sábado, 26 de junho de 2010

MEIA DÚZIA DE BONÉS

Deixara-se ficar para o fim,vá-se lá saber porquê. E acabou por ganhar,pois apanhou o revisor do comboio com a boca na botija. Sobraçava ele um gigante pacote de café,um tanto escondido,mas com o rabo de fora. Que indiscreto cheiro o café tem. Naquele tempo e naquele lugar,era aquilo um grande atrevimento,pois tratava-se de mercadoria muito disputada e vigiada. Quer dizer,o senhor revisor estava infringindo a lei,e de que maneira. Enfim,coisas que acontecem.
Mas era este revisor um homem muito rigoroso. É que não fora capaz de fazer vista grossa com um pobre candongueiro. Ora levante-se lá. O pobre do velhote,pois era mesmo um velhote,de cara muito enfiada,com carita de fome,teve de obedecer. E o que é que se viu? Que marreca a dele. Levava,entre a camisa e o mirradinho corpo, uma meia dúzia de bonés,matéria também sujeita a fiscalização. E lá ficara o pobre com o negócio estragado.
É assim com sabe-se lá quantos. Muito severos com os outros,mas muito brandos consigo. É a vida,não há nada a fazer.

Sem comentários: