereais perenes seria uma boa solução. É o que vem em Science,25 de Junho,2010.

SOBRE AS CINZAS

As cinzas,para além do seu valor nutritivo,ainda que muito variado,têm carácter alcalino,por via de carbonatos e óxidos,pelo que a sua aplicação reduz também a acidez dos solos. Essa alcalinidade pode ainda ser aproveitada para se fazer sabão,fervendo uma gordura com lexívia de cinzas potássicas,como as de madeira,à
semelhança,aliás,do que foi obtido,casualmente,em muito recuados tempos.

DE OUTRO MUNDO

Dois jovens talentosos assentaram arraiais na mesma terra. Um,era um jovem de ideais roçando o altruismo,o outro,era o que se chama um pragmático. Nessa terra,para não variar,havia gente pobre,remediada e rica.
Os jovens ainda não tinham encontrado a alma gémea,mas estavam em boa ocasião de,mais uma vez,a procurar. Um,foi lá pelas alturas,o outro,escolheu patamares intermédios. Um,acabou por se submeter aos impulsos do coração,o outro,sem os excluir,juntou o útil ao agradável.
Do das alturas,não há que contar nada em especial,a não ser que foi por aí fora,como teria sonhado ou querido. Do outro,muitos guardam dele uma grande saudade,pois era o que se chama uma alma de outro mundo. Talvez porque assim fosse,deste partiu muito cedo.

BEM

Muito bem faria,se,um dia, mandasse,a começar por ele.

SOSSEGO

Que invenção aquela,a do território. Dali em diante,nunca mais houvera sossego.

sábado, 26 de junho de 2010

GUSTAVE COURBET



1866

Web Gallery of Art

MEIA DÚZIA DE BONÉS

Deixara-se ficar para o fim,vá-se lá saber porquê. E acabou por ganhar,pois apanhou o revisor do comboio com a boca na botija. Sobraçava ele um gigante pacote de café,um tanto escondido,mas com o rabo de fora. Que indiscreto cheiro o café tem. Naquele tempo e naquele lugar,era aquilo um grande atrevimento,pois tratava-se de mercadoria muito disputada e vigiada. Quer dizer,o senhor revisor estava infringindo a lei,e de que maneira. Enfim,coisas que acontecem.
Mas era este revisor um homem muito rigoroso. É que não fora capaz de fazer vista grossa com um pobre candongueiro. Ora levante-se lá. O pobre do velhote,pois era mesmo um velhote,de cara muito enfiada,com carita de fome,teve de obedecer. E o que é que se viu? Que marreca a dele. Levava,entre a camisa e o mirradinho corpo, uma meia dúzia de bonés,matéria também sujeita a fiscalização. E lá ficara o pobre com o negócio estragado.
É assim com sabe-se lá quantos. Muito severos com os outros,mas muito brandos consigo. É a vida,não há nada a fazer.

TODA A VERDADE

Era o título do livrinho,quer dizer,não se fazia a coisa por menos.Toda a verdade,toda.

A QUESTÃO

Ter ou não ter,eis a questão,sem a qual não,ou seja,nada feito.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

UMA NOVA FONTE DE GÁS NATURAL ENTRA EM CENA

É o que se pode ler em Science,June 25,2010. Trata-se de uma jazida gigante,pois se estende desde o Texas a New England,no nordeste dos Estados Unidos. Parece já estar dando muito que falar.

ADÉLA EM LISBOA - JOÃO DE BARROS,ca 1810-ca 1890



Biblioteca Nacional de Portugal,Colecções digitalizadas

http://purl.pt/13115

RASTO DE DESAMPARO

Vinha toda de negro vestida. Mas numa senhora de muitos anos não era isso de estranhar. Trazia na mão a caderneta da Caixa e queria actualizá-la,só que não sabia como o fazer,talvez por ter deixado os óculos em casa. Teve,pois,de pedir ajuda ao primeiro que lhe apareceu. Quem é que recusaria ou,até,estaria disposto a enganá-la,tal o seu desprotegido,confiante,submisso ar?
Enquanto a operação decorria,lá foi informando que o marido lhe morrera há anos e,pior do que isso,perdera ,recentemente, o seu único filho. Veja o senhor a minha desgraça.
Pode dizer-me quanto está aí? Era uma quantia de quase nada,à volta de quarenta euros. Dois dias antes,tinha havido um depósito de cinco euros e dezassete cêntimos.
Parecia esperar mais. Na página,viam-se sombras de registos na anterior. Quis saber o que era.
Desfez-se em agradecimentos,pegou em dois saquitos e lá foi,deixando atrás de si,bem fundo,um rasto de desamparo.

TRABALHO

Em dias de descanso do trabalho,ela cantava, a trabalhar.

SINAL

A alegria,na pobreza,é sinal de que a riqueza é dispensável.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

CONQUISTADOR DE BAIRRO

O homem tinha ar de ave noctívaga. De dia,moirejava,de facto-macaco,na oficina. A mulher vigiava-o da janela,desconfiada,talvez,da sua fidelidade. Uma ranchada de filhos acompanhava-a. Tão numerosa prole dava-lhe uma certa autoridade,pelo que a sua voz ouvia-se bem,como se a rua fosse dela. Com tantos trabalhos,não cuidava muito de si,chegando a andar de roupão fora de casa,um tanto estremunhada. Os rebentos imitavam a mãe. Desgrenhados e lambuzados,vagueavam e bricavam no passeio,não se atrevendo a invadir os domínios do pai,ali a dois passos. Deviam ter-lhe muito respeito ou temor. A cara dele era,de facto,um tanto dura. Em vez de sorrisos,receberiam mimos de uma natureza bem diversa. O que era preciso é que não lhes faltasse o pão de cada dia. Mas era de desconfiar.
Em dias de folga,nem parecia o mesmo,vestido e calçado à moda,lembrando um conquistador de bairro. Num fim de tarde,ia todo de negro,acentuando os traços de falcão. Estava ainda novo e a mulher perdera a graça,engordando muito. A família teria ficado frente à televisão. No regresso,haveria mais uma cena,mas a vizinhança já não estranharia.

O INFERNO

A consciência do mal feito é um inferno,pelo que se candidata a ser o inferno.

COITADO DO DISCO

O disco rendia,pelos vistos,pelo que não havia meio de tocarem outro. Coitado do disco,para o que estava guardado.Era a vida.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

ORIGEM DAS CHUVAS ÁCIDAS

Como é sabido,os materiais fósseis,petróleo,gás natural e carvão mineral,contêm,ainda
que em quantidades relativamente pequenas,compostos de azoto e de enxofre. Na sua combustão,completa ou incompleta,há lugar para a formação de óxidos que, reagindo com vapor de água,dão ácidos,nitroso e nítrico,no caso do azoto,e sulfuroso e sulfúrico,no caso do enxofre. São estes ácidos os responsáveis das chuvas ácidas. Não se pode esquecer,porém,que o ar onde as combustões ocorrem tem cêrca de 80% de azoto. Ora este azoto,às temperaturas das combustões,de matérias fósseis,ou não,
pode ser oxidado por oxigénio atmosférico,com formação de óxidos,e,portanto,de ácidos,à semelhança,aliás,do que tem vindo a suceder há milhões de anos por efeito dos relâmpagos.

CALDEIRADAS

Muito produzia aquela horta,pois água não lhe faltava. É que a fornecia um valente burro,que não se cansava de andar ali á roda As voltas que ele dava sem ficar tonto e surdo,que a nora não parava de chiar.
A água desabava ,em grande parte,na bocarra de onde saíra,por via dos muitos rasgos nos velhos alcatruzes. Não respeitavam o esforço daquele burro,que era,assim,muito desbaratado. Mas ele a tudo se submetia,sem um queixume. Talvez se deliciasse com o barulho daquelas cataratas e com o trinado de bandos de pássaros que ali faziam pela vida,aliás,com grande proveito.
Naquele tempo,a mão de obra era barata,mas a jorna tinha ali valiosos acrescentos. Além de vinho,tudo aquilo estava à sua disposição,sem restrições. As panelas atulhavam-se de rodelas e rodelas de batata,de cebola,de tomate,de pimento. Os odores que vinham daquelas caldeiradas não tinham rival.
Era um prazer vê-los engulir as garfadas a escorrer azeite e vinagre. Estavam sempre dispostos a partilhar,que aquela gente não era de egoísmos. Não se precisava de mesa,pois os cestos de vindima e o chão serviam muito bem.

ENGORDAR

Não acreditavam no buraco da agulha,e,assim,não paravam de engordar.

RODA

Há tantos anos que a roda foi inventada,e não há meio de se chegar lá.

terça-feira, 22 de junho de 2010

A INTRUSA



Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

FEIRA DA LADRA

Tempos atrás,o pacato jardim fora percorrido por uns sujeitos munidos de tintas,de pincéis e de réguas. Que brincadeira será esta?,interrogaram-se alguns pardais, que andavam por ali,na boa paz. A pouco e pouco,aqueles arruamentos foram-se enchendo de rectângulos amarelos. Ainda numeraram alguns,mas,ou porque se acabasse a tinta,ou porque houvera grande esforço,desistiram. Aquilo,na altura,ficou-se por ali. Para que seria um traçado daqueles? Fazia lembrar um jogo de crianças. Talvez fosse para isso,pensaram,e qualquer dia teriam ali grande festa. Pois muito se enganaram. Ideias de gente simples.
Certo domingo,logo de manhazinha,ainda mal o sol despontara,deu-se uma invasão. Homens e mulheres,com sacos e saquetas,com malas e maletas,ocuparam aqueles rectângulos. E daqueles baús,saíram os mais diversos e disparatados objectos,a maior parte muito velhos e outros cheirando a mofo. Paulatinamente,seguiu-se outra invasão. Eram os curiosos ou os interessados em tais bugigangas. Enfim,um desassossego.
Olhem,a nossa vida,lastimavam-se os pobrezinhos. Então,isto é para durar? Muitos voaram para outras paragens,que aquilo não podiam suportar. Só regressaram,quando foram avisados por uns mais velhos,de ouvido mais duro,que vieram a saber que aqueles ajuntamentos só se fariam no último domingo de cada mês. Era um dia de sacrifício,apenas. Gostavam muito daquele jardim,mesmo ali ao pé do grande rio,e custar-lhes-ia deixá-lo. Que outra desdita não os afectasse.

MENOS RECOMENDADOS

A cegueira,ou lá do que se tratava,era tanta,que ficaram só com os menos recomendados.

O MUNDO

O mundo mudara,mas parecia que eles não tinham dado conta.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

LISBOA-RATO

CARVÃO MINERAL E EMISSÕES DE ANIDRIDO CARBÓNICO

Como se sabe,o carvão mineral é um combustível fóssil,pelo que o seu uso repõe na atmosfera anidrido carbónico com que,pode dizer-se,não se contava. Aconteceu isso mais intensamente com a Revolução Industrial. É o que o continua a acontecer,
sobretudo,na China,o terceiro país com maiores reservas de carvão mineral,a seguir aos Estados Unidos e á Rússia,por via,em grande parte,da produção de electricidade.

MOEDAS E OLHARES

Eram dois velhos que viviam de esmolas bem diversas. Um, recolhia moedas, o outro, aceitava olhares. Tinham montado banca na mesma rua,uma rua movimentada,por ser vizinha de um mercado.
O das moedas era alto,esgalgado,de cara magra,ossuda,macilenta. Coxeava. Vinha de longe,em autocarro. Logo de manhã cedo,lá se instalava no seu posto,o poial de uma janela ,de que não pagava renda. Tinha a sua clientela fiel,com quem chegava a conversar demoradamente. Era visto,de quando em vez,a conferir a caixa. Fecharia a loja,quando já lhe chegava para o que ele queria.
O dos olhares,que se apoiava numa bengala, que parecia o tronco de uma árvore,era,ao contrário,baixo,encorpado,de carita redonda,rosada. Dava gosto olhar para ele. Lembrava um bebé rechonchudo. Este dispensava conversa. Para conversar,tinha a família,quando regressassem do trabalho. O seu poiso era também um poial,o poial de uma janela da sua cave. Não se sentiria bem,sozinho lá no buraco.
Estes dois velhos nunca foram vistos juntos. Não se deveriam entender. Tinham necessidades bem diferentes,um,de moedas,o outro,de olhares.

A OUTRA CARA

Também não deram a outra cara. Era caso para se dizer que quase não tinham acertado numa.

SUAS ORDENS

Para a outra vez,já sabe,tem aqui uma casa às suas ordens.

domingo, 20 de junho de 2010

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE BIOCOMBUSTÍVEIS

Como se sabe,da combustão de bioetanol e de biodiesel liberta-se anidrido carbónico,
à semelhança do que sucede com os combustíveis fósseis. Acontece,porém,que os produtos de onde eles derivam,milho,soja,ou outro qualquer da mesma natureza,e materiais ricos em celulose,dariam lugar também a anidrido carbónico,mais tarde,ou mais cedo,caso fossem utilizados na alimentação humana ou animal,via respiração ou decomposição microbiana,aeróbia,ou anaeróbia,de resíduos.
Num caso,como noutro,trata-se,afinal,de repor anidrido carbónico que fora consumido na fotossíntese. Ao contrário,no caso dos combustíveis fósseis,há só libertação. Assim,do ponto de vista da concentração do anidrido carbónico da atmosfera,há vantagem em usar-se biocombustíveis,e tanto mais,quanto menos combustíveis fósseis se gastarem no processamento e transporte,e quanto menos novas terras forem usadas na sua obtenção.
É claro que o desvio de bens alimentares,como o milho e a soja,para produção de biocombustíveis,não é pacífica. Acentuando-se a sua procura,os preços estão sujeitos a subirem. Seria melhor,pois,o uso de materiais celulósicos,ou de outra biomassa não alimentar,como algas.

UMA MÃO AMIGA

Aquele quadro não lhe sai da memória. De vez em quando,lá lhe surge,demorando-se. É um velho com ar modesto,de chapéu na cabeça,ligeiramente curvado e de mãos atrás das costas,especado diante de um prédio de muitos andares.
Em que estaria a pensar aquele velho? Via-se que estava admirado com a altura,com a beleza da construção. Nunca teria visto um assim. Teria vindo lá de uma atrasada terra. Que rico prédio,sim senhor,diria ele com os seus botões. Quem me dera que fosse meu,que era sinal de que a vida me tinha corrido de feição. Mas para aqui estou,depois de grandes e continuadas canseiras,quase de bolsos vazios.
Muito deve ter trabalhado o dono deste prédio. Mas eu também fiz o mesmo,nem umas férias gozei,e o resultado é o que se vê. E mais devem saber que eu nunca trapacei,fiz sempre jogo limpo,e ,sempre que pude ,dei uma ajuda a este e àquele. Deveria ter tido melhor sorte aquele velho.
Quantas vezes mais ele se terá detido em frente de outros prédios como aquele,admirando-os e reflectindo? Passaria em revista os passos da sua longa e esforçada vida e procuraria descobrir onde errara ou onde faltara uma mão amiga que o amparasse,que o ajudasse,como ele fizera com alguns. E culparia o destino,o mau signo,mas consolar-se-ia,sabendo que nunca prejudicara quem quer que fosse. Disso teria a certeza,o mesmo não sucedendo,talvez,com tantos donos de tantos prédios de todos os tamanhos.

A CONCÓRDIA E A INTRANSIGÊNCIA

A concórdia e a intransigência não se entendem.

AS ÁRVORES

Eram elas,as árvores,as suas grandes,fiéis,amigas.Por isso,foram elas as primeiras de quem ele se despediu.

sábado, 19 de junho de 2010

NÚMERO DE TÍTULOS DE JOSÉ SARAMAGO NALGUMAS BIBLIOTECAS NACIONAIS

Alemanha-120;Espanha-336;Estados Unidos da América-82;França-135;Portugal-724;Reino Unido-117.

ANIDRIDO CARBÓNICO APRISIONADO

A árvore,a floresta,valem,sobretudo,pelo anidrido carbónico que vai sendo aprisionado,graças à fotossíntese,nas suas folhas,nos seus ramos,nos seus troncos,
nas suas raízes,convertido nos compostos mais diversos. Enquanto o carbono assim permanecer,é carbono que fica fora dos seu ciclo activo,quer dizer,é carbono que não restitui anidrido carbónico,pela respiração,à atmosfera,e é oxigénio que não é consumido. Assim,a árvore,a floresta,emitam,à sua medida,no que podem,as matérias fósseis,petróleo,gás natural e carvão mineral,enquanto não exploradas,ao manterem carbono fora do seu ciclo activo,não perturbando,também, a reserva de oxigénio do ar.

TERRAÇO FLORIDO

A via era estreita e de mau piso. Não convinha,pois,olhar para os lados. Mas pouco se veria,que o eucaliptal era cerrado. De repente,tudo mudou,em atenção,certamente,a uma igrejinha.
O panorama atraía,extasiava. Estava-se mesmo em local sobranceiro ao Douro,que corria,pujante,ali a dois passos. Encostado à igrejinha,um cemitério,também maneirinho. Não se via uma campa rasa. Todos tinham tido direito a coisa melhor e a muitas flores. Aquilo não era um cemitério,era um jardim.
Em boa verdade,não podia ser de outra maneira. O largo rio estava ali a dois voos,nas verdes encostas alvejavam lugarejos,alguns barquinhos deslisavam mansamente e o da carreira cruzava a horas certas. Como é que haviam de estar os mortos,ali naquele terraço florido à beira do rio Douro,do rio do Vinho do Porto? Apetecer-lhes-ia tristezas? Não parece. E exigiriam.
Queremos aqui sempre flores. Esta vista pede festa,permanente. Passávamos aqui,quase a correr,sem horas,nem disposição para a disfrutar,que a vida exigente não nos dava descansos. Mas agora,não. Que maravilha. Pode dizer-se que foi uma pena não termos vindo para cá há mais tempo. O que perdemos. Isto é que é vida. Não desejamos outra coisa.

LIMITES

Quando o propósito,a vontade,o desejo,de superar não desarmam,não há limites.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

AMOSTRA SEM VALOR

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu,pessoal e intransmissível;
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só,mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem,dissolvem-no,e,contudo,
nesta insignificância,gratuita e desvalida,
Universo sou eu,com nebulosas e tudo.

ANTÓNIO GEDEÃO

POESIAS COMPLETAS
(1956-1967)
7ª edição
1978
Portugália

SOBRE COMBUSTÃO INCOMPLETA DE MATÉRIA ORGÃNICA

Numa combustão completa de matéria orgânica,o produto final,no que ao carbono diz respeito, é,como se sabe, o dióxido de carbono. No geral,porém,o que ocorre são combustões incompletas. Assim,para além do dióxido de carbono,há lugar para se formar uma série de outros compostos,nos quais se contam o indesejável monóxido de carbono,partículas de carvão indutoras de "smog" e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos,como o benzopireno,muito prejudicial à saúde. Do conjunto de fontes destes produtos,contam-se as queimadas,os incêndios,os cozinhados,o fabrico de carvão vegetal,a incineração de resíduos e o fumo do tabaco.

RECEBERA DE GRAÇA

Ninguém o teria encarregado do sermão,mas ele era um homem consequente. Um homem,não de palavras,que as levam o vento,mas de actos,actos generosos,que o vento levar não pode. Andou nisto anos a fio. Afinal,um homem que estava ao serviço de outros. Quem dele precisava, não punha os pés ao caminho para o encontrar. Ele se encarregava disso. Como que os cheirava. Também não precisava de lâmpada,pois,bastava-lhe dar um passo para esbarrar com um carente. E foram muitos os passos que ele deu nesse propósito,sem se enfadar.Depois,era daqueles que dava com a esquerda sem a direita o saber. Não contava,porém,com os indiscretos. E,sem ele querer,ecos dalguns passos seus faziam-se ouvir,como os que ocorriam a altas horas da noite,para prestar cuidados de enfermagem a quem só de graça os podia ter. Do seu bolso,pagava tudo,as deslocações e os medicamentos. Não se pense que nadava em dinheiro,pois muito se enganaria. É que ele seria,também, capaz de fazer milagres. Era dos tais,dos santos desconhecidos,que não estão nos altares. Porque recebera de graça,de graça dava,seria o seu entendimento.

MENOS E MAIS

Quem compra,quer fazê-lo por menos,e quem vende,por mais.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

SANTARÉM - PORTUGAL



Do Flickr,by Portuguese_eyes

À CERCA DA BATATA DOCE

Como muitos sabem,e muitos não devem saber,a batata doce pouco tem a ver com a batata,sendo uma,a batata,do género Solanum,da família Solanaceae,e a outra,a batata doce,do género Ipomoea,da família Convolvulaceae. Uma,a batata,é um caule subterrâneo,a outra,a batata doce,é uma raíz. É cultivada há milhares de anos,sendo originária,muito provavelmente,da América Central. O seu valor alimentar reside,sobretudo,nos teores de amido,açúcar e vitamina A. É na Ásia,em especial,na China, que mais se cultiva,para consumo humano e animal. Utiliza-se,também,muito em África,mas aqui,quase só para consumo humano. Apesar das diferenças,o Centro Internacional da Batata,com sede no Peru,inclui nas suas actividades a batata doce.

NADA SE PERDE

É sábia a natureza. Também,às vezes,faz partidas,é certo,mas quem as não faz? Até o mais pintado. E ela,a natureza,apsar de ser muito pintada,não deixa de ser natural,fazendo das suas,das mais variadas maneiras,mas todas naturais.
E chovera muito,naquela altura,como se estava vendo. E sabia-se também o que estava acontecendo. A terra,amarela,ou vermelha,ou parda,ou de outras cores,pintara-se toda de verde. E depressa, e por muita parte. Que de pintores não teriam sido precisos. Um número incontável,certamente.
Mas ,com a chuva,viera também um certo calorzinho,não muito,o suficiente para ajudar à festa. E era ver o verde crescer,crescer. Mas era o que convinha. A natureza sabe destas coisas.
O gado,que estava morrendo de fome e de sede,precisava,como de pão para a boca,de uma erva assim a crescer muito depressa. E foi o que aconteceu. Mas não eram necessárias foices,ou gadanhas,ou gadanheiras, para a segar. Bocas,muitas bocas,disso se encarregariam,com muito mais perfeição até. É que ajudá-la-iam a crescer ainda mais. E sabia-se muito bem porquê. Porque na terra deixariam tudo o que não aproveitassem. Na natureza nada se perde,nada se cria,tudo se transforma.

FIÉIS COMPANHEIRAS

Tem vivido,pode dizer-se,sempre com dores. Ficará,talvez,triste,se,um dia,deixar de as ter,as suas fiéis companheiras.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

AMIEIRA DO TEJO



Do blogue OLHARES DA NATUREZA,de ARMANDO GASPAR

AGRICULTURA ALTAMENTE PRODUTIVA E CO2 DA ATMOSFERA

Como se sabe,florestar,ou conservar a floresta que já existe,são dois dos meios de manter o carbono,por algum tempo,fora do seu ciclo activo,reduzindo-se,assim, o teor de CO2 da atmosfera. Não admira,pois,que se tivesse concluído,num estudo de dois cientistas da Stanford Earth, anunciado na Science Daily,de 14 de Junho,que uma agricultura altamente produtiva,na última parte do século XX,tivesse evitado desflorestação,ou seja,tivesse diminuído a libertação de CO2.

AS BATAS

Estava de pé,encostada ao balcão,bebendo um copo de leite e comendo uma sanduíche de queijo. Era o seu almoço. O ordenado não dava para mais. A saúde da moça não parecia ser das melhores. Com aquele tratamento,e sabe-se lá mais de quê,não seria de esperar outra coisa. Causava tristeza olhar para ela.
Lastimava-se. Recebera há uma semana o ordenado e já pouco lhe restava. Bem se esforçava em esticá-lo,mas não podia fazer milagres. Não eram as coisas que estavam caras,ela é que estava ganhando pouco. Ai a minha vida,suspirava ela. Quem melhor a ouvia,do outro lado do balcão,compreendia-a muito bem e até fazia coro com ela.
A esperança das duas residia no décimo terceiro mês. Seria ele que viria tapar alguns buracos que há muito ansiavam que deles se lembrassem. Mas esse ainda vinha lá muito longe. Era a tristeza das duas a manifestar-se a uma só voz.
O jeito que lhes iria fazer. Há um ror de tempo que andavam com aquelas roupas,até tinham vergonha de aparecerem assim no emprego. Valiam-lhes as batas. Chamavam-lhes as tapa-misérias. O pior era à entrada e à saída. Ai a nossa vida.

SEQUÊNCIA IRREPRIMÍVEL

As situações geram emoções,e estas,por sua vez,alterações.Se é esta a sequência irreprimível,como alguém de muito mérito a vê,então,é de não se querer viver nova situação,se se está satisfeito com a que se vive.

terça-feira, 15 de junho de 2010

ALMEIRIM VISTO DE SANTARÉM



Do Flickr,by Portuguese_eyes

Título do autor

"A FORMOSURA DE ALMEIRIM DE INVERNO"

" Almeirim deve a sua existência a um palácio que ali fez erigir em 1411 o rei D. João I e que os soberanos da dinastia de Avis habitaram,ampliando-o,e fazendo dêle uma mansão de luxo (João de Castilho trabalhou ali) onde a côrte se vinha divertir. " Era a Sintra de inverno no séc. XVI,onde,segundo se diz na Eufrosina,se estava às vezes em pilha como sardinha". D. Manuel ali passou todo o ano de 1510,parte do de 1513,os natais de 1514 e 15 e todo o período que decorreu entre Outubro de 1515 e Maio de 1516. D. João III seguiu-lhe o exemplo. No seu reinado celebram-se ali as côrtes de 1544,para juramento do príncipe D. João,pai de D. Sebastião,como herdeiro da corôa. Foi ainda em Almeirim que se reuniram as côrtes de 1580 para tratar da sucessão ao trono(vol.I,p. 48) e ali m. nesse mesmo ano o cardeal-rei,que,segundo parece,ali nascera também(1512). É nos paços da vila que Gil Vicente representa,às côrtes de D. Manuel e D. João III,grande número das suas farças e comédias : em 1510 o Auto da Fé,a Barca da Glória em 1519,a tragicomédia Dom Duardos nos desponsórios da infanta D. Isabel com Carlos V(1525),e em 1526 a farça do Juiz da Beira,a tragicomédia Templo de Apolo,o Breve sumário da história de Deus e Diálogo sobre a Ressurreição. O Cancioneiro geral de Garcia de Resende também se começou a imprimir nos paços de Almeirim,que ainda no séc. XVII faziam afluir à vila grande multidão de gente da côrte ,como se depreende da seguinte passagem de Luis Mendes de Vasconcelos no seu Do sítio de Lisboa:
"Não dissestes a formosura de Almeirim de inverno,nem a frescura de Sintra no verão,e a facilidade com que a estas partes se vai,podendo ir em bergantim pelo rio até Almeirim,vendo as praias e campos deste nosso rio...".
Hoje todo este quadro desapareceu.Do palácio nada resta. As suas derradeiras ruínas foram demolidas...no verão de 1889....."

RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927

MAROMBA DO DOURO

Uma antiga doença das vinhas do Douro,de arrastada solução. O seu tratamento só chegou por meados do século XX,por via de pesquisa feita pelo Eng.Agrónomo Humberto Francisco Dias,da Estação Agronómica Nacional.
Tratava-se,afinal,de uma deficiência de boro,debelada por aplicações de bórax,ou seja,do tetraborato de sódio,muito conhecido pela sua acção antisséptica.
A web traz ecos da Maromba do Douro,sendo um deles,precisamente,um relatório do autor da descoberta. Na altura,a seu pedido,foram feitas análises de folhas de videiras,com e sem maromba,de que,adiante,se indicam médias dos valores encontrados.
Sem Maromba - Fósforo(%)-0,12;Potássio(%)-0,79;Cálcio(%)-2,61;Magnésio(%)-(0,52);
Sódio(mg/kg)-9;Ferro(m/kg)-100;Manganês(mg/kg)-206;Boro(mg/kg)-17,9.
Com Maromba - Fósforo-0,12;Potássio-0,70;Cálcio-2,33;Magnésio-0,49;Sódio-9;Ferro-111;
Manganês-143;Boro-8,7.
Os números apontavam,de facto, para uma carência de boro.

DOIS CHOCHOS

Vejam lá vocês o que me havia de acontecer,desabafara a velhota na última vez que ali estivera. O meu marido está com diabetes e aqui a velha é que o tem de aturar. Já não sei o que mais lhe hei-de fazer. E quase chorava. Metia dó.
Tornou-se muito exigente na comida e ficou muito piegas. Não me sai agora de casa,sempre a pedir isto e mais aquilo. Ele,que, dantes,mal tomava o café,ala,que se faz tarde. Na maior parte dos dias,só me chegava à noite,para as sopas e para se deitar. Andava por lá,entretido com os amigos,era o que ele me dizia. Pois agora,passa os dias a lastimar-se e a moer-me o juízo. Já não sei o que mais lhe hei-de fazer.
Mas naquele dia,estava ali muito mudada. Toda ela eram risos,tendo ganho,até,cores. É que um velho,que ela nunca tinha visto,tivera a gentileza de a ajudar,levando-lhe parte das compras. Não esperava um coisa daquelas. Isto só lhe acontecera quando era nova. Parecia ter remoçado. De tão gratificada ficou,que deu ao velho dois chochos bem repuxados. Veja lá,dissera-lhe uma vizinha,a rir. Olhe que o seu marido,se vier a saber,pode não gostar. E a mim que me há-de importar? Estou aqui tão consolada. Coitada da velhota,que se consolava com tão pouco.

POBREZA E RIQUEZA

Para acabar com a pobreza,só acabando com o desejo de riqueza.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

RADIAL



Do blogue OLHARES DA NATUREZA

Título do autor

PLATEIA

Na ribalta,estava bem,mas na plateia,nem pensar.

domingo, 13 de junho de 2010

FREI GENEBRO

"Súbitamente, porêm, no alto, o prato negro oscilou como a um pêso
inesperado que sôbre êle caísse! E começou a descer, duro, temeroso,
fazendo uma sombra dolente através da celestial claridade. ¿Que Má Acção
de Genebro trazia êle, tam miuda que nem se avistava, tam pesada que
forçava o prato luminoso a subir, remontar ligeiramente como se a
montanha de Boas Acções, que nele transbordavam, fôssem um fumo
mentiroso? Oh! mágoa! oh! desesperança! Os Serafins recuavam, com as
asas trementes. Na alma de Frei Genebro correu um arrepio imenso de
terror. O negro prato descia, firme, inexorável, com as cordas retêsas.
E na região que se cavava sob os pés do Anjo, cinzenta, de inconsolável
tristeza, uma massa de sombra, molemente e sem rumor, arfou, cresceu,
rolou, como a onda duma maré devoradora.

O prato, mais triste que a noite, parára--parára em pavoroso equilíbrio
com o prato que rebrilhava. E os Serafins, Genebro, o Anjo que o
trouxera, descobriram, no fundo daquele prato que inutilizava um Santo,
um porco, um pobre porquinho com uma perna bárbaramente cortada,
arquejando, a morrer, numa pôça de sangue... O animal mutilado pesava
tanto na balança da justiça como a montanha luminosa de virtudes perfeitas!

Então, das alturas, surgiu uma vasta mão, abrindo os dedos que
faiscavam. Era a mão de Deus, a sua mão direita, que aparecera a Genebro
na escada de Santa Maria dos Anjos, e que agora supremamente se estendia
para o acolher ou para o repelir. Toda a luz e toda a sombra, desde o
Paraíso fulgente ao Purgatório crepuscular, se contraíram num
recolhimento de inexprimível amor e terror. E na estática mudez, a
vasta mão, através das alturas, lançou um gesto que repelia...

Então o Anjo, baixando a face compadecida, alargou os braços e deixou
caír, na escuridão do Purgatório, a alma de Frei Genebro."

Um excerto de
Frei Genebro
Contos
EÇA DE QUEIRÓS
Projecto Gutenberg

"SABEM VOCÊS QUEM ELLE ME LEMBRA?"

"...
-Pois eu tenho estudado muito o nosso amigo Gonçalo Mendes. E sabem vocês,sabe o Snr. Padre Soeiro quem elle me lembra?
-Quem?
-Talvez se riam. Mas eu sustento a semelhança. Aquelle todo do Gonçalo,a franqueza,a bondade,a imensa bondade,que notou o Snr. Padre Soeiro... Os fogachos e enthusiasmos,que acabam em fumo,e juntamente muita persistência,muito aferro quando se fila à sua ideia... A generosidade,o desleixo,a constante trapalhada nos negocios,e sentimentos de muita honra,uns escrupulos,quase pueris,não é verdade?... A imaginação que o leva sempre a exagerar até à mentira,e ao mesmo tempo um espirito pratico,sempre attento à realidade util. A viveza,a facilidade em comprehender,em apanhar... A esperança constante n'algum milagre d'Ourique,que sanará todas as difficuldades... A vaidade,o gosto de se arrebicar,de luzir,e uma simplicidade tão grande,que dá na rua o braço a um mendigo... Um fundo de melancolia,apsar de tão palrador,tão sociável. A desconfiança terrível de si mesmo,que o acobarda,o encolhe,até que um dia se decide,e apparece um heroe,que tudo arrasa...Até aquella antiguidade de raça,aqui pegada à sua velha Torre,ha mil annos... Até agora aquelle arranque para a Africa...Assim todo completo,com o bem,com o mal,sabem vocês quem elle me lembra?
-Quem?...
-Potugal.
...".

Um excerto,quase no remate,de A Illustre Casa de Ramires,de
EÇA DE QUEIROZ
Décima Primeira Edição
1941

O LOBO E A OVELHA

O lobo estava muito velho e achacado. Já não podia andar lá na sua vida como antigamente. Por sorte,tinha amealhado o suficiente para não trabalhar. Teria morrido de fome. De vez em quando,saía da sua toca para dar um passeio ou ir às compras. Acabara naquela altura de se abastecer e descansava um pouco,pois os sacos pesavam.
Quem é que havia de lhe aparecer? Uma ovelha,ainda activa,mas um tanto gasta,com quem,em tempos,tivera um caso. Lembrava-se bem dela,mas ela não o reconheceu. A ovelha era muito comunicativa e deu-lhe para parar e pôr-se ali à conversa.
Então,já está reformado?,assim como que a insinuar que gostaria de estar como ele. Já lhe custaria a andar para ali de um lado para outro,a fazer pela vida. Pode-se saber com quem estou a falar? Olhe,sou o lobo que quase a ia comendo numa tarde de inverno,há muito tempo. Mas iso era coisa passada,de resto sem consequências de maior. Tinha sido,até,uma mera brincadeira,só para aquecer. Ele ia lá fazer-lhe mal.
Tão confiada ficou a ovelha que lhe ofereceu a casa. Se lhe calar um dia,terei muito gosto em o ter lá. Moro ali adiante,quase no topo,por causa das vistas. Não se sabe porquê,mas ao lobo nunca calhou passar por lá.

FRUTO DE ALMA

Que obra aquela que ali fora levantada. De rocha dura,o esforço de muitos braços fizera aquela monumental escadaria. Foram braços de homens que a História,
individualmente,não regista,mas que não esquece. Parte desse esforço,talvez a sua maior parte,terá sido fruto de alma,que o corpo,só,não daria conta de tal recado.

sábado, 12 de junho de 2010

O MESMO DISCO

O trabalho arrastava-se,pelo que dava ocasião a alguma conversa. Mas por onde quer que se começasse,era certo e sabido que se acabava por esbarrar nas suas vidas. Quase não importava a idade.
Então senhor Joaquim, tem ido muitas vezes à cidade? Mas que pergunta. Que ia eu lá fazer? O que há aqui na terra já me chega. As coisas lá não são mais baratas.
Não é disso que se trata. Se tem lá ido passear,ver as vistas? Que me interessa a mim isso? Não ficaria mais rico,antes pelo contrário. O dinheiro não me sobeja para luxos. As poucas vezes que por lá andei,foi por necessidade. Na primeira,por causa das sortes. Mas essa já lá vai há um ror de tempo,e dela pouco me lembro. Depois,foram algumas doenças. Tive de ir ao hospital visitar familiares e amigos. A que lá me levou mais vezes foi a doença do meu pai,que Deus já lá tem. Uma operação obrigou a um internamemto demorado. Para lá chegar,tinha de atravessar muitas ruas,mas, se quer que lhe diga ,achei-as todas iguais.
Para além disto,vinham as preocupações quanto ao futuro Que seria deles quando já não pudessem trabalhar? Ralava-os a magreza das reformas que iriam receber. Como é que nos iremos arranjar,se agora é o que se sabe? Os achaques rondam-nos,e quando lá chegarmos estarão bem instalados. Quem nos pagará os remédios?
O disco era quase sempre o mesmo. De alguma coisa se havia de falar ,e eram as
suas vidas o que eles melhor conheciam.

AJUDA

É verdade que tive uma grande ajuda,mas olhe que sem ela também lá chegava,isso lhe garanto.

POPULAÇÃO E BENS ALIMENTARES

O crescente aumento da população implica um crescente aumento da necessidade de bens alimentares. A agricultura tem de estar,pois,preparada para esta realidade. Assim,entre outros aspectos,há que estar atento à salinização das áreas regadas,grandes fontes de alimentos,há que procurar mais altas produtividades,recorrendo,sobretudo,a cultivares mais produtivas,há que usar cada vez menos bens de consumo para biocombustíveis,há que cuidar mais dos solos,procurando não degradá-los,há que explorar a colaboração de bactérias e fungos,na perspectiva da fixação de azoto atmosférico e da mobilização dos nutrientes,em especial,do fósforo.

GEOTHERMAL HEAT - ENERGIA GEOTÉRMICA

Essa muito menos referida energia renovável,a pensar,sobretudo,em África,onde existe uma grande potencial fonte,o Rift Valley. São ecos disso o que adiante vai,retirado da web.

"As recentes pesquisas geológicas demonstram que Moçambique, Malawi e a Tanzânia possuem um enorme potencial para a produção de energia geotérmica, o que poderá ajudar a região da Africa Austral a reduzir consideravelmente a sua dependência na energia hidroeléctrica e combustíveis fósseis."

"Most of Africa’s geothermal resources are located in its Rift Valley, one of the geologic wonders of the world. The Rift Valley spans roughly 3,700 miles (6,000 kilometers) across East Africa and runs through Kenya, Ethiopia, Djibouti, Eritrea, Tanzania, Uganda, and Zambia. It’s here that geologists observe firsthand how continents break apart and draw hot magma toward the surface. Scientists are studying the volcanic activity in the area for human hazard potential while power companies compete for the enormous geothermal resources created by the magma reservoirs".

UM FUNGO MICORRÍZICO PARA O ARROZ

É sabido que uma boa parte da população do mundo,cerca de três mil milhões,tem o arroz como base do seu sustento. Por outro lado,são conhecidas as preocupações quanto às reservas mundiais de fósforo,um elemento vital. Assim,é benvindo tudo o que contribua para o incremento da produção de arroz e da disponibilidade de fósforo nos solos. É,pois,do máximo interesse,o trabalho,em fase de acabamento,da Universidade de Lasusana,sobre um fungo micorrízico para o arroz.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A VEGETAÇÃO DESLOCA-SE

As coisas que se vão lendo. A vegetação por esse vasto mundo está-se deslocando no sentido dos polos e trepando as montanhas,fugindo do calor. É o que consta das conclusões,há dias noticiadas,de uma colaboração da Universidade da Califórnia,
Berkeley,com o Serviço Florestal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

CINZAS DE MUITAS ERAS

Como se sabe,quem diz petróleo,ou gás natural,ou carvão mineral,diz carbono aprisionado há milhões de anos,ou seja,carbono que, durante esse muito longo tempo,deixou de figurar no seu ciclo activo,dormindo como que o sono dos justos. Permitiu isso,como é sabido também,uma boa parte do oxigénio que anda por aí.
Continuados sedimentos oceânicos,restos de vidas de todos os tamanhos,com acentuação dos microscópicos,estiveram na origem desses materiais fósseis. Tendo consciência disso,muito incomodados deverão estar os parentes actuais dessas vidas de épocas longínquas,quando algum derrame de petróleo se estiver a dar mesmo ali à sua vista. É que eles estarão a ver as cinzas dos seus muitos antepassados de muitas eras.

MALTRATADO

Quem liberta,sem garantir o pão,arrisca-se a ser maltratado.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

SOBRE OS MICRONUTRIENTES FERRO E MANGANÉSIO

O ferro e manganésio estão sujeitos,como se sabe,a diferentes estados de oxidação. Quando a reacção do solo é ácida,pode ocorrer um excesso de ferro activo em plantas,ou seja,de ferro bivalente. Para isso suceder,tem de a forma trivalente,no geral,a mais comum,ser reduzida,quer dizer,captar um electrão, ou, por outras palavras,que haja um redutor que o forneça. Ora,o potencial de oxidação do manganésio é mais elevado do que o do ferro,pelo que a presença de manganésio mais assegurará,e tanto mais, quanto maior a sua quantidade,essa transferência. Do mesmo modo,um baixo teor de manganésio pode induzir uma clorose férrica,não por falta de ferro,mas porque o ferro trivalente não passou a bivalente,a forma activa,na quantidade necessária. Quando a reacção é ácida,a tendência é para o manganésio estar na forma bivalente,que é a forma assimilável,ao contrário do que sucede com outros estados de oxidação. Alguns microorganismos promovem a sua oxidação em meio ácido,sendo isso facilitado em boas condições de arejamento. Por esta via,pode ocorrer também a redução de óxidos,desde que,naturalmente,a tensão de oxigénio seja baixa,como em condições de encharcamento. Perante tudo isto,a disponibilidade,tanto do ferro,como do manganésio,está sujeita,pois,a um condicionalismo complexo,em que intervêm potenciais de oxidação,o pH,microorganismos,níveis de oxigénio. Assim,numa "selva destas",muito fácil é cometerem-se erros.

MUITO FRUTO

Muito pouco,ou mesmo nada,interessava que aquelas terras não lhe pertencessem. Bastava,apenas,que elas lá estivessem,bastava tê-las visto e sentido,bastava recordá-las. O frémito de vida intensa que delas brotava enchia-o,irresistivelmente,de bem estar. Era uma vida que não se cansava de desentranhar em muito fruto,que iria saciar muita gente.

DA CABEÇA AOS PÉS

Ia ali o homem muito preocupado. Não era para menos. Como é que se teria comportado, naquela medonha noite, a sua querida amendoeira? Fizera um vendaval dos diabos e o resultado estava bem à vista. O caminho encontrava-se juncado de folhas e de raminhos. A primavera ainda mal começara e a vegetação não ganhara vigor para altos feitos.Era esta amendoeira a única que restava de uma meia dúzia que em tempos ali fizera pela vida. Tinham ido desaparecendo a pouco e pouco,umas por doença,outras por capricho dos jardineiros. Enamorara-se dela e,sempre que por ela passava,gostava de a observar com detença,da cabeça aos pés.Teria ela suportado aquelas violentas vergastadas? Pois teve uma grande alegria. Estava ali sã que nem um pêro. Apenas uma ou outra folhinha voara. Ainda que para ali sozinha,soubera resistir à dura intempérie. Deve-lhe ter dado muito trabalho e muitas ralações,pois,naquele ano,os ramos quase que vergavam,a tanta novidade. Dava gosto vê-los. Bem encostadas umas às outras,as amendoinhas lá conseguiram escapar de uma queda,que seria fatal. Talvez por isso,parecia ao homem ouvir por ali cantares de grande vitória.

MEIO TERMO

Ou oito,ou oitenta. Haverá meio termo?

ESSE JEITO

Faça lá esse jeito,que,depois,nunca mais me esquecerei de si.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

ERA O TALHÃO

Era uma maneirinha courela,de chão de areia pliocénica,a cavaleiro da lezíria.Havia por lá de tudo. Havia uvas,figos,pêssegos,melões ,marmelos,melancias. Mas o que registado mais ficou foram folhas de figueira,pelo seu branco latex. Ia-se para lá de carroça. Era o talhão.

EM VÃO

Estava o moço em casa,no verão,cansado de não fazer nada,quando lhe bateram à porta. Era um amigo,com um táxi ali à espera. Despacha-te que temos de ir para longe. Voltamos ainda hoje.
O amigo fora sempre de entusiasmos repentinos,facilmente alimentados,ainda que metessem grandes despesas. Abalara-o, em tempos ,forte contrariedade,estando,até,internado,mas,
aparentemente,recompusera-se.
A viagem destinava-se a visitar alguém que ele muito estimava. Lá chegaram. Na terra havia festa e esse alguém era um dos promotores. A festa demorou e tiveram de ficar.
No regresso,tudo se complicou. O amigo,afinal,não se recompusera devidamente. A certa atura,de noite,aproveitando uma paragem,desapareceu. Ainda se procurou,mas em vão. Foi encontrado,dois dias depois,quase nu.

EM SENTIDO

Sabe com quem está a falar? Ora vamos lá a põr-se em sentido.

DESDE NASCENÇA

Tem toda a razão,só assim é que isto se endireitava. Mas olhe que vai ser muito difícil,que isto,a bem dizer,está assim desde nascença.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

VALOR ACRESCENTADO

Ali não tinha chegado a guerra,mas da guerra não se livraram de todo. A comida minguara. E,assim,nasceram as senhas de racionamento.
Quem se habituara a papar o que tinha na vontade,as senhas eram de menos. Para aqueles que sempre tinham apertado o cinto,as senhas eram de mais. E estes,alguns pelo menos,vá de as vender com valor acrescentado. Abrira-se a estes uma novidade. É que nunca lhes teria passado pela cabeça virem,um dia,a ser negociantes.
Havia,porém,uma outra forma de abastecimento,reservada só a amigos dos produtores. É que estes não vendiam tudo,ficando com as suas reservas. Era,no entanto,uma saída de alto risco,pois a fiscalização não brincava em serviço. E assim,só os muito habilidosos conseguiam escapar à sua apertada malha. Aos outros,retilham-lhes,pelo menos,as mercadorias.
Mas não passava tudo isto de uma questão de comida,que se podia remediar,melhor ou pior. Não uma questão de vida,que essa,uma vez perdida,é sem remédio.

ABISMOS

É de fugir das beiras,pois está-se sempre em risco de cair nos abismos.

DOENÇA

Havia dias em que não lhe apetecia ir trabalhar. Então,inventava uma doença.

terça-feira, 1 de junho de 2010

DEFICIÊNCIA DE FERRO EM PLANTAS E FUNGOS DOS SOLOS

Como se sabe,é frequente a deficiência de ferro em plantas,quando os solos são alcalinos,como os calcários. Resulta isso, do facto do ferro se encontrar muito pouco solúvel,ou seja,muito pouco disponível. Nem todas as plantas,e, também, nem todos os solos,porém,se comportam de igual maneira. Uma das razões parece dizer respeito à acção de fungos.É que a maior parte dos fungos sintetizam sideróforos,ou seja,
substâncias que formam complexos solúveis com o ferro,de alta estabilidade. Se esses fungos estabelecerem com as raizes das plantas associações simbióticas,a sua nutrição
férrica estará,obviamente,ainda mais facilitada.

DISCRETOS

Ali iam eles,um tanto enfiados,rua abaixo,ela,com sinais evidentes de ter conhecido homem, certamente,o que caminhava a seu lado. Traziam séquito. Talvez a família mais chegada,talvez alguns amigos. De tão silenciosos,parecia aquilo um funeral. O galo não cantara ainda. Teriam querido ser discretos,passarem despercebidos. O conservador seria boa pessoa,pelo que não se importaria,volta não volta,de se levantar de madrugada. Como mudam os tempos.

OBRA

Eles,agradecerem a memória,ou a inteligência,ou seja lá que prenda for,que lhes coubera,de mão beijada ? Era o que faltava,pois era tudo obra deles.

LÁPIS

Então,tem tido muitas ajudas? Sim,de vez em quando,dá-me uns lápis,lá para o rapaz.